
Falar sobre a intelectual, poetisa, educadora, conterrânea e amiga Neide Freire é uma tarefa prazerosa, porém, lembrar Neide Freire é uma tarefa dolorosa e saudosa. Nunca encontrei ninguém tão feliz e risonha quando falava da sua infância em terras lavrenses: seu berço natal. Criança amada, adulta batalhadora, foi Neide poetisa de grande sensibilidade, educadora dedicada, mãe amável e amiga dedicada. Neide não falava apenas com os lábios, falava com a voz do coração e em som alto e melodioso.

No alto dos seus 90 anos quando comecei a frequentar sua casa e usufruir das suas doces e belas recordações conduzidas pelos desvãos da sua memória que a cada episódio lembrado uma lacuna da História lavrense era preenchida. A memória de Neide era fotográfica e em cada flash ela trazia para o centro da conversa personagens há muito tempo adormecido e já habitantes da eternidade. Éramos verdadeiras coveiras a exumar velhos defuntos, dando-lhes vida e colocando-lhes nas cenas do cotidiano de uma Lavras que já não existia mais, acordamos uma cidade adormecida, assim como seus mortos. A memória de Neide era um sopro de vida e num curto espaço de tempo antigas personalidades e gente simples da sua, da nossa cidade tiveram vida plena, viveram como todo habitante com todas as prerrogativas que os vivos têm.
As tardes voavam e nós voámos por sobre a cidade, as ruas, a Igreja, o Largo da Matriz, e a praça, observando os acontecimentos hilários que toda cidade de interior tem. Passeávamos pela a Rua do Quadro, a Rua do Cortiço, a Rua dos Cassacos, segundo Neide a mais movimenta da pequena Urbe. Os cheiros dos doces, dos biscoitos e das rapaduras exalavam das residências nos deixando com água na boca. Ah! O cheirinho dos pães e das bolachas da Padaria de Tio Nequinho era inconfundível, não escapava as nossas narinas. E comentei com ela: aprendi com ele que pão se misturava com poesia. E nosso passeio durava horas, sem cansaço, sem intervalo e sem fim; com muitas gargalhadas e suspiros.
Hoje quando leio as poesias, os textos e as crônicas de Neide, me vejo sentada ao seu lado ouvindo seus relatos e agora quem sente saudades sou eu, saudades dela e de um tempo que ela viveu e eu não vivi. Foi graças a sua memória que pude escrever o livro sobre minha família: Almeida, Aragão e afins: dos Sertões da Paraíba as Terras de São Vicente Ferrer das Lavras, ela foi vizinha da minha bisavó, dos meus tios-avôs e contemporânea de muitas das minhas primas. Conhecia a fundo aquele clã.
Neide foi uma memorialista social, sempre dedicada a suas lembranças tinha uma relação estreita entre sua memória e a memória coletiva, contextualizava e definia os lugares por onde viveu e passou. Via o passado a partir da visão atual, lamentava o vazio da juventude que não tinha história pra contar. E me confessou: É das minhas lembranças que me alimento e sobrevivo, tenho pena dessa juventude pregada nesses aparelhos (celulares) que quando chegar a minha idade nada terá pra contar. Vivo num mundo que não é meu.
Quando fui avisada da partida de Neide uma profunda tristeza tomou conta da minha alma, tive a sensação que uma biblioteca inteira tinha sido incendiada. Mesmo com toda tristeza fui despedir-me da amiga que tanto me auxiliou, jamais poderia deixa-la partir sem lhe dizer adeus. Foi nesse dia que conheci seu filho, Freire Filho, orgulho de sua mãe. E, por ocasião da Missa de Sétimo Dia ele pediu-me que lesse uma das poesias de sua mãe, que em minha opinião é um canto de amor a Lavras, terra que ela tanto amou e jamais esqueceu:
O meu aplauso a Cristina pelo seu empenho em resgatar a memória da nossa querida Lavras, trazendo história fatos e memórias interessantes que sem as suas pesqusas estariam fadadas ao esquecimento e ate mesmo ao desconhecimento
Neide freire, grande poetisa, extraordinária figura humana, pessoa que eu tanto admirava e admiro na minha saudade! Certa vez, acompanhando o estimado, amigo e afilhado Dimas Macedo, fizemos uma visita a ela na sua residência que nos recebeu com alegria, uma visita que guardo na memoria, com carinho, e que certamente procuro corresponder, pelo menos na lembrança, a maneira fidalga de como nos recebeu em sua acolhedora residência. Com certeza ela continua poetizando para sempre!
Abraços fraternos.
João Gonçalves de Lemos.
Como gostaria de ter conhecido e conversado com Neide Freire! Quantas histórias sobre a terra dos meus antepassados ela saberia! Eu procuraria captar tudo o que pudesse de suas lembranças e vivências.
Arair Pinto Paiva.
Exelente texto, como todos de Cristina Couto,que nos encanta com suas historias e relatos.
Parabéns a Cristina pelo sua competência
Minha querida amiga Cristina , obrigada por estás lindas palavras sobre está mulher maravilhosa e grandiosa intelectual que era minha mãe muito obrigada… muito obrigada
Joao