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Leopoldina de Hasburg: de Arquiduquesa de Áustria a Imperatriz do Brasil

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A Dinastia Habsburg reinou na Áustria por seiscentos anos, graças a sua capacidade de renovar, reinventar e se adequar aos novos tempos que se iniciavam ciclicamente, moldava-se para sobreviver, só não sobreviveu mesmo às exigências dos Estados Unidos da América na discursão para o fim da Primeira Guerra Mundial; as condições norte-americanas para a trégua culminaram na dissolução do Império Austro-húngaro (1918), dividindo-o em diversas republiquetas independentes (Rezzutti, 2017). Assim como aconteceu com a América Espanhola nas primeiras décadas do século XIX.

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Durante séculos os Habsburg aumentavam seu território através de casamentos e não de guerras, pois além de custar caro financeiramente, ainda custava a vida de muitos dos seus vassalos. As alianças por meio de casamento deram as princesas da Casa da Áustria, em especial, do século XIX, um artigo de primeira grandeza, não era para qualquer um, pois, elas eram instruídas o suficiente para serem grandes estadistas. Foi nesse contexto que Leopoldina nasceu, cresceu e foi polida.

Estrategista, educada e preparada para manter o absolutismo nos trópicos que já estava com seus dias contados no velho mundo; Leopoldina casou-se com o príncipe herdeiro da Dinastia de Bragança para implantar no novo mundo um poderoso império, pois, os ideais liberais invadiam a Europa e tomavam conta de todo o Continente.

Com o objetivo de reorganizar a Europa após as guerras napoleônicas, foi realizado em Viena um congresso (1814-1815), presidido pelo o imperador da Áustria, Francisco I, pai de Leopoldina. Para Portugal participar do Congresso, a corte portuguesa teve que elevar o Brasil a Reino Unido de Portugal e Algarves. Foi nesse momento que o Brasil deixou oficialmente de ser Colônia e passou a ser a sede da Monarquia Portuguesa.

Durante o Congresso de Viena e já visando salvar o absolutismo, Francisco I da Áustria negocia o casamento da sua filha Leopoldina com Pedro de Alcântara, herdeiro do trono português. Quem sabe lá nos trópicos a Monarquia Absolutista poderia ser salva. Depois de extensas negociações, finalmente no dia 13 de maio de 1817, o casamento da arquiduquesa e do príncipe foi realizado por procuração. Ele no Rio de Janeiro e ela em Viena.

Estudiosa, comprometida e animada com sua nova vida nos trópicos, Leopoldina estudou português, preparou um grupo seleto de sábios, cientistas e artistas para estudar mineralogia e botânica no Brasil. Nomes renomados compunham sua expedição. Como: os zoólogos Johan Baptiste Von Spix (1781-1826) e Johann Natterer; os botânicos Karl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868), Johann Sebastian Mikan (1769 – 1844), e Johann Emanuel Pohl. Além do pintor Thomas Ender (1793 – 1875).

A arquiduquesa e sua comitiva saíram da Europa em agosto de 1817. Sua viagem foi longa e cansativa durou 85 dias. Quando finalmente, no alvorecer do dia 05 de novembro do dito ano, a Fragata Dom João VI deslizou nas águas geladas da Baía da Guanabara, contornando as ilhas em direção ao Porto; Leopoldina correu ao convés e ficou embriagada com tanta beleza: eis aos vossos pés o Rio de Janeiro – Seu novo lar.

Tudo naquele lugar refletia luz e cor. As montanhas e rochas erguiam-se em colunas formando desenhos que inspirava qualquer artista, o colorido das flores mais parecia uma aquarela combinando todas as cores e nuances, graduando tonalidades e colorindo a paisagem. O verde das folhagens que desciam das serras como cortinas não dava para explicar e nem classifica-los, nenhum idioma possuía palavras para todos os tons de verdes. Para uma botânica era o paraíso.

Inebriada, embriagada e estonteante com tanta beleza Leopoldina despertou dos seus pensamentos com as salvas de tiros que estremeceu a embarcação, ao longe se ouvia a banda de música executando belas melodias europeias que a fez lembrar seu querido pai, e as tardes musicais ao seu lado. Tudo naquele lugar era colorido, inclusive o povo com as mais diversas colorações de pele e de cabelos.

A recepção foi calorosa e festiva. O encontro com sua nova família foi exatamente como ela esperava; o noivo não a decepcionou era um belo e simpático mancebo. Seu sogro era gordo, baixo e barrigudo, sua sogra era tão feia que a fez baixar o olhar. No Brasil a fartura era geral, a abundância estava em tudo, havia variedades de frutas e bebidas que foram aos poucos sendo colocadas em cima da mesa do restaurante do navio para sua apreciação. Concluídas as formalidades todos foram embora, pois, faltava ainda 24 horas para seu completo desembarque.

Interessada desde muito cedo pelas Ciências Naturais, Botânica e Geologia, Leopoldina encontrou no Brasil o lugar ideal para aprofundar suas pesquisas, além de exercer suas habilidades politicas e cavalgar todas as manhãs pelas ruas do Rio de Janeiro, seu hobby preferido. Segundo alguns historiadores há registros dos seus passeios na Floresta da Tijuca e parada obrigatória em frente à Igreja de São Francisco para fazer suas orações diárias. Atenciosa e caridosa foi educada para reinar de acordo com o desejo e a felicidade do seu povo, além da humanidade, compaixão e igualdade dos povos. Prática empregada pelo seu avô paterno, o imperador Leopoldo II, e transmitida às gerações dos Habsburg.

Seu casamento não foi um mar de rosas, as traições e grosseiras de Dom Pedro causaram tristeza e humilhação para Dona Leopoldina que fora educada de maneira bem diferente da do seu marido. Apesar de tudo, ela seguiu firme o seu propósito, colocando os interesses do estado acima dos seus, ficou ao lado de Dom Pedro nas horas mais importantes e decisivas para resolver a crise entre Brasil e Portugal que estourou em 1820 com a Revolução do Porto.

Com o passar dos dias a pressão aumentava, os portugueses exigiam o retorno do Príncipe Regente e sua família para Lisboa, e a recolonização do Brasil, o que causaria uma revolta de caráter liberal e republicano no povo brasileiro, era tudo que Dona Leopoldina não desejava e temia. Assim, passou a convencer Dom Pedro da importância de ele liderar um movimento independente que transformasse o Brasil numa monarquia sob sua liderança.

A situação entre Brasil e Portugal não estava nada amigável e para acirrar mais o empasse, no dia 6 de agosto de 1822, Dom Pedro torna público um Manifesto dirigido aos governos das nações amigas, onde declara a independência do Brasil e denuncia o sofrimento, exploração e humilhação que os brasileiros vinham sofrendo pela tirania portuguesa. Logo em seguida, Dom Pedro viaja para São Paulo e nomeia Dona Leopoldina como regente interina do Brasil e chefe do Conselho de Estado.

Naquele ano de 1822 as estradas eram precárias e as viagens para o interior do país eram feitas em animais de montaria, o que as tornavam longas e perigosas. O príncipe já estava há quase um mês em missão política na Província de São Paulo, quando no Rio de Janeiro, Dona Leopoldina recebe no dia 28 de agosto, uma correspondência advinda de Portugal, nela as Cortes revogam tudo que Dom Pedro faz, exigem o retorno do Príncipe e sua família, seus auxiliares e conselheiros demitidos, presos e levados a Lisboa.

Sem perder tempo e sabendo qual decisão tomaria, aos 2 de setembro, Dona Leopoldina convoca em caráter de urgência uma reunião com o Conselho de Estado e assina o Decreto da Independência do Brasil , com isso estava oficializada a separação. Para ratificar a independência, Dona Leopoldina manda uma carta para o marido e nela pede que ele proclame a Independência do Brasil. A carta chega às mãos do príncipe no dia 7 de setembro e movido pelo sentimento de indignação, Dom Pedro proclamou o famoso “Grito do Ipiranga.” Agora, a independência estava concretizada.

Na opinião dos biógrafos da primeira imperatriz brasileira foi Dona Leopoldina uma grande estadista, estrategista e hábil articuladora. Sua participação foi determinante no Conselho de ministros em relação ao Decreto formal da Independência do Brasil. Conhecedora de política foi mediadora nos bastidores do palácio, sempre articulando uma decisão mais apropriada para o Brasil e para o povo brasileiro.

Leopoldina viveu nove anos em terras brasileiras e não viu mais seus familiares austríacos. Ela faleceu aos 29 anos de idade, em consequência de um aborto espontâneo, das inúmeras infecções que a deixou de cama, e pela vergonha e humilhação que as mulheres de sua época eram submetidas e obrigadas a calar. Na sua morte, assim, como na Independência do Brasil, Dom Pedro estava ausente, desta vez, em viagem para o sul do Brasil, deixando Leopoldina como regente. No dia 11 de dezembro de 1826, morre a primeira imperatriz do Brasil e a primeira mulher chefe de Estado no exercício do cargo.

Com sua morte ela deixa órfãos seus sete filhos e todo o povo brasileiro. A memória de Dona Leopoldina, a imperatriz do Brasil, se perpetuou na mente e no coração do seu amado povo. A sua bondade, delicadeza e complacência a tornou mãe de todos os brasileiros. Mãe dedicada, esposa amável e mulher extraordinária, foi personagem fundamental da história do Brasil. A negação ou omissão da sua participação nos momentos cruciais da nossa história mostra-nos o preconceito e o machismo decorrente da nossa educação.

 

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS:
KAISER, Glória. Dona Leopoldina: Uma Habsburg no trono brasileiro. Rio de Janeiro, Fronteira, 1997;
PRIORE, Mary del: A Carne e o Sangue: A imperatriz Dona Leopoldina, Dom Pedro I e Domitila, a marquesa de Santos. Rio de Janeiro: Rocco, 2012;
REZZUTI, Paulo: D. Leopoldina: a história não contada: a mulher que arquitetou a independência do Brasil. São Paulo, LeYa, 2020.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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