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Não se aposente de si mesma!

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Dos temas abordados durante o mês de março, demos ênfase a algumas das questões que envolvem a mulher. Confesso que, às vezes, escuto ou vejo algum tema que me vem com muita frequência em um determinado dia, o que de certa forma, já identifico ser sobre àquele assunto que preciso falar e me sinto pronta, de imediato, para escrever a respeito. Foi o que aconteceu nestas duas semanas. Antes de terminar de escrever o último artigo, recebi, de uma amiga, um vídeo falando sobre as diferentes formas que o homem e a mulher enfrentam a velhice. “Choveram” vídeos com artistas famosos falando a respeito do tema “velhice”.

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Confesso, que acho triste esta palavra. Acho desrespeitosa e totalmente desumana. Não quero dizer com isso que não aceito a nossa idade, claro que aceito e acho lindo quando aceitamos que estamos, sim, vivendo mais. Alguns melhores que outros, mas o que me chamou a atenção no vídeo que minha amiga me enviou foram duas informações: a primeira que os homens de idade mais avançada estavam cometendo mais suicídio que as mulheres. Outro vídeo falava de Alain Delon, o homem que mais despertou paixões em todas as mulheres no mundo. Quem não foi ao cinema apenas porque o filme era protagonizado por ele? Pois bem, para minha surpresa este lindo homem, hoje, com uma fortuna incalculável, resolveu ir pra Suíça para ter um suicídio assistido. Lá (Na Suíça) as Leis o permitem.

 

Sobre o tema “da melhor idade”, “boa idade”, ou qualquer coisa que se queira chamar. Comecei a refletir que assim como existe o preconceito, religioso, a homofobia, racismo, também, existe preconceito de idade, o etarismo. Me debrucei então, em algumas pesquisas cientificas para ter o devido suporte para falar sobre esse tema, sempre respeitando o pensamento contrário ao meu.

Em uma das pesquisas encontradas, à qual darei maior ênfase, sinopse de um livro chamado “A Bela Velhice” de Mirian Goldenberg, da Editora Record publicada em 2013. Ao ler suas brilhantes, e reais, ideias sobre a velhice, não poderia deixar de mostrar ao nosso público e não me refiro apenas aos idosos, pois sempre me vem a pergunta: Com que idade você se sente? Certamente a resposta, não vai coincidir com a que está nos seus documentos. Outra coisa que me vem em mente, é como os jovens de hoje irão sobreviver à velhice. Coisas que devemos, não nos preocuparmos, mas nos prepararmos.

Comecei a perceber meus cabelos brancos aos 27 anos, de minhas duas filhas, uma já está com o número bem acentuado deles, enquanto a outra, ainda não os tem. Por modismo ou por, quem sabe, repetição de um modelo das mulheres da família, também iniciei a grande prisão de pintar os cabelos, que iniciamos uma vez a cada mês, depois, de a cada 15 dias e depois toda semana. Como desenvolvi alergias às tintas, talvez um fato piorado por meu histórico de lúpus, líquen e outras doenças, tenho a pele extremamente sensível. Até que chegou o dia que decidi, não pintar mais os cabelos, que desde que os perdi quase todos durante o lúpus, estavam partindo agora, em função das pinturas.

Bem, estou contanto essa história porque não foi uma decisão difícil para mim, mas confesso que causei tanto espanto as pessoas, que um dia estava na fila de um supermercado, já próxima ao caixa, quando escutei uma pessoa quase gritando: “Nevinha, o que é isso? ”, logo de início achei não ter nada a ver comigo, mas novamente a pessoa gritou usando nome e sobrenome, olhei e vi de onde vinham os gritos e quem era a pessoa. Voltei meu olhar para meu corpo, no meu entorno e não vi nada que pudesse alarmar alguém, mas a cumprimentei e perguntei: você está se referindo a que? Ela no mesmo tom de voz, respondeu – a seus cabelos! Foi então que lembrei que ela não tinha me visto ainda com meus lindos cabelos brancos, são pouquinhos, mas os adoro assim como estão. Só respondi “não estão lindos? ”. Claro que disse como provocação, mas ela, continuando, ainda disse: “pelo amor de Deus pinte esses cabelos! Você é muito nova para deixar os cabelos brancos! ”. Deixando à parte a história, essa é uma das demonstrações, do como as mulheres atribuem ou se preocupam com o passar dos anos em sua vida.

Voltando à pesquisa feita pela escritora Mirian Goldenberg, a autora diz que não precisamos nos tornar infelizes apenas porque estamos deixando a nossa juventude para trás, a passagem da juventude, chegada da maturidade e, posteriormente, da velhice, são fases naturais da vida.

Mas não me entendam mal, não sou contra quem procura todos os instrumentos desenvolvidos pela ciência para permanecer com corpos joviais. É claro que manter os seios bonitos, pernas bem torneadas, e todas as características que possuíamos em nossa juventude é o grande sonho de qualquer mulher. No entanto, acredito que almejando a nossa felicidade, nossa liberdade e uma leveza, pode ser o caminho para nos tornarmos mais belas com a idade, com nossas histórias de vida, em paz com o caminho que nos trouxe até aqui. Assumir os cabelos brancos, as rugas, manchas na pele e tantas outras “cicatrizes de batalha” não nos torna, necessariamente, feias ou malcuidadas, acredito, e peço desculpas a quem não concorda, que as marcas da idade são como palavras escritas em um caderno. Não é possuindo uma tez de cor uniforme, lisa e sem marcas que nos tornamos mais interessantes, são essas marcas que contam histórias de uma vida, segredos, receitas e confissões.

A autora relembra em sua obra Dr. Victo Frankl, que sobreviveu, de 1942 a 1945, a quatro campos de concentração, após a morte da mãe, pai o irmão e a esposa terem sido assassinados pelos nazistas. Dr, Frankl morreu aos 92 anos no ano de 1977. Publicou, após o final da guerra, 30 livros, um dos quais leio e pesquiso constantemente: “Em busca dos sentidos” Todos seus ensinamentos estão voltados para os ensinamentos que o fizeram sobreviver a tanta dor. Dr. Frankl ensina que cada um de nós, busque verdadeiramente a uma razão para sua vida. E trazendo o pensamento do Dr. Frankl para o nosso texto, temos de ter uma razão para viver e a chegada da velhice não pode ser a causa do fim da busca por essas razões. A velhice nos traz, sim, inúmeros desafios, mas também pode trazer inúmeras felicidades.

Foi após a minha aposentadoria que realizei o sonho de uma vida: me tornei mestra. Não pude seguir a carreira acadêmica logo que terminei a faculdade, a vida de mãe, dona de casa e funcionária do governo da Paraíba não me permitiram, mas os anos passaram e a hora chegou. Me laureei no mestrado com nota máxima, minha dissertação virou livro e, espero eu, poder escrever muitos outros. Sem falar que nunca imaginei ser colunista em um blog e meus pequenos textos semanais seriam lidos por tantas pessoas.

Ainda, outro grande presente que a idade nos traz é a de ver os filhos crescidos, felizes e testemunhar a chegada dos netos. De meus irmãos e primos, creio ser a única que guarda memórias de minha avó, meus filhos por sua vez guardam carinhosas memórias de seus longevos avós e tios, eu, por minha parte, espero fazer parte da vida de minha neta, de dar a ela todo o amor que surgiu em meu coração a partir do momento que soube de sua chegada. A velhice pode ser não nossa última parada, mas a estação de onde partiremos para novas descobertas.

Sabemos que uma das grandes enfermidades que tem acometido muitas pessoas, agravada nesta pandemia, mas muito comum ao nos aposentarmos, ou ao enfrentarmos a perda de alguém, tem sido a depressão. A depressão se inicia com um grande vazio dentro de nós. Às vezes, somos capazes de, logo de início, como quando damos um grande mergulho, descermos ao fundo, mas termos forças para subirmos. Outras vezes, precisamos de ajuda de profissionais e de apoio de medicamentos. O quanto antes procurarmos um médico, mais cedo seremos capazes de nos levantarmos.

Um outro pesquisador que discutiu coisas deste universo é o sociólogo polonês Zygmunt Bauman. Que afirma que são dois os valores indispensáveis para uma vida feliz. O primeiro é a segurança, o segundo é a liberdade. Para ele, e eu concordo plenamente, não é possível ser feliz e ter uma vida digna e satisfatória na ausência de qualquer um dos dois. E ele ainda diz: Segurança sem liberdade é escravidão. Liberdade sem segurança é o caos.

Para concluir nossa pequena reflexão sobre uma vida feliz, vou tentar reproduzir o depoimento de uma das pessoas pesquisadas pela autora de A Bela Velhice. Professora aposentada, tem 75 anos. Ela fala que a teoria dela é revolucionária porque não existe velho nem novo. Existe sim, pessoas que envelhecem com saúde ou sem ela. Ela fala que a velhice não é a pior nem a melhor idade, mas apenas diferente.

Eu acredito que podemos ser felizes, quando temos um objetivo, um sonho a ser realizado e não desistimos dele. A velhice vazia, sem amigos, sem compreensão da família de que ainda somos capazes de sonhar e realizar, pode contribuir para uma vida infeliz. Mas, se, ao contrário, temos a liberdade, poderemos construir nossa felicidade. Lembrando do Pequeno Príncipe: Se tenho apenas uma rosa para cuidar ela se torna minha responsabilidade, e por isso preciso ser forte e nunca desistir de cuidar da minha rosa, do meu paraíso, do meu pequeno, mas enorme coração, que ainda é capaz de abrigar e repartir muitas felicidades. E eu acrescento: independentemente de qual seja a nossa “rosa” precisamos nos manter cuidando e buscando ela por muitos e muitos anos.

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