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Nossa Senhora do Rosário dos Pretos – Amor e Resistência

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Neste mês de outubro, em nossa Paraíba, muitas são as cidades que comemoram a Festa de Nossa Senhora Do Rosário. Nascida em Pombal, tenho profunda admiração por essa festa, que apesar de não reverenciar a padroeira da cidade (título atribuído a Nossa Senhora do Bom Sucesso) é a maior e mais famosa festa do município. Meu encantamento pela devoção a Nossa Senhora do Rosário só aumentou quando, em meu mestrado em Ciências das Religiões, descobri e me aprofundei na tradição das Irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos.

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Apesar de ser a festa profana, como em todos os lugares, a alegria da juventude e das crianças; dos grandes encontros, do início de grandes amores e de lembranças que permanecem em nossas memórias, não me delongarei sobre ela. Aqui farei referência à festa religiosa. Creio que não seja necessário falar da devoção e do novenário dedicado a Maria. Quero me aprofundar um pouco mais no significado de toda essa festa.

 

Ao Entrar na pequena Igreja do Rosário, não deixo de viajar no tempo, no significado daquele templo, daquele lugar e de seus construtores. Quero falar da Fé. Fé que faz um homem viajar de Pombal à Olinda, a pé, para pedir autorização a uma autoridade religiosa, para concretizar um templo de fé.

A História de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, não nasce em Pombal. Esta História, vem de longe, de tempos muito remotos

O INÍCIO DA DEVOÇÃO
O Frei Francisco Van Der Poel traz, em “O Rosário dos Homens Pretos”, publicado em 1981, a História da irmandade de Nossa Senhora do Rosário, que começa na Europa ainda no tempo de São Domingos (1221), no século 13. Após o tempo inicial, caiu em esquecimento, voltando a crescer, por volta dos séculos 14 e 15. Sabe-se que as histórias de muitos milagres e acontecimentos vividos que chegaram ao Brasil através de Portugal. No livro “Os admiráveis milagres do Santo Rosário” de 1658 (Nome holandês: De wonderbaere mirakelen van de H. Roosencrans), pelo dominicano Petrus Vloers, da Antuérpia, traz uma coleção de 41 histórias e milagres recolhidos, na Europa e uma na América Latina, com o objetivo de promover a devoção e divulgação da Irmandade do Rosário.

O primeiro volume trás uma carta de Felipe IV, Rei da Espanha, de 19 de fevereiro de 1644, ordenando que fosse rezado, publicamente, um rosário em todos os lugares e igrejas que tivessem uma irmandade do rosário. As Irmandades do Rosário se estendiam de Colônia, no norte da Europa, a Barcelona, no sul.

Irmandades em Portugal, África e Brasil.
Foi a partir da catequese dos missionários Portugueses que as irmandades foram introduzidas na África e, posteriormente, chegando ao Brasil. São Irmandades tidas como as mais antigas no Brasil, a do Rio de Janeiro (1639), Belém (l682), Salvador, Recife e Olinda (todas da década de 1680). Não poderia deixar de falar da de Pombal, que apesar de divergências quanto a data de fundação, esta é tida formalmente como sendo em 1888.
Francisco Van Der Poel. Ofm., conta algumas histórias que demonstram a indiscutível afinidade de Nossa Senhora pelos negros, numa delas, contada por irmãos da Confraria diz que: “Apareceu Nossa Senhora, sempre como é costume de aparecer. Eles acharam bonito, e quiseram tirar ela do lugar que apareceu. Levaram a banda de musica bonita e tal e panhou ela e levou. E botou numa igrejinha que eles fizeram. Então, quando amanheceu o dia. Ela não estava lá. Que ela voltou pro mesmo lugar que ela apareceu. Disse que reuniram um bocado de viola, violão. Chegou lá e cantou e tal e “panhou” ela e botou na igrejinha outra vez que eles fizeram. Quando foi no outro dia ela voltou. Bom, enfim disse: vamos arranjar uns tambor? – E arranjou esse tambor ocado e tal e reuniu aqueles “nêgo” cativo e tudo, pobres só, então foi: Quando chegou lá, bateu tambor e tal, cantou e louvou ela e tal, ”panhou” ela e botou ela na igrejinha; ai ela ficou. Os brancos com seus refinados instrumentos musicais queriam levar a imagem para igreja contudo não conseguiram. Os negros, por sua vez, com tambores e dança, levam a imagem para a igreja, assim, Nossa Senhora, ela mesma adotou o tambor, demonstrando que aceitaria que os negros poderiam exercer a sua devoção à sua própria maneira. A Irmandade do Rosário é, na igreja católica, talvez, o único lugar em que o negro sempre foi aceito com seus tambores e reis.

Ficou, então eles continuaram fazer festa dela. Marcou prá o mesmo domingo de mês de outubro sempre, como é de costume. Sempre ela vai feita. (“Depoimento de Antonio da Silva Araçuari, MG 1975)

É importante que nos lembremos, que todos os anos que comemoramos a festa de Nossa Senhora do Rosário, estamos comemorando uma época de libertação e um povo sofrido que para aliviar suas dores, “tomaram” como madrinha a Mãe de Jesus para que pudessem se fortalecer e enfrentar as dores de um passado, que antes foi de correntes atadas a seus pés, de um povo que lhes foi negada a dignidade de seres humanos, apenas porque tinham mais melanina em sua pele do que nós os “brancos”, temos. Seres humanos, tão humanos, que foram escolhidos pela Mãe de Jesus para proteger.

A ênfase desse artigo, é mostrar a grande madrinha que tiveram e ainda a tem. A maior de todas as rainhas. Nos relatos, querer ser recebidas pelos tambores, é optar pelo simples e significativo som que representa um povo! A Mãe de Jesus, com o grande Amor que A representa, é quem cuida de todos que passam e passaram pelos maiores sofrimentos. Viva a Mãe de todos nós!

Viva Nossa Senhora do Rosário. Que as Contas de Seu Rosário possam representar um povo, uma nação que pede socorro e sua Benção!

 

Fonte :Foto festa Pombal 2021 – Diário do Sertão

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