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Vacinação: Uma estratégia de Saúde na Prevenção de Doenças (Parte I)

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As epidemias consistem na rápida manifestação coletiva de uma determinada doença, que se espalha de uma região onde foi identificada para diferentes regiões de um mesmo país, podendo evoluir para pandemia quando sua disseminação se torna mundial. Os primeiros registros de epidemias surgem a partir de relatos dos povos hebreus em que fazem referência as ”Pragas do Egito” que aconteceram a mil anos antes de Cristo (RODRIGUES; XAVIER, 2016; HERNÁNDEZ-MESA, LLANES, BETANCOURT, 2020). Nessa perspectiva, algumas doenças ganharam destaque em nível global e nacional, devido aos seus dados epidemiológicos e suas consequências para a saúde.

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Epidemias que Impactaram na Saúde Pública

A Peste Negra foi uma epidemia que ocorreu na Europa, no século XIV, entre 1348-1350, sendo responsável pela morte de aproximadamente 200 milhões de pessoas quando a população mundial era estimada em 450 milhões (ANDRÉS; GUILLERMO; STANLEY GUILLERMO, 2019).

Nos últimos anos ainda foram registrados casos da Peste Negra pelo mundo. Entre 2010 e 2015, foram relatados 3.248 casos dos quais resultaram 584 mortes e em 2017 houve um surto em Madagascar, com um total de 2.348 casos (entre os confirmados e os suspeitos) e 202 mortes (WHO, 2018).

O agente etiológico responsável por essa doença é a bactéria Yersinia pestis, que é transmitida aos humanos por meio de picadas de pulgas infectadas (provenientes de ratos), assim como pela exposição de lesões de pele aos animais mortos contaminados (FOLLADOR, 2016). Supõe-se que essa mesma bactéria causou a Peste Justiniana no século VI d. C, no Meditarrâneo, e uma segunda epidemia de Peste Negra no século XIX, na China (LIMA et al., 2020).

A partir do contágio, o indivíduo passa a desenvolver uma das três formas de peste: a bubônica, a pneumônica e a septicêmica.

A primeira forma de peste, a mais marcante na história medieval, provoca os sintomas: febre, aumento dos gânglios linfáticos, delírios e erupções cutâneas escuras com secreções de pus e sangue. A segunda forma, a pneumônica, resulta da evolução da peste bubônica e ocorre quando a bactéria atinge os pulmões, o que causa bronquite, dores no peito e expectorações de sangue. Já a forma septicêmica leva a um choque séptico e à morte por hemorragias (WHO, 2017; GIBERT, 2019).

Atualmente não há vacinas contra a Peste Negra, porém devido a continuidade de surtos dessa doença neste século, existem cerca de 17 vacinas sendo testadas (SUN; SINGH, 2019). As medidas preventivas contra esta doença são: evitar o contato próximo com indivíduos com tosse e reduzir o tempo de exposição em aglomerações populares, pois há risco de transmissão na forma pneumônica. Além disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda evitar o contato com animais mortos e utilizar repelente contra insetos em áreas endêmicas (WHO, 2017).

A Raiva foi uma outra grande epidemia. Os primeiros relatos ocorreram em 1709, no México, mas sua epidemia na América ocorreu de 1768 a 1771, tendo como destaque os Estados Unidos, onde a transmissão ocorria pela mordida de cães e raposas. Contudo, os primeiros relatos da raiva na América do Sul só ocorreram em 1806, na Argentina, que repercutiu na disseminação para regiões adjacentes, atingindo 150 países e representando 59 mil mortes por ano. No Brasil, os relatos sobre essa doença ocorreram por volta de 1973, porém entre os anos de 1990 e 2017 foram registrados 594 casos em ambientes urbanos, sendo que no período de 2000 a 2009, os casos não só eram transmitidos pelos cães como também pelos morcegos (VARGAS; ROMANO; MERCHÁN-HAMANN, 2019).

Ela consiste em uma doença infecciosa aguda, de caráter fatal que é causada pelo vírus Lyssavirus, que se concentra na saliva de animais e seres humanos e apresenta a capacidade de percorrer todo o corpo do hospedeiro e atingir o Sistema Nervoso Central (DE OLIVEIRA; GOMES, 2019). Na França, o processo de imunização humana foi consagrado, em 1885, a partir dessa doença, tendo como principal responsável, o cientista Louis Pasteur (VOGT, 2014).

A transmissão dessa doença para os humanos se dá principalmente pela mordida do animal infectado, momento no qual o vírus presente na saliva é introduzido no organismo do indivíduo, permanecendo assim por mais de um ano (DE OLIVEIRA; GOMES, 2019).
Um dos importantes fatos para os baixos números de casos da raiva no Brasil, se deve as campanhas anuais de vacinação contra essa doença em cães e gatos. Essas campanhas se iniciaram em 1973 por meio da criação do Programa Nacional de Profilaxia da Raiva (PNPR), o que reduziu drasticamente o número de casos. Dessa forma, a profilaxia com a vacina antirrábica é a forma de evitar a disseminação do vírus e pode ser realizada pela aplicação de um esquema de pré-exposição da população considerada de risco, ou pós-exposição para indivíduos que foram mordidos ou feridos por um animal suspeito (RODRIGUES et al., 2017).

A Varíola é uma doença infectocontagiosa relatada desde o século IV, sendo os séculos XVII e XVIII o período de sua maior incidência, quando foi considerada pela Europa uma epidemia e um importante problema de saúde pública. Posteriormente, essa epidemia assolou os demais continentes, inclusive a América (TOLEDO, 2005). Cerca de 30% dos infectados pela varíola evoluíram para óbito, contabilizando mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo vítimas dessa doença (BRASIL, 2005a; HOCHMAN, 2011; TESINI, 2019).

No Brasil, o ápice da epidemia de varíola ocorreu em 1908 e foi responsável pela morte de milhares de pessoas. Essa doença representou um marco no contexto da imunização do país, pois foi a partir dessa epidemia que o Brasil teve a sua primeira vacinação em massa (BRASIL, 2005a; HOCHMAN, 2011).

Causada pelo Poxvirus variolae, os infectados pela varíola apresentam sintomas como dores generalizadas, febre alta, vômitos e também formação de ‘’bolhas’’ na pele, o que gera cicatrizes posteriores (GARCIA; SOUZA; PEREIRA, 2017).

A importância da Varíola no contexto da saúde mundial se deve ao fato de que a descoberta da vacina ocorreu a partir dessa doença. No ano de 1789, a partir da observação de Edward Jenner (médico britânico), sobre as mulheres ordenhadoras de vacas que não contraíam a varíola, porém, desenvolviam minúsculas lesões em suas mãos, o médico realizou um experimento, no qual aplicou linfa de ferimentos de uma dessas mulheres em um garoto, partindo do pressuposto que a pústula da varíola bovina poderia imunizar aqueles que entrassem em contato com a mesma. E a partir disso, deu-se o nome de vacina ao processo de imunização humana, sendo esse nome derivado do latim vacinnus, o que significa ‘’das vacas’’ (GARCIA; SOUZA; PEREIRA, 2017).

A Tuberculose (TB) é uma doença cujo surgimento se confunde com a própria história da humanidade, visto que sobre a mesma há relatos desde os primórdios da civilização (DE OLIVEIRA; PETRONI, 2017).

Embora a ciência apresente amplo conhecimento acerca da tuberculose ela continua a acometer indivíduos de todo o mundo, apresentando uma alta taxa de mortalidade, até os dias atuais. Essa doença se caracteriza por ser infecciosa, atingindo, principalmente, os pulmões. Seu agente etiológico é o Mycobacterium tuberculosis e pode ser transmitido a partir da inalação de gotículas contendo esses microrganismos, que podem ser expelidos pela fala, tosse e espirro (DE OLIVEIRA; PETRONI, 2017; DE PAULA, 2019).

Relatos históricos apontam que a TB foi responsável por uma epidemia na Europa durante o século XVIII, apresentando uma taxa de mortalidade correspondente a 900 mortes a cada 100 mil habitantes, durante um ano. Essa doença ocorreu principalmente nos países industrializados devido ao aumento da taxa de urbanização e às condições de vida insalubres, o que impulsionou a proliferação dessa doença. No Brasil, os primeiros casos de tuberculose ocorreram em meados do século XIX, e ficou conhecida como “A praga dos pobres”, devido à relação direta com os moradores em condições insalubres (GUIMARÃES et al.,2018; MASSABNI; BONINI, 2019).

Atualmente, a TB é considerada uma doença tropical, endêmica, em comunidades de baixa renda, sendo resultado da falta de políticas públicas voltadas para o saneamento básico e educação em saúde (GUIMARÃES et al.,2018). Com a descoberta do agente etiológico da tuberculose, foram realizados estudos para o desenvolvimento de medidas preventivas, entre elas, a vacina Bacilo de Calmette-Guérin (BCG) que passou a fazer parte do calendário de vacinação infantil e que é disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), como forma de proteger os recém-nascidos contra as formas graves da tuberculose (REIS et al., 2019).

A Febre Tifoide é uma doença infectocontagiosa que surgiu em 1880 causada pela bactéria Salmonella typhi. Sua transmissão está associada à ingestão de alimentos e bebidas contaminados com fezes humanas, devido à falta de saneamento básico e à má higienização desses produtos. Ela tem como sintomas: febre alta e prolongada, diarreia, fortes dores de cabeça, falta de apetite, manchas rosadas no tronco e tosse seca (NEVES et al., 2017; BRITO et al., 2020).

Essa doença atingiu proporções mundiais e foi responsável por 21 milhões de casos em todo o mundo, acarretando em 222 mil mortes, sendo mais prevalente em países da Ásia e África. No Brasil, essa doença apresentou alta incidência em áreas urbanas, sendo considerada um problema sanitário grave devido ao número de óbitos (COUTO, 2017; RUCKERT; SCHWARTSMANN, 2018; SBIM, 2019).

Sua prevenção foi feita principalmente pela melhora das condições sanitárias, higiene pessoal e cuidado no preparo de alimentos, além da vacina que é indicada para viajantes que se dirigem a zonas de risco e lá irão permanecer por tempo prolongado (NEVES et al., 2017; BRITO et al., 2020).

A Gripe Espanhola teve proporções pandêmicas entre os anos de 1918 e 1919. Essa doença recebeu a terminologia “espanhola”, pois foram os jornais da Espanha os primeiros a relatar os casos dessa afecção em combatentes da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Ela teve início em soldados no estado do Kansas, nos Estados Unidos da América, e se espalhou rapidamente para os demais continentes. Estima-se que essa pandemia, em dois anos, causou mais mortes que os quatro anos de guerra, com um número de 20 milhões de vítimas. No Brasil, o número de mortos chegou a 300 mil (KIND; CORDEIRO, 2020).

O agente etiológico responsável por essa doença é o vírus influenza A (H1N1), o qual viria a causar outras epidemias posteriores devido a facilidade de mutações (SARTORI, 2017). Os sintomas da Gripe Espanhola eram semelhantes a uma típica gripe sazonal e as mortes ocorriam nos casos graves por pneumonia (PARK et al., 2021).

A primeira vacina para a gripe provocada pelo vírus influenza A surgiu em 1945 por meio da multiplicação do vírus inteiro e inativado em ovos de galinha embrionados. Entretanto, durante uma nova epidemia de gripe em 1947, averiguaram-se mudanças nas cepas do vírus, o que levou à ineficácia das vacinas existentes. Diante disso, em 1948, foi fundado pela OMS o Centro Mundial da Gripe, com a função de monitorar regularmente as cepas do vírus a fim de possibilitar o desenvolvimento de tecnologias atualizadas (GALLO, 2020). Atualmente, os centros nacionais de Influenza exercem essa função (WHO, 2021a).

O influenza A é um vírus capaz de desencadear infecções agudas do sistema respiratório, também conhecidas como gripe, a qual acomete tanto humanos quanto animais, a exemplo de suínos e aves. Esse vírus sofreu diversas mutações e entre elas, deu-se o surgimento da cepa pdm09, que originou a gripe A (H1N1) ou gripe suína, e contribuiu para sua transmissão. Essa cepa foi primeiramente identificada em 2009, nos Estados Unidos e no México, e se disseminou por 214 países (DE PAULA; RIBAS, 2015; CRUZ et al., 2017). Com isso a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou estado de pandemia em estágio 6, o que significa a presença do vírus em, no mínimo, dois continentes, configurando um importante problema de saúde pública. Foram confirmados laboratorialmente 50 milhões de casos e mais de 18 mil óbitos entre os meses de abril a agosto de 2009, sendo essa estimativa incerta, pressupondo ser esse número até 15 vezes maior. Nesse mesmo ano, no Brasil, a pandemia do H1N1 acometeu certa de 50 mil pessoas, com 4% de vítimas fatais (SILVA et al., 2015; CÂNDIDO et al., 2020)

Como forma de prevenir complicações e mortalidade provenientes de sua infecção, assim como gastos com a saúde pública, a OMS recomenda a vacinação coletiva, principalmente em idosos e pessoas com comorbidades, uma vez que são os grupos de risco dessa doença. A vacina pode ter ação contra três ou quatro cepas diferentes desse vírus sendo considerada trivalente ou tetravalente (AUGUSTO DA SILVEIRA, 2019).

 

 

Fonte: BOLETIM INFORMATIVO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO TUTORIAL – PET-FARMÁCIA/UFPB

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