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Receita de Lula à Kiev

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Que os bolsonaristas ao meu redor não me ouçam, mas eu nunca consegui me afinar muito à figura do ex-presidente Lula. Talvez por um elitismo incutido em mim, o fato de alguém como ele, originário das camadas mais baixas da população, ter-se alçado ao cargo mais importante do nosso país nunca me pareceu correto. Alguém sem uma formação sólida, pensava eu, não seria capaz de tratar de temas tão complexos como aqueles exigidos do morador do Palácio da Alvorada. Anos se passaram e o metalúrgico se mostrou um fenômeno. Altos índices de popularidade, política econômica sólida, Brasil estabelecido como um respeitado ator internacional.

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Seu predecessor, Fernando Henrique Cardoso, afirmava que ao entrar no governo, ou se faz concessões ao legislativo ou não se governa. Acho uma desculpa um tanto fraca, mas não falsa. O PT, partido do, hoje, candidato à Presidência da República se envolveu, durante o seu segundo mandato, no famoso escândalo do “Mensalão”, em que parlamentares recebiam uma “mesada” para que apoiassem o governo e esse pudesse ter suas propostas votadas e aprovadas pelas casas legislativas.

Hoje, temos uma nova entidade política chamada “centrão”, ao meu ver uma besta acéfala faminta por poder. Não há mais ideologias, lados nem partidos, o que se busca na política brasileira atual é a mera manutenção do status quo, e, para tanto, o “Mensalão” se instaurou como política administrativa. Verbas secretas, acordos de “uma mão lava a outra” ... infinitos são os exemplos de como a máquina pública se transformou em uma entidade em que os poderes se retroalimentam ao invés de se “retrovigiarem”, preceito que baseia a divisão dos poderes do Estado.

A harmonia entre os poderes, termo tão utilizado ultimamente (exatamente pela sua constante violação), contudo, é fundamental para que um governo possa, de fato, governar. Um presidente que não aprova as normas criadas pelo legislativo ou um parlamento que não analisa as propostas enviadas pelo executivo, pecam pela falta de, no mínimo, boa vontade. Na democracia, seja ela na forma de monarquias constitucionais, governos parlamentaristas ou presidencialistas se baseia numa co-vigilância e cooperação entre os membros do governo que, escolhidos pelo povo, e tão diverso como aquele que o elegeu, tendem a, em vários momentos, ter crenças e planos divergentes, mas também devem ter o bem comum como objetivo fundamental. Assim, para que a administração de um país não seja travada pela discordância e falta de colaboração entre seus atores, o diálogo e concessões de todos os lados são necessárias.

Aliás, como teremos certeza que um país será governado harmoniosamente e com o futuro do país e de seu povo em mente? Não temos. O estereótipo do político que cumpre e não promete mais do que uma piada para como os políticos enganam a população também é um modelo de que nem todas as promessas poderão ser cumpridas. E que bom que assim o é. A promessa de verbas para a construção de uma escola é louvável, contudo, a sua negação, por mais indigna que possa parecer, nem sempre o é. Imagine se todas as promessas políticas fossem cumpridas? Escolas seriam construídas, mas a verba para o pagamento de aposentadorias poderia passar a ser insuficiente. Infindáveis são os exemplos como esses. Não podemos abrir mão de um governo feito por muitos, e que esses muitos, cada vez mais, sejam diversos, cooperativos e, ao mesmo tempo, vigilantes uns dos outros.

No dia 4 último, foi divulgada uma entrevista do ex-presidente Lula concedida à revista Time (revista um tanto conservadora, tendo, inclusive, dado um certo apoio ao golpe de 1964, mas isso é história para outro artigo), tendo tido, inegavelmente, uma grande repercussão, principalmente no que se refere à guerra da Ucrânia. Na entrevista, o ex-presidente afirmava ser Volodymyr Zelensky, o presidente da Ucrânia, tão responsável pela guerra quanto sua contraparte russa, Vladimir Putin.

Cheguei a ouvir que o que Lula afirmava na tal entrevista era algo como “dizer que uma mulher que foi estuprada também teve culpa”. Bem, ainda que um pouco fora de tempo e com o assunto um pouco passado, dediquei alguns minutos do meu tempo à leitura da tal entrevista (em português e em inglês, para me averiguar de qual era, realmente, a mensagem escrita ali), e percebi que o que o ex-presidente quis dizer foi, na realidade, algo como “não reaja a um assalto para não pôr sua vida em risco”.

Tive de admitir ao longo dos últimos anos que Lula nada mais é do que um especialista no que tange à Realpolitik, abordagem pragmática da política. E, mais ainda, tive que admitir que, em muitos pontos, concordo com ele. O que o ex-presidente afirma, é que a situação posta, hoje, não surgiu do dia para a noite, e que a Rússia não é a única parte que deve ser acusada de erros.

Desde 2008 com a invasão de regiões da Geórgia, o presidente Putin vem demonstrando suas intenções expansionistas. Em 2014 o gigante euroasiático anexa a península da Crimeia pertencente à Ucrânia, e, agora, invade mais dois territórios do país. Lula, na entrevista à revista Time, afirmou ser culpa de ambas as partes (aliás também a União Europeia e dos Estados Unidos), não a Ucrânia ter, em fevereiro deste ano, reagido à invasão russa, mas sim a falta de pragmatismo e diálogo, de todas as partes diante das claras intensões russas que se mostravam claras há anos. Desde a Guerra da Geórgia, ou mesmo nos últimos 5 anos, com a anexação da Crimeia, nem lideranças Ucranianas, da União Europeia, nem mesmo da OTAN ou dos Estados Unidos tomaram medidas proativas com vistas a restringir o avanço da clara política expansionista russa, ou a chamar o Presidente Putin para a mesa de negociações e tratar a respeito de suas políticas em relação a seus vizinhos.

Todos os atores envolvidos permitiram, ao longo do tempo, que o expansionismo russo se alongasse, tendo sido, inclusive, subsidiado pela compra de gás russo pela União Europeia.

Que ao contrário do que cobra do restante do mundo, não se afastou do modelo de matriz energética baseada em combustíveis fósseis (grande parte deles oriundos do gigante intercontinental), tendo a Alemanha, inclusive, fechado suas plantas nucleares e construído um novo gasoduto para a facilitação da importação do gás russo.

Muito tem se falado da postura brasileira na comunidade internacional, ao nos negarmos a condenar e sancionar a Rússia, contudo, apesar de isso aparentar ser simpatia do atual des-Governo, a política externa brasileira se baseia, há décadas, no diálogo entre os mais diferentes atores, e, por isso, se nega a sancionar um dos lados e tomar partido na guerra.

Da mesma forma que a vigilância e cooperação mútua, através do diálogo, e objetivar algo além do simples poder, deve reger a polícia interna, o mesmo se dá quanto à política externa. São indispensáveis para o avanço não só do país, mas de todo o mundo. A abordagem dos fatos, por mais grosseiros que sejam, através de uma postura pragmática e objetiva, creio eu, são, se não a solução, mas ao menos um modo de se iniciar o avanço das discussões políticas para algo além de debates comezinhos e acusações mútuas. Esta tem sido o norte da política externa brasileira há décadas e, creio ser também a abordagem que o, hoje, candidato à presidência da República defendeu em sua entrevista à revista americana. Nunca digamos sim à guerra, e da mesma forma, nunca nos deixemos ser levados a pôr interesses individuais ante ao bem coletivo, seja dentro ou fora de nosso país.

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