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Como é delicado cuidar!

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Esta nossa conversa de hoje poderia começar assim: “Era uma vez…”, mas prefiro iniciar assim: Certa vez encontrei um amigo, desses que guardamos bem lá no cantinho do coração, que me presenteou com um livro, acredito que ninguém conhece: O Pequeno Príncipe – Antoine de Saint -Exupéry. Claro que estou brincando, pois quem não conhece o Pequeno Príncipe? Eu, até então, não o conhecia. Minhas leituras àquela época, eram voltadas para a literatura brasileira, e por incrível que pareça, A volta ao Mundo em Oitenta Dias, de Júlio Verne foi o primeiro livro que li. Me foi apresentado por uma freira por quem, até hoje, tenho profundo carinho, Irmã Socorro, que me lecionava Português no Patronato Madre Mazarello em Anápolis – Goiás.

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Quando saímos de Pombal, ainda muito jovens, eu só tinha 11 anos. Fomos para Brasília, mas só passamos um ano, em seguida, fomos morar em Anápolis, cidade que dada as devidas proporções, me sentia melhor porque em algumas coisas parecia com Pombal. Então, chegando ao Colégio, Irmã Socorro se afeiçoou a mim, e dizendo que eu tinha talento para a literatura, deveria ler muito. Assim, fui de certa forma obrigada estudar dois turnos: um com as disciplinas normais e outro, exclusivamente com ela, para que eu melhorasse minha caligrafia e pudesse ter acesso aos livros que ela achava importante que eu conhecesse. Foi assim, que iniciei minha grande viagem com Júlio Verne. Que viagem! Mas quero voltar ao Pequeno Príncipe.

Ainda o leio, ainda aprendo com ele. Aprendi também com ele, algumas formas de cuidar. Imagine! Mas cada um vê no Pequeno Príncipe o que deve. Eu aprendi a dar valor as pequeninas coisas, a amar, mesmo por poucos momentos. Mesmo que esse “pouco”, não tenha a dimensão do tempo que conhecemos. Quando amamos coisas muito delicadas, elas podem estar em perigo, ou apesar de apresentar tanta delicadeza, “A flor que tu amas não está em perigo” (Exupéry). “quando nascemos ao mesmo tempo que o sol”.. provavelmente temos mais tempo para apreciar as coisas que nos são apresentadas, as pessoas que estão em nosso caminho, o Planeta que chegamos nele, não só para vivermos, muito provavelmente para sermos aqueles jardineiros cuidadores.

Fico um pouco impressionada com alguns jovens que falam do tempo como se não tivessem noção dele. Escuto alguém perguntando: Você nasceu no século passado? Minha gente, este século só têm 22 anos, ou alguns se consideram velhos, ou realmente, não olharam para trás, pra saber o que significa as conquistas de hoje. O avanço da tecnologia, que veio para facilitar a vida das pessoas, está muito bem cumprindo seu papel, mas também como tudo na vida apresenta dois lados de uma mesma moeda. Sei que os que nascem hoje, assim como minha netinha, nascem com “chip” avançadíssimo, mas assim como, para compreendermos o hoje, precisamos dar uma olhadinha na História. Aconselho a esses jovens, olharem e conhecerem, assim como se faz quando se visita um museu. Vocês já imaginaram que, por exemplo, para se passar um fax, um tipo de mensagem por escrito, nos anos de 1984 tínhamos que ir à Empresa de Correios e Telégrafos do Recife para utilizar esse tipo de comunicação? Que mudança em? Pois bem, hoje utilizamos os celulares e nem sabemos o que veio antes deles.

Estou fazendo este longo percurso para voltar às facilidades que temos hoje de nos falarmos por esses sofisticados aparelhinhos, mas estamos esquecendo que mesmo contando, com as facilidades que eles nos oferecem, existem dois elementos em cada lado desses, chamadas pessoas. Seres humanos. Que com a pandemia, ficaram mais próximos a nós, apenas por voz, mas completamente distantes de nossos braços.

Em 2008, Leonardo Boff, escreveu uma obra chamada Saber Cuidar, e tem um trecho que gostaria de transcrever para que possamos fazer uma reflexão mais aprofundada de nossa geração e de nossas atitudes:

O tipo de sociedade do conhecimento e da comunicação que temos desenvolvido nas ultimas décadas ameaça a essência humana. Porventura, não descartou as pessoas concretas com as feições de seus rostos, com o desenho de suas mãos, com a irradiação de sua presença, com suas biografias marcadas por buscas, lutas, perplexidades, fracassos e conquistas? Não colocou sob suspeita e até difamou ao conhecimento objetivo, o cuidado, a sensibilidade e o enternecimento, realidades tão necessárias para a quais ninguém vive e sobrevive com sentido? Na medida em que avança tecnologicamente na produção e serviço de bens materiais, será que não produz mais empobrecidos e excluídos, quase dois terços da humanidade, condenados a morrer antes do tempo? (Boff, 2008).

Lembrando que é uma obra escrita em 2008, não havíamos passado pelo advento do COVID 19, mas mesmo assim, vale a reflexão.

Gostaria de falar um pouco mais do cuidado como imagino, e quando me permite, procuro praticar. Também o cuidado que sonho. Quando chegamos ao Planeta Terra, Deus foi logo nos dando um lugar pra viver, então, precisamos ou precisaríamos, ter muito cuidado com ele, lembrando, que ele vive sem nossa espécie, mas nós, não vivemos sem essa Grande Casa – A Mãe Terra. O que estamos fazendo com essa casa? Como temos tratado nosso lugar? Depois, Deus foi mandando pra cá um monte de pessoas, um pouco rudes, e no meio deles, alguns mais evoluídos, para que através do exemplo deles, pudéssemos aprender também.

Dando um grande passo no tempo, descobrimos que precisávamos uns dos outros, precisamos do calor do outro, da sabedoria do ouro, passamos então a viver em pequenas comunidades. Surge então, as nossas famílias. Com essas, quanto aprendizado! Em um pequeno lugar, e as vezes, minúsculos, precisamos conviver com pessoas tão diferentes, mas não foi por acaso que isso aconteceu. Quando o Grande Mestre nos criou, uma grande equipe de Planejamento, cuidou de cada detalhe. Eles já conheciam o que hoje chamamos de “Planejamento Estratégico”, mas precisávamos apender, e, aprender uns com os outros. Por isso não somos, nem seremos iguais. Seremos sempre diferentes, e precisamos aprender a conviver com essas diferenças, até nos tornarmos perfeitos.

Do sonho? Ainda sonho sim. E muito! Ainda sonho caminhando à beira Mar de Tambaú, de mão dadas, apreciando a energia da mão de quem me segura, de quem me vê, não meu exterior, mas o que sou por dentro. Precisamos amar, de forma a fechar nossos olhos, o lembrar de cada detalhe daquele corpo, cabelo, olhos, nariz, batidas do coração, dos gostos, dos sonhos e das tristezas. Não estou falando de sexo, estou falando de amor e de cuidar. Sexo se faz com qualquer um, é só querer.

Meus filhos, lembram das mãos de minha mãe, de minhas tias e tios, do meu pai, isso só foi possível, por conviveram porque sentaram pra conversar, pra se conhecer. Para se amar, não é preciso gostar de tudo que o outro goste, mas é preciso respeitar, ter companheirismo, respeito, esse é o verdadeiro AMOR. E CLARO, QUEM AMA CUIDA!. Essa frase não é minha, mas gosto muito dela.

Fico imaginando, que quando Jesus disse “Amai-vos uns aos outros”, Ele não estava dizendo: cuida uns dos outros!
Pense neste momento: eu me cuido? Essa responsabilidade é nossa. Depois, cuido de alguém? Eu me permito ser cuidada(o)?

Voltando a Exupéry: “Será como a flor. Se tu amas uma flor que se acha numa estrela, é doce, de noite, olhar o céu. Todas as estrelas estão floridas”.

Olhemos o céu cheio de estrelas, nos tornemos apreciadores das flores, da Terra e o do ser humano.

 

Fonte:
Saint-Exupéry. Antoine – O Pequeno Príncipe. – Livraria Agir Editora – Rio de Janeiro – 1975;
Boff. Leonarado – Saber Cuidar: Ética do humano – compaixão pela terra/ Petropólis- RJ: Vozes 2008.

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