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Estamos novamente com fome!

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Fonte: https://www.agazeta.com.br/brasil/pesquisa-aponta-que-fome-atinge-331-milhoes-de-pessoas-no-pais-0622

Uma das palavras mais tristes para o ser humano: a fome. Para quem não sabe o que é acordar sem ter um pedaço de pão ou um copo de café para tomar, jamais saberá o significado desse tema. Por mais que eu não tenha como propósito, nesta coluna, de falar de política partidária, não é possível deixá-la de lado quando nos referimos à política social.

Em relação à vergonhosa posição deste governo em relação às políticas sociais, sei que muitos levantarão a voz para dizer: qual a novidade? Realmente não é a primeira vez que acontece, fome em um país que é um dos maiores produtores de alimentos no mundo. Contudo, qual seu papel como ser humano, diante dessa situação? A classe mais rica desse país, e defensora dessa política de governo, certamente, não procura tomar conhecimento, nem tampouco tem a mínima preocupação com tal assunto. Quando um empresário que vai a um belo restaurante com seus amigos para comer, beber e aliviar um pouco seu estresse, ao chegar a conta com valores acima de um salário mínimo, considera isso apenas um pequeno valor que certamente, não lhe faltará para nenhum pagamento de contas ao final do mês.

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Será que algum desses, já parou para pensar que a maioria de seus empregados, passa o mês todo produzindo para ele, e quando recebe seu salário, não dá para as compras do mês, enquanto ele paga um valor maior que esse, em apenas uma refeição?

Vou trazer, à título de curiosidade, uma informação publicada no ano de 1946, numa obra chamada “Geografia da Fome”, de um autor chamado Josué de Castro, para muitos não passa de um “comunista”, como fala uma população tão pouco esclarecida que identificamos em nosso país. Falam-se termos como se fossem jargões, sem mesmo saber o que significam. Josué de Castro, pernambucano, foi um médico, nutrólogo, professor, geógrafo, cientista social, político, escritor e ativista brasileiro do combate à fome, escreveu uma das mais importantes obras para nosso País, mas poucos o conhecem ou à sua obra.

Josué de Castro fala de fomes, e traz a seguinte citação: “ A propósito do flagelo da fome, a que ontem aludíamos o novo diretor da FAO, o técnico holandês A. N. Boehns, declarou que a escassez mundial de alimentos é a pior crise que se registra desde a Segunda Guerra Mundial” essa citação, é apenas para irmos vendo situações em tempos diferentes; posteriormente, no mesmo documento, é dito que “estudos científicos a respeito desse problema trágico da humanidade , e que afeta de modo tão desastroso o nosso pais, mostrou claramente a interdependia entre problema sanitário da população, cuja fonte é primacialmente de natureza alimentar, e o problema socioeconômico da estrutura política da nacionalidade”. O autor garante que a fome em nosso país remonta a causas originais de subalimentação endêmica desde o início da colonização. E acrescenta:

“A fome, no Brasil, é consequência, antes de tudo, do seu passado histórico, com os seus grupos humanos sempre em luta e quase nunca em harmonia com os quadros naturais. (…) E fraqueza potencial diante da fortaleza e da independência dos senhores de terras, mandachuvas em seus domínios de porteiras fechadas… consequência dessa centralização absurda e da política de fachada da República foi quase abandono do campo e o surto da urbanização… que não encontrando no país nenhuma civilização rural bem enraizada veio acentuar de maneira alarmante a nossa deficiência alimentar”

Se faz necessário lembrar que a situação citada pelo autor se referia aos anos 40 do século passado. Algumas coisas continuam as mesmas, outras avançaram. Por exemplo, após a democratização, houve um avanço com relação a democratização da terra, que se acentuou nos governos do PT (2003-2016), e claro, com essa democratização do acesso à terra, o financiamento voltado para pequenos produtores, o surgimento do conceito de “agricultura familiar”, a situação melhorou muito. Outras situações, contudo, permanecem até piores, como é o caso da força, que ele atribui aos donos de terras, que neste último governo, foi mais acentuada, alçando os poderes políticos, fortalecendo “bancadas” de representantes dessa classe.

Do ponto de vista da classe trabalhadora, verificamos muitos avanços, também nos anos do governo que tinha à sua frente um trabalhador. Tenho várias críticas a esse governo, mas não posso deixar de falar dos avanços da classe trabalhadora, dos acessos dados aos mais pobres, que se tornaram inclusive críticas de alguns políticos, que não aceitavam que as empregadas domésticas, tiveram poder aquisitivo “para andar de avião”. Coisa que só era permitido às classes mais abastadas da população.

Não podemos deixar de falar ainda, que após a democratização, em função do descontrole da economia e das altas taxas da inflação, a fome voltou muito fortemente ao nosso país. Quem não viveu nesse período, não sabe de uma pesquisa feita pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, que montou o Mapa da Fome em nosso pais.

Nos anos 1980, em função da deterioração da situação social do país, à instabilidade econômica, às elevadas taxas de inflação que prevaleceram quase todo período e à manutenção de índices de desigualdades extremamente elevados, favoreceram a queda do chamado PIB per capita, a porcentagem do Produto Interno Bruto do país correspondente por habitante, e o aumento absoluto dos contingentes de pobreza. Mas, esse período ainda não foi o pior, entre os anos de 1990 e 1992 a situação se agravou profundamente. Passamos por uma enorme recessão causada por utilização de políticas de estabilização fracassadas, restrição monetária e corte significativo dos gastos públicos principalmente, federais, que tivemos como resultado um grande aumento das taxas de desemprego nas regiões metropolitanas, deterioração dos serviços públicos de natureza social, diminuiu, ainda, a arrecadação, e a evasão fiscal atingiu níveis alarmantes. Assim, ao final de 1992, o PIB caiu a índices inferiores a 1989, ou seja, uma redução da ordem de 9% no PIB per capita.

Para concluirmos essa etapa crítica de nossa história econômica, o chamado Mapa da Fome, identificou por municípios os índices de indigência, e, no Nordeste, surgiram os dados mais alarmantes. O pior de tudo ainda foi o Estado da Paraíba, que contava com o município mais pobre da federação, ou seja, o maior índice de indigência se encontrava em São João do Tigre, com os menores índices de desenvolvimento humano do País.

Pude verificar, pessoalmente, a fome que abateu nossa gente. Encontrei famílias acampadas em áreas pobres perto de Campina Grande, nas quais pude ver a mãe de vários filhos colocar menos de ¼ de xicara de feijão no fogo, e com aquele caldo, acrescentava farinha para usar só a uma espécie de pirão para alimentar seus filhos. Me tornei uma pessoa extremante sensível a esses índices, porque deixavam de ser números. Para mim, surgiram crianças em extrema desnutrição e nenhuma qualidade de vida. Não sei se algum de nossos leitores, consegue saber o significado dessa realidade.
Mas, como uma bela história contada em livros, isso tudo passou. Será? Não! A ganância do homem não tem limites. Quando pensamos que o pior já tínhamos vivenciado, aparecem notícias como as divulgadas essa semana na Folha de São Paulo:

“De acordo com o levantamento realizado a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE, o índice de pobreza no Brasil aumentou em 11.2% de 2016 para 2017. Na prática, estamos falando de um aumento de 1,49 milhão de pessoas que passaram a conviver com até R$136 mensais. Se formos comparar com 2014, ano em que a crise econômica começou, esse número sobe para 53% de brasileiros vivendo na pobreza extrema”.

Será que a população que vive postando nas redes sociais, que são cristãos, com cada membro da família, expondo um rifle, como se tivesse expondo um troféu, sabe o que é pobreza extrema? Será que os empresários que pagam numa única conta de restaurante, o correspondente a mais de um salário mínimo, ou seja mais de R$ 1.100, reais, sabe o que é pobreza extrema?

Pobreza extrema, vai além do que não ter o que comer. Vai desde não ter um teto, um lugar para um banho, para se resguardar da chuva, do vento, do gelo, também não ter direito a um atendimento em um posto de saúde, a ir a uma escola, a viver nas ruas. Sei que muitos dirão: “E o que tenho a ver com isso? ”. Tem sim! Tem a ver com suas escolhas políticas, e com quem seus representantes escolhem para definir as políticas de educação, saúde e emprego. Migalhas, distribuídas, não são capazes de resolver problemas de ninguém. Precisamos urgentemente, deixar de ser egoístas, egocêntricos e pensar no outro. Quando uma parede é construída, e um dos tijolos, lá da base, enfraquece, todo muro fica comprometido. Não é de rifles, que estamos precisando, nem de políticas que dizem que apenas quem for forte sobreviverá. Isso é holocausto! Já ouviram falar nisso? Acredito que não. Mas, ainda temos tempo. Um minuto, se for bem aproveitado, pode salvar uma vida, salvar uma família, salvar uma nação. Hoje, você pode estar no pico da pirâmide, amanhã, não se sabe.

Não adianta construirmos mansões, colocarmos todo sistema de segurança que o dinheiro pode comprar, se seu irmão permanece fora, e pode lhe abordar a qualquer momento. Ah! São vagabundos, não querem nada com a vida. Será?

Pois bem, minha contribuição vem na forma de desabafo, mas se me for tirado o direito de me indignar com tanta maldade e tanta desumanidade, o que me restará como ser humano? Precisamos de menos mentiras, mais verdades e mais amor ao próximo. Foi isso que meu Pai me ensinou! Tento passar essa lição. Se alguém aprender, posso me considerar uma grande professora. Por que não tentamos?

 

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