Por: João Vicente Machado Sobrinho;
Sebastiao Salgado, nasceu no ano de 1944, na cidade de Aimorés, nas Minas Gerais, mais precisamente na Fazenda Balcão e faleceu no dia 23 de maio de 2025 aos 81 anos de idade. O Rio Manhuaçu que banha sua cidade natal, além de ser o Rio da sua infância, é um dos tributários da sofrida bacia hidrográfica do Rio Doce.
Salgado graduou-se no curso de ciências econômicas pela Universidade Federal do Espírito Santo-UFES, antes de ser o fotógrafo consagrado que viria a se tornar. Na sequência obteve o grau de mestre pela universidade de São Paulo em 1968, e por fim o grau de doutorado pela Universidade de Paris em 1971. O curso escolhido por ele e a diversidade do seu curriculum vitae, dá uma mostra fiel da sua preocupação com as chagas sociais do seu povo, como uma decorrencia direta do modelo de gestão capitalista.
É aí que entra em cena o cidadão Sebastião Salgado, com a grande amplitude de visão de que era possuidor, além de possuir uma enorme sensibilidade e um grande talento para a arte da fotografia. Foi como especialista em fotografias que ele se tornou famoso e direcionou a sua arte para a fotografia documental, vindo a se consagrar mundialmente na modalidade da fotojornalismo, principalmente o jornalismo social.
Como uma das muitas vítimas, das perseguições que lhe foram movidas pela Ditadura Militar no Brasil, ele foi obrigado a se auto exilar em Paris no ano de 1969.
Entre os anos de 1971 e 1973, Salgado foi secretário da Organização Social do Café, com sede em Londres. Em uma das suas viagens internacionais para tratar da cultura do café, ele coordenou um projeto sobre o plantio da rubiácea em Angola, onde se iniciou na fotografia. A princípio usava uma máquina fotográfica acanhada e amadora, que pertencia à sua esposa Lea Wanick Salgado e, nessa época, Salgado fotografava de forma amadora e apenas como um simples hobby.
Em 1973, quando de volta a Paris, ele virou fotógrafo profissional para sobreviver, e desde já já despontava como como um fiel adepto da fotografia em preto e branco, cá pra nós, muito mais expressiva. Passou então a trabalhar como freelance em agências internacionais de notícias e de propaganda.
Em 1974, trabalhando para a empresa Gamma, ele documentou os episódios políticos da Revolução dos Cravos em Portugal. Através da cooperativa Magnum Photos, no ano de 1979, ele produziu um farto material fotográfico sobre camponeses latino-americanos, danado origem ao livro Outras Américas lançado em 1986.
Em 1981, contratado profissionalmente como repórter do jornal New York Times, ele foi incumbido de registrar em fotografias os primeiros 100 dias do governo Reagan. Um governante de extrema direita, o qual foi responsável por trocar o capitalismo de estado praticado nos USAN desde o pós guerra, pelo capitalismo de mercado, subordinado aos grandes conglomerados financeiros. Foi Sebastião Salgado, o único fotógrafo a registrar ao vivo, o atentado praticado contra Ronald Reagan e acontecido pasmem, no dia 31 de março de 1981, dia em que se iniciou o golpe de estado no Brasil.
Depois disso ele viria a trabalhar durante 15 meses no grupo francês Médicos sem Fronteiras, percorrendo a região do Sahel na África, para inspecionar e registrar os flagelos de uma devastação provocada por uma grande seca ocorrida no ano de em 1986. Entre 1986 e 1992, Salgado produziu a série Trabalhadores, que depois virou livro e no qual ele documentou e registrou a dureza do trabalho manual e as árduas condições de vida dos trabalhadores em várias partes do mundo. É patente que o mundo do trabalho sempre foi o objetivo maior de Sebastião Salgado e a grande preocupação do casal.
“O próximo tema a que ele se dedicou, de 1993 a 1999, foi o da emigração massiva de pessoas no mundo todo, dando origem à obra Êxodos e Retratos de Crianças do Êxodo, de 2000, ambos alcançando grande sucesso mundial. Um ano depois, no dia 3 de abril, o fotógrafo foi indicado para ser representante especial do UNICEF. Ele já publicou pelo menos dez livros e realizou inúmeras exposições, conquistando os prêmios mais importantes neste campo e honrarias recebidas na Europa e na América.” (1)
O fato é que Sebastiao Salgado era nascido de uma família abastada e a ele coube por herança a famosa fazenda Bulcão, da qual ele resolveu cuidar obedecendo aos princípios da sustentabilidade. Com esse objetivo em mente e com o amor telúrico que lhe era peculiar, ele assumiu a administração da fazenda, contando para tanto com a valorosa e inestimável parceria da sua inseparável companheira Lea Wanick, a qual sempre convergiu com ele em pensamento.
A área total da Fazenda Bulcão é de aproximada de 710 hectares destes, 609 hectares são reconhecidos como Reserva Particular do Patrimônio Nacional-RPPN e para administrá-la e quiçá para salvaguardá-la de um futuro incerto em mãos não muito zelosas, ele e Lea idealizaram a criação do Instituto Terra uma iniciativa de Lea Wanick Salgado.
Toda área compreendida pela Fazenda Bulcão, experimentou uma restauração ecossistêmica.
Antes, no local citado, a pastagem tinha dificuldade de vicejar e crescer, tendo sido transformada por Sebastião e Lea, numa mata fechada e numa biota cheia de vida vegetal e animal.
Como já ressaltamos, ideia do casal Salgado, tinha por objetivo básico a sustentabilidade, no lato senso da palavra. Eles se propunham a recompor a cobertura vegetal de uma área de 200 hectares e transformar o restante em reserva permanente. Antes o casal morava numa praia capixaba, em área de mata atlântica. Ao receber a herança da fazenda resolveram largar a fotografia e se tornarem fazendeiros para o restante das suas vidas. Lá encontraram um processo erosivo crescente em que parte do solo já estava morto.
Segundo depoimento de Sebastião Salgado, Lélia teria indagado a ele por que não enfrentavam o replantio da floresta. Ele sentiu-se desafiado, e no bom sentido aceitou o desafio, arregaçou as mangas e começou o trabalho árduo, moroso e seletivo. Iniciou suas ações de forma escalonada começando pelas grandes árvores nativas, porém com a consciência de que o reflorestamento não se restringe apenas sair plantando árvores à torto e a direito.
O ato louvabilíssimo de plantar arvores, deve levar sempre em conta o equilíbrio do ecossistema como um todo. Por assim entenderem, o casal que havia migrado das lentes fotográficas para recuperar um solo erodido, calcinado e quase morto, planejou um plantio seletivo e sequenciado, incluindo arvores nativas, arvores frutíferas, e arvores florais além de outras espécies do cerrado e da mata atlântica.
“Foi a primeira vez que alguém plantou uma floresta tropical em grande escala no Brasil. Para reabilitar toda a propriedade, tivemos que plantar cerca de três milhões de árvores. Eu tinha um nome na fotografia, então consegui arrecadar dinheiro e começamos a plantar uma média de 150 mil árvores por ano. Nós plantamos essas três milhões de árvores, e o Instituto Terra se tornou o maior instituto ecológico rural do Brasil. Quando se constrói uma floresta, é preciso fazer isso em uma sequência. Primeiro, você planta as espécies de árvores “pioneiras”, que criam as condições para o crescimento da floresta. Criamos um projeto para todo o Vale do Rio Doce. O vale foi batizado com o nome do rio que o atravessa, o Rio Doce. Quando eu era criança, ele era grande, cheio de jacarés; hoje, resta muito pouca água. Estamos reabilitando toda a bacia hidrográfica – cada pequeno riacho que alimenta o rio e 370 mil nascentes.Para reabilitar uma fonte de água, é preciso plantar, em média, 500 árvores em um hectare de terra. Até o momento, já plantamos cerca de 2.100 dessas pequenas florestas e acabamos de receber financiamento para plantar mais 4.200 em 3.000 fazendas diferentes.”
. Em primeiro lugar a ação do casal Salgado, procurou conter em definitivo a maior parte da erosão que, ano a ano vinha aumentando a área devastada, solapando e empobrecendo o solo fértil e aumentando o assoreando o leito dos Rios. Esse fator é uma das causas de grandes e incontroláveis enchentes, como aconteceu no Rio Grande do Sul no ano de 2024.
. Em segundo lugar, eles conseguiram ressuscitar nascentes mortas de pequenos Rios tributários. Essa ação resultou no aumento da vazão do Rio Doce e o consequente aumento da oferta de água para o consumo humano, animal e para irrigação das lavouras ribeirinhas.
. Em terceiro lugar, a floresta recomposta readquiriu a capacidade de sequestrar o carbono livre e aprisiona-lo no solo ao invés de ir para à atmosfera, para aumentar o efeito estufa e o acréscimo dos níveis dos mares.
Por fim, não seria exagero afirmar que o que o passamento de Sebastião Salgado foi uma perda não somente para o Brasil, mas para a causa ambiental que ameaça o mundo e já está nos levando à 6ª extinção das espécies. Nos restou Lea com o seu exemplo, a sua coragem, o seu estoicismo e a sua disposição, predicados que nunca lhes faltaram. Ela está nos convidando para seguirmos em frente na luta em defesa da sustentabilidade, com o apoio da população brasileira e mundial.
Referências:
Biografia de Sebastião Salgado – e Biografia;
Sebastião Salgado – InfoEscola; (1)
Instituto Terra – Wikipédia, a enciclopédia livre:
RPPN Fazenda Bulcão | Nova Mata;
O legado de Sebastião Salgado: morre o renomado fotógrafo e ambientalista brasileiro que clicou a Amazônia em preto e branco | National Geographic;
Fotografias:
Rio Doce Mapa – Pesquisar Imagens;
Sebastião Salgado fotografou atentado contra o presidente americano Ronald Reagan em 1981; entenda;
Sebastião Salgado deixa legado ambiental ao recuperar biodiversidade da Mata Atlântica | Meio Ambiente | G1;
Como Sebastião Salgado plantou uma floresta do ze… | Super;
Sebastião Salgado – Wikipédia, a enciclopédia livre;