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Tudo vai passar quando carnaval chegar

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O carnavalesco Chico Buarque de Hollanda se guardou para quando o Carnaval de 1984 chegar, e chegou com direito a alegria fugaz, uma ofegante epidemia que é a festa do Carnaval. Chico Buarque, o carioca da gema despontou na radiofonia, invadindo as ruas das cidades brasileiras arrastando a multidão no grande bloco carnavalesco denominado de O Sanatório Geral. Sua passagem arrepiou até os paralelepípedos das velhas cidades, resgatando os velhos sambas imortais e as lembranças de antigos carnavalescos que deixaram suas marcas espalhadas pelo chão, num tempo em que se via, sentia e escutava sem poder falar, o jeito era se guardar pra quando Carnaval chegar.

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Encontrou na boemia buarqueana a Noite dos Mascarados em meio à multidão disfarçada procuravam os seus namorados perguntando quem é você? Dançando, cantando e sambando encontraram em meio à brincadeira: pierrôs, colombinas, seresteiros, poetas e cantores abrindo alas para os barões famintos, o bloco dos napoleões retintos e os pigmeus do boulevard. Deixando o carnaval chegar.

Depois o samba saiu procurando você, quem te viu, quem te ver, porque amanhã tudo volta ao normal deixa a festa acabar, deixa o tempo correr, deixa o dia raiar, porque hoje é carnaval, e eu sou da maneira que você quiser, o que você me pedir eu lhe dou, seja você quem for, seja o que Deus quiser.

Num sonho de Carnaval deixou a dor em casa esperando, se vestiu de rei para brincar e gritar uma canção num só cordão, arrastado em meio à multidão toda uma cidade a cantar a evolução da liberdade até o dia clarear. Porque a vida é boa quando se pode gritar vendo a barra do dia raiar, e se guardando pra quando o Carnaval chegar.

Quando a festa chega ao auge, a folia toma conta da cidade e a porta do bar já fechou, quando ninguém mais tinha dono, o garçom já estava com sono e a primeira edição circulou, de repente da porta do fundo do oco do mundo desponta o cordão, eis que chega a Turma do Funil para alegrar a festa, beber sem modéstia, sem dormir no ponto, porque, eles bebem e os outros ficam tontos.

Em 1998 mais uma vez o samba saiu com a Mangueira pra Iaiá ver seu guri desfilar. Chico Buarque transformou a pista num grande palco, cheio de personagens capazes de mudar o cotidiano da gente, levou consigo a vida da Morena dos Olhos D’agua que vivia a fitar o mar, a Rita que levou seu sorriso e seu assunto, e que ficou a ver navios com a fuga de Madalena, que esperava a volta de Cristina que caiu nos braços do malandro Nicanor, todos na Flor da Idade dentro do Grande Circo Místico, pedindo Mil Perdões ao Suburbano Coração que não aguenta mais de Tanto Amar.

Quando chega a quarta feira ela desatinou viu acabar brincadeira, desmanchar as bandeiras, morrer alegria, rasgar fantasias; e ela continuou sambando. Sem ver que toda a gente anda sofrendo normalmente, que toda cidade já está esquecida da falsa vida, da avenida, causando inveja da sua vida feliz, mergulhada no seu mundo de cetim, debochando da dor, do pecado, do jogo perdido e do tempo acabado. Porque tudo vai passar.

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1 COMENTÁRIO

  1. Fantástico artigo, um ensaio de carnaval da lavra de Cristina Couto como somente ela sabe fazer. Juntou muitos carnavais num só. Colocou na avenida sob a batuta de ninguém menos do que Chico Buarque de Holanda. Na avenida ela colocou a Estação Primeira de Mangueira a religião do samba para coroar a pérola carnavalesca.

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