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E viva São João !

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A fogueira já estava acesa. Da calçada, era possível ver o clarão de tantas outras, das casas vizinhas à nossa, no sítio Glória. Eu, papai, mamãe e meus irmãos, sentados próximos à fogueira, saboreávamos espigas de milho, assadas ao fogo, cujas chamas já estavam bem altas. Ao longe, vi um balão colorido, ganhar os céus iluminados pela linda lua. Foguetões e traques podiam ser ouvidos. Outras pessoas (parentes e amigos) começavam a chegar e participar da conversa, bastante animada. Meus irmãos mais velhos, já arrumados, logo sairiam para forrós perto dali, nos sítios Cachoeira Alta e Santo Agostinho. A cada ano, a noite do dia 23 de junho era muito esperada.

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Ficava encantado com as tradições e crenças. Nunca tive coragem de tentar ver o rosto na bacia com água. Diziam que se não víssemos a imagem da face refletida, a morte era certa. Todos os meus irmãos e irmãs tinham padrinhos e madrinhas de fogueiras. Eu não entendia muito bem quando pediam para pensar numa pessoa que se queria namorar e depois, colocar duas brasas da fogueira na bacia. Se as brasas ficassem próximas, o namoro era certo. Quando o inverno tinha sido bom, a festa de São João era muito mais alegre.

Já na cidade, continuei a contar os meses para junho chegar. Todavia, a cada ano, os festejos tomavam novos rumos.

A primeira festa de São João, à qual participei em Imaculada, foi realizada num local onde funcionava a garagem de Terninha e Joãozinho Fabrício, próximo à casa de Joaquim Pires. Além do tradicional forró, haveria a apresentação de uma quadrilha, composta por mais de 30 casais, entre adolescentes e crianças. Ensaiamos meses, no pátio do Colégio Miguel Otaviano. A cada passo que aprendia, ficava encantado. Ribamar, o puxador, cuidava de tudo como muito esmero. Quem dançou comigo foi Ana Rita de Dona Cristina. Mamãe preparou a minha roupa e me deu um chapéu de palha. No dia, o local, todo ornamentado, ficou cheio. Nos apresentamos ao som de um genuíno trio de forró. Depois, fui para casa. E o forró continuou. No caminho de volta, mamãe comprou um delicioso pacote de pipoca, com manteiga da terra.

Nesta época, ainda havia os forrós em vários sítios do município. Na cidade, na rua Nova, a família de Xavier Barbosa realizava um arraiá bem animado, com muitas brincadeiras, entre elas, o pau de sebo. Um dos momentos esperados, era o soltar do balão, confeccionado por sua mãe.

Depois, foi construído um pavilhão, ao lado da igreja e bem próximo às casas de Belo Caetano, de Chiquinha, do soldado Alcides e de Regina e João Saulo. Agora, já havia barracas de palha de coqueiro e os shows eram realizados com uma estrutura maior. O trio Arraiá, da cidade de Patos, participou de várias edições da festa. Recordo-me, do então prefeito Raimundo Dóia, anunciando o início da festa. Nessa época, a cidade já recebia muitos visitantes, principalmente, os conterrâneos que moravam fora.

A festa de São João era uma segunda confraternização anual das famílias (a primeira era o Natal). No jantar não podia faltar as comidas típicas, como pamonha, canjica, milho cozido e assado, bolo e galinha de capoeira. Eu adorava brincar com os amigos. Tinha um menino que era campeão de pular fogueiras. Soltávamos traque e chuveirinho. E sim, claro, não podia faltar a roda de conversa, em frente à fogueira.

Depois, já nos anos de 1990, foi implantado um novo local para a festa, o pavilhão do povo, localizado ao lado do colégio Miguel Otaviano e em frente à casa de Benone Gomes. A época dos shows com grandes bandas havia chegado. A festa já era de toda a região e agora, realizada no mês de Julho, passou a ser chamada de João Pedro. Nos anos de 2010, os festejos consolidaram-se como a época dos grandes eventos, com artistas de repercussão nacional e uma multidão na plateia.

Ao longo do tempo, as festas de São João do Nordeste vêm assumindo novos formatos e dimensões. Isso aconteceu em todo o Nordeste. Com a modernização, caminhos diferentes. Nas maiores festas, até DJ tem. As quadrilhas estilizaram-se, um figurino esmerado e coreografias complexas para as competições.

Mas, as minhas melhores recordações são daquelas festas lá dos anos de 1980, às quais eu esperava ansiosamente para ficar no colo de meus pais, bem pertinho das fogueiras, saboreando uma espiga de milho, dançar quadrilha, brincar e soltar fogos com os amigos.

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