Escrever, mais do que antes, é o gesto de confessar a vida. Nalgumas horas, se quer fugir de si mesmo, no entanto a escrita quase que determina atitudes de retorno às páginas, e dizer, dizer, até acalmar os ânimos lá de dentro, fervilhando de sonhos. Fazer, montar, contar, impor a condição de existir ao que as palavras querem gravar ao sair feitas lágrimas, gestos, suspiros, vômitos, raspas largadas ao monturo dos dias, quais diários infindos e intermitentes.
Pensar, e dizer, ou dizer sem pensar. Juntar restos de lembranças e formar esse caudal de passados a nos cair às mãos de modo incisivo, fortuito, contrição de achar alguém que seja que leia, ou não, de um dia parar aqui e comungar com o autor as suas impropriedades de violar o silêncio de que se fizera inconfidente no ato de escrever. Às vezes, ao ouvir alguma música, nos intervalos de pensamentos, nas bordas dos sentimentos, vêm saudades, as revivescências bem distantes daquilo que desapareceu nas décadas.
Nem mais sei confessar senão outro falando de si ou que ouça dessas almas penadas de infinitos remotos que persistem vivos nos refolhos das criaturas viventes. Assim, descem as ruas que vão levar no mar das existências, ou das inexistências. Mergulham fundo nos mistérios da ausência e dormem ao definitivo das escritas, que seguem soltas no eterno e nas crenças do abismo e na solidão.