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Memórias do Sertão : a feira de rua e seus encantos

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Eu “pulava” da cama, já pensando como seriam as aventuras naquele domingo tão esperado. Após saborear um pão doce com manteiga, comprado na padaria de Fernando Piaba, caía no “mundo”. A rua principal da cidade de Imaculada já estava tomada por pessoas e mercadorias, que se perdia de vista.

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Rapidamente, chegava à barraca de Seu Mozart. Encantava-me com os brinquedos (carrinhos, espadas, ioiôs etc.) lá existentes, e ainda com os espelhos redondos e suas imagens de paisagens e mulheres seminuas. Perto dali, um homem vendia gibis, novos e velhos, da Turma da Mônica, do Tex, do Conan, do Pato Donald e do Mickey, espalhados numa toalha ao chão. Conseguia folhear algumas páginas até que ele interrompesse…

Dona Alice, uma senhora da cidade de Santa Terezinha, no Pernambuco, era a dona de um banco de roupas e calçados. Quem quisesse novidades, ali era o lugar. Eu observava atentamente, e desejava camisas do He-Man, do cometa Halley e a de Zico, do Flamengo. Mas, a minha seção favorita era a dos tênis e sandálias e seus modelos coloridos: Bamba, All Star, Montreal, Daytona, Panda, Rainha, Conga, Katina Surf e Samoa.

As barracas que vendiam doces, balas e chocolates me deixavam com “água na boca”. Adorava comer quebra-queixo, pipoca feita na hora e pão doce com caldo de cana. Dona Lourdes Caetano vendia deliciosas cocadas. A melhor “tubiba” (dindim, picolé de saquinho) era a da “Velha Mouca”. Sorvete de casquito tinha no mercadinho de Áurea e Pai Velho. Aproveitava e brincava um pouquinho com Franco. Bom era encontrar pela rua muitos amigos: Jaiminho, Rona, Jurandir, Cielbe de Benone, Joseane, Vilma de Martina, Nal de Tonico, Cici e Divam de Josué, Edízio…

Ao longe, a música do Bar do Lula me fazia ensaiar passos ao som de Michael Jackson. Dava uma “passadinha”, também, em frente aos bares de Chico Catingueira e de Biu de “Nega Branca” para checar o “movimento”. Na Praça da Igreja, Zé da Foto já registrava imagens de casamentos e batizados. Corria em cima do balde do açude da Rua, retornando pela rua das Sete Casas e ainda observava no açougue, as fileiras de carne penduradas.

O homem que tinha remédio para curar tudo, impressionava-me. “Essa pomada resolve dor de cabeça, dor de barriga, reumatismo, magrelice,…só não cura feiúra”. Às vezes, ele trazia cobras que chamavam a atenção de todos.

Quando tinha um amontoado de gente, já sabia: eram os repentistas e suas rimas afiadas.
Próxima à calçada de Seu Tonico, Dona Severina já arrumara toda a sua produção de barro. Potes para armazenar água, panelas de todos os tamanhos e quartinhas, além de outras peças artesanais.

Ficava triste quando havia deficientes físicos e doentes pedindo ajuda.

Na hora do almoço, mamãe me chamava. A casa já estava cheia, que era tomada pelo delicioso cheiro da galinha de capoeira. Muitos parentes e amigos da família sempre nos visitavam neste dia. Pedia a benção a Tio João de Brandina e a Tio Izidro (Duti). Depois, saía de novo. Era o fim da feira e hora de torcer pelo time de futebol do Centro Esportivo Imaculadense, com atletas como Dina, Ribamar, Renildo, Vando de Edgar, Zé de Oliva, Geneton e Bato. Voltava para casa. Já era quase hora da missa e de cumprir a função de coroinha (ajudante do padre). Mais tarde, pedia a bênção a papai e mamãe. Hora de dormir.

A feira de Imaculada nem era tão grande assim… Mas naquele meu universo infantil dos anos 80, tudo era grandioso.

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