fbpx
23.1 C
João Pessoa

Automedicação

- PUBLICIDADE -

A descoberta de medicamentos é um importante processo do sistema de saúde mundial, com utilidade no tratamento e na cura de enfermidades. No entanto, o uso de remédios para problemas de saúde é visto, muitas vezes, como uma solução imediata para aliviar sintomas como dores e mal-estar. Os efeitos das substâncias presentes nos remédios têm sido subestimados e a automedicação é, hoje, uma prática comum entre os brasileiros, podendo causar graves danos ao organismo.

- Publicidade -

Tomar medicação sem prescrição médica pode matar até 10 milhões de pessoas por ano até 2050, em todo o mundo. O alerta sobre o uso excessivo de medicamentos e os consequentes casos de resistência antimicrobiana estão no relatório divulgado ontem por entidades ligadas à Organização das Nações Unidas (ONU). Além da saúde, o documento também mostra o prejuízo na economia. A estimativa é de que, até 2030, a resistência antimicrobiana leve cerca de 24 milhões de pessoas à extrema pobreza.

No Brasil, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) entre 40% e 60% das doenças infecciosas já são resistentes a medicamentos. Atualmente, pelo menos 700 mil pessoas morrem todos os anos devido a doenças resistentes a medicamentos, incluindo 230 mil por tuberculose multirresistente.

Uma outra pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF) reforça a preocupação com o tema e constata que a automedicação é um hábito comum a 77% dos brasileiros que fizeram uso de medicamentos nos últimos seis meses. Nas regiões Norte e Centro-Oeste, este índice é de 80% e no Nordeste, de 79%. No Sudeste e no Sul, os índices são de 77% e 71%, respectivamente. Também foi identificado que entre os medicamentos mais utilizados pelos brasileiros nos últimos seis meses estão analgésicos e antitérmicos (50%), antibióticos (42%) e relaxantes musculares (24%).

O QUE É CONSIDERADO AUTOMEDICAÇÃO?

Automedicar-se é o ato de ingerir remédios para aliviar sintomas, sem qualquer orientação médica no diagnóstico, prescrição ou acompanhamento do tratamento. No Brasil, cerca de 35% dos medicamentos são adquiridos nas farmácias por pessoas que estão se automedicando.

A disponibilidade de informações médicas na internet cria um ambiente propício para a pessoa fazer diagnóstico e se medicar por conta própria. Esses fatores tornaram o uso indiscriminado de medicamentos um dos principais problemas da saúde no Brasil. Por este motivo, a ANVISA criou uma cartilha com orientações sobre o tema.

POSSÍVEIS COMPLICAÇÕES DE SE AUTOMEDICAR

Todo remédio possui efeitos colaterais e, quando ingerido de forma incorreta, pode causar mais malefícios que benefícios ao organismo. Fique atento às possíveis complicações:

Intoxicação – usar doses inadequadas de remédios pode causar diversos impactos na saúde, desde a ineficácia do tratamento, até overdose da substância no organismo, que leva a intoxicação.

Interação medicamentosa – há risco de um medicamento ingerido reagir em contato com outro que a pessoa usa de forma contínua. Neste caso, um pode anular ou potencializar os efeitos do outro.

Alívio dos sintomas que mascara o diagnóstico correto da doença – usar remédios para aliviar imediatamente dor e mal-estar pode esconder a real causa daqueles sintomas. Dessa forma, a doença não é tratada corretamente e pode se agravar.

Reação alérgica – ingerir medicamentos que não foram prescritos por um profissional da saúde pode causar reações não esperadas no organismo.

Dependência – algumas substâncias proporcionam mais chances de vício quando tomadas em doses incorretas e por tempo além do indicado por um médico.

Resistência ao medicamento – o uso indiscriminado de um remédio pode facilitar o aumento da resistência dos microrganismos àquela substância. No caso dos antibióticos, por exemplo, pode prejudicar a eficácia de tratamentos em infecções futuras.

A automedicação gera também outro mau hábito: o de acumular remédios em casa. Esta prática pode causar problemas graves, como:

• Confusão entre medicamentos;
• Ingestão de substâncias após vencimento;
• Ineficácia no tratamento causada pelo mau armazenamento do remédio;
• Ingestão acidental por crianças.

Antes de ingerir qualquer medicamento, o ideal é realizar uma consulta com um profissional da saúde, que vai levar em consideração características do seu metabolismo e poderá diagnosticar seus sintomas. Não tome nenhum medicamento sem o conhecimento de seu médico. Pode ser perigoso para sua saúde.

Pandemia elevou a ação de se automedicar; veja riscos

E a pandemia do novo coronavírus é um dos motivos para o aumento dessa automedicação. Segundo Professora Aline Fidelis, a ansiedade generalizada causada pela própria pandemia e a divulgação, muitas vezes extemporânea, de estudos científicos – preliminares ou pré-clínicos sem os devidos esclarecimentos sobre tais métodos e sistemáticas científicas – são alguns dos fatores que influenciam a automedicação para “prevenir” ou “tratar” a covid-19.

“Já temos comprovação científica de que nenhum desses fármacos – cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina – é eficaz para prevenir ou tratar a covid-19, ou seja, há evidências científicas mostrando que não existe um tratamento precoce eficiente. Infelizmente uma parcela da população fez e continua fazendo uso desses medicamentos, de forma não racional e, consequentemente, em 2021 tivemos relatos de casos de hepatite medicamentosa, sendo alguns com indicação para transplante de fígado”, lamentou a docente.

Segundo a professora, um novo medicamento antiviral chegou a ser aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) para tratar a covid-19 no início, mas ainda não está disponível no Brasil. Este medicamento tem como princípio ativo o Nirmatrelvir, que inibe uma proteína do SARS-CoV-2 dirimindo a replicação viral.

“É importante destacar que o uso desse medicamento é recomendado apenas para pessoas que têm alto risco de evolução para o caso grave da doença e não é indicado para tratamento preventivo ou para pacientes que já estejam internados. Lembrando que nenhum medicamento substitui a proteção imunológica conferida pelas vacinas”, alertou Aline Fidelis.

Influenza também precisa de atenção

Atualmente, além dos casos da covid-19, o país também registra nova onda de infectados pelo vírus H3N2 da Influenza – em algumas situações, inclusive, pessoas acabam descobrindo o diagnóstico positivo para coinfecção entre as duas, a chamada Flurona.

O susto fez com que o Conselho Federal de Farmácia (CFF) registrasse um aumento na venda de medicamentos contra sintomas gripais nas últimas semanas na mesma comparação com o ano passado – dentre os remédios, houve aumento especial do fármaco Oseltamivir, antiviral específico para tratar Influenza.

“Sabe-se que o uso não racional de todos esses fármacos pode trazer efeitos colaterais indesejados e reações adversas. E ainda, nos casos de medicamentos que combatem bactérias, protozoários e vírus há um agravante que é a possibilidade da seleção de cepas resistentes e com isso, a diminuição da eficácia desses medicamentos ao longo do tempo”, alertou Aline.

A pesquisadora, no entanto, fez alertas quanto aos cuidados preventivos necessários para se evitar contaminação viral, como o distanciamento social sempre que possível, o uso da máscara de forma correta – de preferência, o modelo N95 ou PFF2 – além de realizar o ciclo vacinal completo contra a covid-19 e também para Influenza, ratificando que todos os imunizantes aprovados pela Anvisa são seguros.

“Além disso, manter os cuidados com uma alimentação leve, muitas frutas, verduras e hidratação. Avaliar sinais fisiológicos e suas alterações, como temperatura corporal e a persistência de febre, além da saturação de oxigênio (por meio de um oxímetro de dedo ou de pulso) ou até mesmo avaliar se está se sentindo ofegante. Em casos de oxigenação abaixo de 95%, desidratação e outros sintomas mais graves, o ideal é procurar urgentemente uma unidade de saúde”, frisou.

A pesquisadora destacou ainda a importância de procurar profissionais especializados para dar início ao uso de remédios: “Quanto ao uso de Medicamentos Isentos de Prescrição, para controle dos sintomas gripais, oriente-se com um(a) profissional farmacêutico(a) que irá orientar formalmente a terapêutica adequada”, salientou Aline Fidelis.

Disseminação de notícias falsas potencializa automedicação

Aline reforçou ainda que a disseminação desenfreada de notícias falsas – que ela classifica como um “problema mundial” – contribui e muito para o aumento da automedicação e, consequentemente, dos riscos à saúde.

“A desinformação contribui muito fortemente para a automedicação, especialmente nesse momento da pandemia da covid-19, em que foi e continua sendo disseminada a ideia errônea da existência de um tratamento precoce”, justificou.

Para a pesquisadora, projetos e atividades que contribuam com a popularização da ciência são considerados como a melhor forma de combater a desinformação: “Nesse momento, em que temos visto muito material audiovisual de desinformação sendo produzido e consumido pelas pessoas, a melhor forma de combater é desmentir as Fake News e produzir material de qualidade com abordagem popularizada, além de buscar engajamento nas mídias sociais e diversas mídias, visando a disseminação de informações corretas”, contou.

 

 

 

REFERÊNCIAS

1. Fapeal em Revista apresenta: Os riscos da automedicação – FAPEAL – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas- acesso em 14/04/2022.
2. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/premio_medica/pdfs/trabalhos/mencoes/januaria_ramos_trabalho_completo.pdf – acesso em 25/04/2020.
3. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/255_automedicacao.html – acesso em 25/04/2020.
4. http://portal.anvisa.gov.br, acesso em 13/04/2022.

Relacionados

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Ajude o site João Vicente Machado

spot_img

Últimas

Precisamos de um amigo

Telas: será mesmo um vilão?

Uma dádiva chamada vida

Mais Lidas

Contemplação

Uma dádiva chamada vida

Não é proibido

Timbu, um amigo dos seres humanos

error: Conteúdo Protegido!