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Sinfonia de sabiás

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Em face das primeiras chuvas deste janeiro, os finais de tarde na Serra se enchem de sonoridade; cigarras e sabiás estabelecem diálogo puro e melodioso, entremeados de tinidos de outros pássaros, na música divina, esplendorosa, longe das aflições dos humanos perdidos lá embaixo, na distância do vale. Tais bandos de borboletas coloridas, cigarras circulam de cicios a solidão da mata em sucessivas ondas, tecendo de surpresa o silêncio que aos poucos regressa e logo invadirá a Terra.

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Houvesse dúvidas do poder infinito da Criação, essas horas bem que desfariam e se refariam nas almas por demais embrutecidas por causa das fainas do chão. Sinais imensos, magistrais, da grandeza dos Céus, as aves insistem nisso de convencer as últimas resistências dos sórdidos. Em orações continuadas, persistem reverter quadros da ilusão das mentes dos últimos ateus; limam presas derradeiras nas feras do Sertão bravio; e suavizam de paz os corações enternecidos.

Horas a fio, no longe das distâncias intransponíveis desses brejos do espírito, o invisível do eco festeja as estrelas que virão às praias de amores e luzes, na saudade feliz dos mais perfeitos sonhos. Leves instrumentos em mãos misteriosas, os acordes calmos, tons inesgotáveis da pura condição dos seres inocentes, mergulham na tarde que esvai e pinta aquarelas interiores nos horizontes da beleza. Avisos. Convites. Notícias doutros mundos santos; doces palavras em forma de cores e acordes.

Esse abismo entre o ser e a percepção da realidade cresce, pois, no espaço do sentimento, e a natureza fala. A Eternidade, em miríades de sons, portas dos segredos universais, desce seu manto da escuridão e desfaz réstias do dia nas promessas de comunhão dos ouvidos e do vazio, enquanto somem as intenções dos homens de reter a verdade que querem dominar. Some o que ainda existia de promessas e claridade. Responde assim, alegres, os pássaros, em desafios harmônicos, a esperança das primeiras chuvas e deixam as canções do dia no coração que ali incendeia.

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