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Deus Salve a América do Sul

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A explanação de João Vicente Machado a respeito do Tango despertou em mim sentimentos sul americanos carregados de lembranças, e de músicas compostas por artistas brasileiros preocupados com a internacionalização da cultura e do capital pelo qual o Brasil passava no final da década de 1960 e 70, especialmente, no campo musical que estava sendo invadido pela música norte americana e inglesa. A guitarra substituindo o violão, o teclado a sanfona, além dos ritmos, vestimentas e costumes.

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Em 1968 surge o Movimento Tropicalista encabeçado por Caetano Veloso, Gilberto Gil, Os Mutantes e Tom Zé, difundindo gêneros brasileiros como o baião, o caipira e mostrando o pop e o rock nacional. O movimento acabou influenciando outros campos artísticos. Como o Cinema Novo, revelando Glauber Rocha, o Teatro que revelou José Celso Martinez e as Artes Plásticas na inspiração anarquista de Hélio Oiticica.

Inconformado e indignado com a intromissão da música e costumes estrangeiros no Brasil, Caetano Veloso compôs Baby, uma severa crítica aos acontecimentos daquele final de década na vida do povo brasileiro, em especial dos jovens que estavam deixando a beira mar que tanto inspirou a Bossa Nova pelas piscinas dos luxuosos terraços dos suntuosos prédios das grandes cidades, da margarina entrando nos lares brasileiros através das belas e inspiradoras propagandas exaltando os produtos da modernidade.

A música segue numa sequência de objetos materiais e coisas imateriais, mostrando a cultura do consumidor e a cultura nacional, Chico Buarque e Roberto Carlos como contra ponta a nova cultura de massa, ele viu tudo ser substituído e muitas palavras agora estavam estampadas na Língua Inglesa em tudo e em todos os lugares. Não sei leia na minha camisa, e ainda, alerta sua irmã para a necessidade de aprender inglês (você precisa aprender inglês) para entender o que ele sabe e o que ele não sabe mais. Ele repete palavras simples em inglês, a língua que veio junto com a cultura de massa, com o rock n’roll e a propaganda.

Em 1975, também preocupado com a internacionalização da cultura, Paulo Machado, compõe a música América do Sul, interpretada por Ney Matogrosso, num clip exibido no Fantástico, onde Ney está vestido como um Índio mexicano e numa explosão de voz e de performance deixou correr os rios, exaltou a beleza da pele morena, e a efervescência do nosso calor que faz suar nos campos essa força tropical. Saudando e despertando em nós as belezas que compõem a toda a América Tropical.

Deus salve a América Central esse orgulho latino que se ver em cada olhar e o canto que nasce da aurora tropical, despertando o claro e amado sol que ilumina toda essa terra tropical, brotando o talento em cada chão desse imenso continente musical que fez renascer nos filhos o resgate cultural.

No ano seguinte, mais precisamente, em 1976, enquanto, os outros sonhavam Belchior estava de olhos abertos e desesperadamente gritando em português na tentativa de salvar a cultura latina, em especial, a brasileira, através da Língua Portuguesa que para Belchior tinha um sentido e uma preocupação toda especial, ele via o mundo musical dividido em duas vertentes: a do universo da Língua Inglesa e a outra da Língua Latina, ocupando um lugar resumido, pequeno, apesar do imenso sentimento que as músicas latinas carregam por causa da música brasileira, do sentimento português, e da influência africana no mundo latino.

No auge dos seus 25 anos de idade com a ebulição do sangue latino que corria em suas veias, Belchior vivia e sonhava com um continente mais ligado as suas raízes, preferindo um tango argentino ao invés do blues, pois ver os jovens da sua época curtindo as músicas inglesas causava nele desespero, e sua única arma era o som e a palavra que ele usava como navalha, como faca para cortar a carne, o uso da palavra cortante no sentido de punção, de corte mesmo para atingir profundamente a garganta seca, a lâmina da voz, a palavra como lâmina sem a força do braço, usada como alerta, como protesto.

E aquele rapaz latino americano que se aventurou nas estradas do sul em busca das maravilhas cantadas através das ondas sonoras do rádio na canção e na voz de um compositor baiano que dizia que tudo era divino, tudo era maravilhoso se desfez quando ao se deparar com a realidade viu que tudo tinha mudado e com toda razão. E que na vida nada era proibido, nada era sagrado e nem misterioso.

 

 

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1 COMENTÁRIO

  1. Ontem por motivo de força maior (saúde) não pude comentar o excelente artigo de Cristina Couto. Somente hoje é ainda convalescendo é que devo manifestar mais uma vez a minha admiração pela capacidade de síntese dessa maestrina das letras. Ela consegue com perspicácia, com leveza e uma magistral narrativa, contextualizar os fatos dando-lhes vida num artigo espetacular como esse.

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