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A Mulher que não é padrão nacional

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Em função do desenvolvimento da ciência e da indústria farmacêutica, nos são disponibilizadas uma série de possibilidades antes inimagináveis. Cada dia mais nos tornamos longevos. Em uma de minhas pesquisas por jornais de 1930 -1940, me deparei com uma notícia que envolvia um acidente de carro que levara a morte de “uma velhinha de 40 anos”. Imagine, 40 anos hoje significa estarmos no auge de nossas possibilidades de saúde, vida econômica e tudo mais.

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Nos deparando com esse tipo de notícia, se faz necessário analisarmos uma serie de vivências, falas e pesquisas que envolvem, na atualidade, a questão do envelhecimento. Peço licença aos homens para dar ênfase ao envelhecimento feminino, mas que os envolve de forma mais indireta.

Em minhas linhas de pesquisa, sempre que abordo o corpo, o faço levando em consideração o ponto de vista da Espiritualidade, contudo, isso não significa que deixo de lado o plano físico. Hoje vivemos um momento em que vemos a beleza física sendo mais valorizada que nunca. Apesar do contraponto, não posso deixar minha maneira de mostrar a necessidade que temos urgentemente de repensar o conceito de beleza em nosso país e no mundo.

Quero trazer à tona a reflexão da Mulher como ser humano, não como objeto capital. Confesso que alguns conceitos são bastante novos para mim, mas neste modo de vida onde o que importa é a beleza externa, tudo é possível. Não se surpreendam, mas o conceito diz exatamente o que imaginamos com o termo “capital”. Entretanto, não chega a ser o corpo como moeda. Não diretamente. Lendo um livro chamado “Coroas” -de Miriam Goldenberg – que após algumas pesquisas realizadas principalmente com mulheres no Rio de Janeiro, foram ouvidas, ainda, mulheres alemãs, inglesas e as espanholas. Após várias palestras e estudos, a autora do livro, nos traz várias reflexões a partir da fala das próprias mulheres pesquisadas no sentido de compreender como enfrentamos nosso envelhecimento.

Mas o que o corpo Capital?

Mirian Goldenberg, como resultado de suas pesquisas, nos fala que na cultura brasileira contemporânea, determinado tipo de corpo é uma riqueza, talvez a mais desejada pelos indivíduos das camadas médias urbanas e também das camadas mais pobres, que o percebem como importante veículo de ascensão social. Segundo a autora, além do capital físico, o corpo é um capital simbólico um capital econômico e social. É o corpo sexy, jovem, magro e em boa forma, que caracteriza como superior quele ou aquela que o possui.

Preciso do aporte de outros autores para falar desse tema, que, para muitos, passa completamente despercebido, e só é notado quando esse “equipamento de prazer” começa a sofrer a depreciação causada pelo “envelhecer”. O Envelhecer surge, por ser extremamente natural, assim como os problemas que o envelhecimento traz.

Conhecer um pouco do processo histórico desse corpo, e como ele vai sendo construindo é fundamental. Gilberto Freyre chegou a escrever um artigo intitulado “uma paixão nacional” onde tenta explicar as raízes culturais dessa preferencia masculina. No artigo, o antropólogo faz emergir os sinônimos de bunda bem conhecidas no Nordeste – (bagageiro, balaio, rabo e bumbum) dentre outros. Compara as mulheres indígenas com as mulheres de “origem afro-negra”, estas ultimas dotadas de “nádegas notavelmente protuberantes ou por bundas salientemente grandes. E, por essas saliências, sexualmente provocantes do seu uso, e até do seu abuso, em coitos de intenções mais voluptuosas”

Freyre defende o homem em sua sensibilidade em função das provocações pelas quais este homem vive. (Não sei se o autor defende, ou estimula por ser homem). Confesso que essa frase trás um pouco de dubiedade, mas vamos ver onde tudo isso vai chegar.
“Há no Brasil de hoje, uma enorme comercialização da imagem da bunda de mulher em anúncios atraentes. Estéticos uns, lúbricos outros.”. Essa imagem é também utilizada nos meios de comunicações televisivos e ainda em músicas apologéticas da beleza da bunda da mulher.

No Brasil, a “bunda grande se contrapõe, como atrativo sexual, e até eugênico estético, à “bunda murcha “, seca e magra. Para Freyre o ideal árabe de mulher bonita, ser gorda, ainda não foi superado no Brasil, onde o ideal de mulher secamente elegante, mulher delgada e como se se fosse um rapaz. Quase sem bunda “

Retornando um pouco mais à autora da pesquisa, nas respostas das entrevistadas brasileiras, chama atenção a recorrência do corpo nas respostas femininas e masculinas sobre questões ligadas à inveja, à atração e à admiração. Dentre as perguntas feitas a pesquisadora, destaca: “Se você escrevesse um anuncio com o objetivo de encontrar um parceiro, como você escreveria? Como você descreveria um parceiro? “Nas respostas, o corpo aparece seguido de adjetivos, como sexy, sensual, atraente, gostoso, definido, malhado, sarado, saudável, atlético, forte e firme.

Fiz questão de trazer essa questão do corpo confirmando o corpo como capital, mas é minha intenção, apenas a reflexão do tema, trazendo como contraponto, ou o outro lado da moeda, enfocando o envelhecer e suas consequências, na vida de pessoas que cultivam este tipo de pensamento ou escolha na busca de um parceiro, ou parceira, mas sobretudo, para quem não tem esses “dotes” tão almejados em nossa cultura.

Convivemos com uma cultura que chamo “da Maria vai com as outras”, porque tudo que escolhemos diferente desses padrões estabelecidos, nos tornamos ou indesejáveis ou mesmo fora de moda.

Esse modelo de corpo e de viver, traz consigo uma série de consequências adotadas por todos, lembrando que parte desse modismo, com o tempo, não consegue ser sustentado. O padrão que passou a ser desejado por homens e mulheres, de diferentes classes sociais, mas que almejam subir na vida, seguem padrões que jamais alcançarão. Uma coisa que me chama atenção, por exemplo, é o formato das sobrancelhas das mulheres: vocês já perceberam que se mantém um modelo indiferente ao formato do rosto, ou à sua cor? Falando em cor, quando chega a hora dos cabelos brancos, que naturalmente chegam com a idade, surgem, então, um grande número de mulheres loiras, como se fossemos todas brancas e por isso possuíssemos cabelos loiros.

Onde quero chegar com toda essa conversa? No envelhecimento sofrido. A sociedade passa ditar padrões de beleza, e um corpo de desejo, que não conseguiremos manter em uma idade mais avançada. Quero chegar no vazio existencial, que esses padrões pré-estabelecidos podem causar em uma pessoa, homem ou mulher, que não se enquadre no que a sociedade criou. Serão os pacientes dos consultórios de psicologia e psiquiatria, caso possam ter acesso a estes profissionais, por não conseguirem aceitar os efeitos naturais e inevitáveis da idade

A beleza, que consegue segurar relacionamentos por longos anos, pode até passar no inicio por esse objeto de desejo. Mas tem uma consequência, que trás um enorme sofrimento: a rejeição do parceiro ou parceira. A idealização da Modelo Nacional, que não está ao meu lado quando acordo, ou o galã que vi em todos os programas de televisão, não estará em minha cama ao acordar. Consequência disso? Relacionamentos carregados de insatisfações, homens que buscam as mulheres mais jovens que possuem a atração que se tornou o padrão nacional. Resta nesse contexto, mulheres que se vêm abandonadas, desenvolvendo problemas psíquicos e doenças, causadas por uma vida amarga, sem amor e sendo desrespeitadas, apenas por serem mulheres verdadeiras.

A mulher culta, bela por seu interior, rica de atributos, não faz parte do produto que está incluído no “corpo capital”. E que assim o seja cada vez mais. Já passou da hora de precisarmos de nossos corpos para sermos valorizadas. Precisamos pensar, numa população que envelhece, que não vive, por inúmeros motivos, em um estado emocional equilibrado. São as Coroas que não encontram suas pedras preciosas, para pertencerem a uma vida glamurosa, porque lá na juventude, resolveram seguir o padrão externo, sem pensar, no seu interior, respeitando e sendo respeitada pelas grandes virtudes dos seres humanos verdadeiros e belos como a natureza nos fez.

Viver com alegria, se amando e se cuidando, não é viver numa academia ou em salas de cirurgias, que nos deixam irreconhecíveis e permanentemente insatisfeitas e em busca de sempre algo novo para “melhorar” em nossos corpos. Se optemos por mil procedimentos que o façamos por nós mesmas e não para não perdermos nosso “valor”. Não podemos mais, como outrora, e não podemos nos permitir hoje, que sejamos “avaliadas” como uma vaca num leilão. Avaliadas pela firmeza de suas carnes, coloração de seus pelos e pelas curvas de seu corpo.

Está na hora de nossa libertação! Que seja o fim do “Corpo Capital”, que seja o fim da valorização da mulher apenas pela sua forma, beleza ou idade. A libertação dos padrões impostos pelos colonizadores, que apenas viam na mulher a oportunidade de nos possuir, como objetos, cabeças de gado. Está na hora de deixamos de sermos mercadorias. Somos seres humanos, lindas e maravilhosas como somos. Quando nossa sexualidade não corresponder aos padrões da juventude, é a Natureza em nós. Sejamos felizes, nos amemos, e seremos únicas, naquilo que somos. Não nos deixemos ser envolvidas pela tristeza e desamor. Fomos criadas, e criados, para sermos felizes. Assim, só nos resta uma alternativa. SERMOS FELIZES.!

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