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Só uma mulher

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Antes de iniciarmos nossa reflexão desta semana, quero agradecer aos mais de 12 mil leitores, que acessaram nosso artigo na semana que passou. Também, gostaria de dizer que nossa responsabilidade tem aumentado a cada dia, com os temas que aqui trazemos.

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Inicio a reflexão desta semana tratando sobre as vivências desse século e do passado, que não me parecem tão diferentes. Resolvi escrever este texto estimulada por algumas falas, um pouco desconfortantes, mas sem dúvida reveladoras, de mulheres que me chegaram como imagens de um filme visto há tempos. Confesso que não tinha parado para pensar, como ainda a sociedade nos vê e nos cobra, por sermos mulher.

Falo sempre que, quando estou à procura de um tema para ser abordado neste espaço, alguns “sinais” me são apresentados, como se alguém me dissesse: “olha, isso que precisa ser pensado”. Garanto que não estou exagerando, nem afirmando que os temas que tento apresentar sejam normas a serem seguidas, ou são a minha verdade, ou a verdade absoluta. É apenas a forma que tenho de trazer, ao nosso público, assuntos do cotidiano que precisam de alguma reflexão. Quem sabe, se alguém que tem vivenciado o problema, ou algum leitor ou leitora que, ao lê-lo, possa despertar para o aqui e o agora, ou até mesmo compreender alguma coisa de seu passado.

A primeira fala que me fez despertar foi a de uma amiga de meu filho, quando numa conversa descontraída, ela diz da cobrança de sua família, por ainda não ter casado. Vocês não imaginam como essa fala, me fez retornar aos meus 23 anos. Sou a neta mais velha das duas famílias, mas por parte da família de minha mãe, essa cobrança nunca existiu, até mesmo porque, dos 8 filhos que sobreviveram às intempéries do tempo – estou falando do início do século 20- 05 são mulheres e apenas duas se casaram e só nossa mãe, teve filhos. Portanto, não se cobra este tipo de acontecimento em nossa família materna. Já na família paterna, a situação é bem diferente. Voltando ao meu caso, no dia do meu casamento, meio tumultuado por algumas razões desconhecidas, minha avó, claro, a mãe de meu pai, saiu com a seguinte pérola: Até que enfim desencalhou. Ou seja, desencalhei aos 23 anos. Na idade que ainda não sabia muita coisa do mundo, nem como nele me situar. Já estava no mercado de trabalho dede os 14 anos, não por ser moderna, mas por necessidade financeira mesmo.

Confesso que, naquele momento que ouvi a fala de minha avó, a vontade que tive foi de sair correndo. Pois além de “está desencalhando” ouvi um segundo “elogio”, pois não casei de véu e grinalda, como todas as filhas dela. Além de encalhada não era mais virgem. Para mim, tais aparatos, são muito bonitos, mas não faziam parte da cerimônia simples que escolhi, nem tampouco, de mim. No meu entender, em nada contribuiria para que eu fosse mais ou menos feliz. Sempre tive em mente que o que importa nesta vida é ser feliz. O restante, são ajustes necessários para que essa felicidade aconteça.

Como falei anteriormente, que para contribuir com a nossa proposta de reflexão, aparece sempre uma reportagem, um filme ou um livro que me oferecem dados que contribuem para enriquecerem os temas que abordo. Nesta semana, além da fala já referida, vi em um Canal de Televisão, uma reportagem sobre ser mulher. A matéria, tinha o formato de uma entrevista para pesquisa, sem ainda, terem sido trabalhados os resultados. Muito interessante. Vi e ouvi a fala de umas nove mulheres de idades bem diferentes. E, todas elas me marcaram muito.

Para facilitar minha forma de apresentar, vou enumerá-las e, não falar seus nomes:

A mulher número 01, com uma idade já avançada, mas nem por isso, menos interessante. Bem maquiada, bem vestida, com seus lindos cabelos brancos, bem tratados e arrumados, ao ouvir a pergunta sobre ser mulher, ela responde: ” Mulher tem que se cuidar, tem que estar sempre bem arrumada, bonita, – se não, o marido vai procurar outra”. A segunda, ou seja, a de número dois, apesar de ter uma aparência diferenciada, aparentemente com idade próxima a de número 01, nem por isso, menos elegante, fala: “ Mulher nasceu para casar, ter filhos, cuidar da casa e do marido: eu já estou livre de tudo isso”. Uma terceira, essa bem jovem. Pela aparência, aluna de segundo grau. Diante da mesma pergunta, a resposta dela foi: “Ah! Eu não quero ter filho não, dá muito trabalho. Minha irmã tem filhos e eu sei o trabalho que dá”.

Em todas essas falas, identifico uma visão da mulher, com ideias que acredito serem ainda da época de minhas avós. Mulheres que não atentavam para seu papel como pessoas dignas de direitos, apenas deveres e uma total ausência de empoderamento. Apenas uma criatura, que nasceu para servir e ser submissa.

É exatamente em função de pensamentos como este, que podemos identificar o quanto a mulher continua se submetendo a um papel coadjuvante na sociedade. Se fizéssemos uma grande pesquisa, considerando termos percentuais, quantas mulheres têm a verdadeira noção de seu poder e de seus direitos?

Nos impressiona, ainda, este tipo de postura perpetuada por uma sociedade machista que incute na falta de interesse por parte das jovens, de saírem do mundo das telinhas, e procurarem um tipo de leitura/conteúdo que as façam pensar e repensar seu papel enquanto mulher. Acredito, ainda, ser muito oportuno à sociedade machista ter a mulher apenas como um produto de luxo, para quem possui recursos financeiros para bancar um corpo. Com belos corpos e mente vazia. Não estou afirmando que isso seja regra, mas se pararmos para pensar, existe um número maior de mulheres que usam tempo para o aperfeiçoamento do seu aspecto externo que o interno. Ainda, há uma mídia e uma indústria que estimulam essa visão, apresentando mulheres encantadoras, do ponto de vista da beleza, mas que nunca pararam para ler um clássico da literatura, nem tampouco conhecer autores e histórias de nossa cultura.

 

A jovem, conduzida por uma sociedade que deturpa os valores da mulher, que a “seduz” a não buscar a cultura, que não esclarece e que pode lhe transformar numa mulher de poder, na maioria das vezes, vem de famílias em que as mães e avós também foram submissas e não tiveram a oportunidade de se es esclarecer para crescer.

Sempre que tenho oportunidade, e esse é um espaço importantíssimo para isso, procuro estimular, na jovem mulher, a procura de sua liberdade de todos os domínios de sua vida. Isso, só se tornará possível, se ela compreender que depende dela, essa busca por um futuro melhor, que ela é dona de seu próprio destino pode fazer suas escolhas. Bem como, gosto sempre de lembrar que não existe “tarde demais” para a mulher. Muitas de nós viemos de uma época mais difícil, com mais barreiras, mas isso não pode nos impedir de aproveitar o hoje.

Em uma de minhas viagens a Brasília, tempos atrás, tive a oportunidade de assistir uma conferência do Sociólogo Domenico De Masi, cuja abordagem me encantou. Em sua fala, ele enfatizava que a mulher, em busca de sua independência, deixou muito de sua feminilidade para trás, como se, para ser forte e independente, precisasse apresentar um estereótipo masculino, inclusive, no seu modo de vestir. A cultura da mulher bonita e burra está tão impregnada em nossa sociedade, que muitos homens ao verem uma mulher culta, dificilmente se aproximam com intensões amorosas, talvez a inusualidade de uma mulher em um papel “masculino” os deixe desconfortáveis. Muitas vezes tendo a mulher que diminuir, como disse De Masi, sua feminilidade para ser levada “a sério” no mundo masculino. Sendo a mulher “feminina”, aquela que apresenta atributos físicos desejáveis, o caso contrário. Essa mulher, de cara, é subestimada. Ou somos inteligentes e capazes ou somos belas. Impossível se ter tudo.

Não são nossos corpos, sem importar a idade que apresentamos, que nos fazem mulheres melhores. O que nos faz sermos respeitadas e consideradas, deveria ser a nossa postura, nossa forma de viver, nossa cultura. Podermos dizer não, quando for não; sim quando for sim. E se esse sim se tornar uma forma abusiva após sua conquista, deveríamos poder sair do que não nos eleva. Seja um emprego, um relacionamento, ou um mesmo, seu espaço de vivência. A mulher precisa lembrar, ainda, que é ela que prepara seus filhos homens. Ensine-os a respeitarem todas as mulheres, inclusive lembrando-se que ela, como mãe, é a primeira que precisa ser valorizada.

Me refiro, ainda, ao espaço da política partidária. Por que será que as mulheres não têm interesse em participar? Será que não temos “peito” para enfrentar um grupo de homens, que não aprenderam ainda o valor da mulher? As mulheres que estão exercendo qualquer que seja o cargo político, devem ser daquelas guerreiras preparadas para intensos conflitos. Sim, é uma guerra, que nem todas estão preparadas para disputar. No entanto, não se fala das manobras feitas pelos homens que lá estão. A exclusão das mulheres já tem início no processo de escolha para as convenções. Quem já passou por esse processo, sabe do que estou falando. Mas precisamos, nós mulheres, formarmos uma corrente para o empoderamento das que podem nos representar. Das que aguentam o tranco neste cenário tão desigual e tão desrespeitoso para as mulheres.

Nisto, também, precisamos nos unir e defender nossos direitos e mostrar nossa capacidade de resistência. Só, nós, mulheres, podemos mostrar esse valor, e tomar a dianteira dessa história.

Mas precisamos ainda percorrer um longo caminho. O auto respeito, a dignidade e o conhecimento, que deveriam ser o suficiente para nos colocar em lugares de destaque numa sociedade que, contudo, ainda vê a mulher como um objeto, assim como um móvel necessário, não só para adornar uma casa, mas também que possa produzir filhos e deles cuidarem.

 

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1 COMENTÁRIO

  1. Parabéns, Neves Couras, pela artigo “Só uma mulher”. Segue um comentário que poderá contribuir para suas novas “reflexões”.

    Realmente, no passado, a mulher era “criada” para cuidar da “casa”. O homem era “criado” para o trabalho externo no sentido de prover a “casa” daquilo que era preciso. Era uma divisão de tarefas.
    No entanto, a mulher e o homem, JUNTOS, deveriam cuidar de um LAR.

    Hoje, essa “divisão” vem sendo JUSTAMENTE contestada, com as “tarefas” re-organizadas, mas precisando serem executadas de alguma forma.

    Finalizo com a “opinião” de que deveríamos JUNTAR ao invés de DIVIDIR.

    Um GRANDE abraço,

    Herivelto Bronzeado

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