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A festa da democracia

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Bota o retrato do velho outra vez
Bota, no mesmo lugar
O sorriso do velhinho
Faz a gente trabalhar
Eu já botei o meu
E tu não vais botar?
Já enfeitei o meu
E tu vais enfeitar?
O sorriso do velhinho
Faz a gente se animar
A marchinha de autoria de Haroldo Lobo e Marino Pinto, composta para a comemoração da vitória de Getúlio Vargas em 1950 na campanha para a presidência é o sumo no século 20. Aliás, o caldo da cultura política brasileira até hoje. O sucesso do carnaval de 1951 irritava o presidente que não gostava de ser chamado de velho, mas representa a felicidade do povo que elegia o Pai dos Pobres 6 anos depois do fim da ditadura do Estado Novo.

Aos olhos de hoje, o fascismo getulista pode parecer um pouco fora de tom, já que 5 anos antes a Segunda Guerra Mundial terminou, na Europa, com os regimes de Hitler e Mussolini, ícones do fascismo. Contudo, abaixo do equador o que se lembrava era o voto feminino em 32, Gustavo Capanema a frente da Educação e da Saúde Pública, a riqueza que tende a afluir para as beiras do mundo quando o centro resolve se envolver em guerra. A tortura, a censura, a perseguição nunca marcaram muito combatidas porque na primeira metade do século 20 ninguém se importava muito com os comunistas que eram perseguidos pela situação e pela oposição. Não podemos esquecer que o mais vocal opositor de Getúlio, Carlos Lacerda, apoiou o Golpe Militar de 64.

O fato é que a história política do Brasil é, como a política em si, extremamente complexa e repleta de nuances, mas acredito que hoje não seja o assunto da pauta. Pensei muito no que escrever para a publicação de hoje. O que escrever no dia da eleição? Ainda mais uma eleição presidencial que está sendo observada com olhos atentos por todos no país e no mundo. Bem, a essa hora deixamos os santinhos de lado e nos apegamos ao terço. A campanha, em sua grande parte, acabou. E agora? Bem, somos brasileiros, então Festa!

Cresci ouvindo os relatos das minhas tias, costureiras das madames da sociedade, que costuravam para situação e oposição. As histórias de Zélia, amiga delas e de família de políticos, contando as histórias das brigas que travava com os candidatos à beira do palanque. Seu marido, Dr. Wilson, fugia, à francesa, para a casa das minhas tias, esperando, pacientemente, que a esposa terminasse de desfiar seus desaforos com o candidato da oposição.

Meu avô doava bois para os candidatos da UDN fazerem grandes churrascos nos seus comícios. E meus pais me deram a possibilidade de descobrir minha agorafobia durante as campanhas municipais. Completamente avesso às multidões, me escondia debaixo da mesa da sala de jantar enquanto os políticos discursavam em cima de alguma caminhonete no terreiro de casa. Também já vi minha mãe pôr para fora, quase a vassouradas, uma candidata à prefeita e seus acólitos. A filha do amigo prefeito coligou-se com a oposição, mamãe não.

Eleições, de tempos imemoriais para mim, sempre foram dia de roupa nova, festa e muita bebedeira, seja para comemorar ou afogar as mágoas. De fato, o dia da festa da democracia. Hoje podemos tomar como garantido nosso voto, mas nem sempre foi assim. Minhas tias nasceram antes das mulheres poderem votar e viram, ainda mocinhas, surgir esse direito. Minha mãe que morou até os 19 anos no Distrito Federal, só tirou seu título de eleitor em 1975 quando se mudou para Paraíba, onde havia eleições.

Eu mesmo, nos meus, nem tão tenros, 28 anos, vi um metalúrgico ser posto no cargo mais alto do país, a primeira mulher ser eleita Presidente da República, vi Golpe de Estado, guinada à direita, crises financeiras e sanitárias globais, e a cada suspiro o voto e a participação popular pareciam que poderiam ir embora. Não foram. Ainda.

Então, no dia das eleições, votemos e celebremos que podemos votar e que a democracia existe. Vamos celebrar a vitória de nossos candidatos, ou comecemos a nos preparar para aporrinhar a oposição pelos próximos quatro anos. De um jeito ou de outro celebremos a democracia, o poder do povo de pôr e tirar do poder quem lhe convém, celebremos a alternância do poder, a renovação dos poderes. Celebremos o fim, começo, a mudança, enfim, celebremos a democracia!

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