Sei que pode causar estranheza a muitos leitores abordar o perdão como sentimento relacionado a doenças, mas devo lembrar que foi este o sentimento que mais preocupou Jesus em sua passagem por este plano, ou, mais especificamente, a falta dele. Este sentimento deixou de ser abordado apenas nos livros sagrados ou nos meios religiosos, e passou a ser estudado pela ciência médica. Já adianto aos que têm dificuldades em perdoar que quando conseguimos perdoar alguém, o beneficiado não é quem é perdoado, mas quem perdoa. Vamos conhecer um pouco mais desse sentimento que a todos nós de certa forma, envolve.
Quem nunca disse “perdoar esse aí? Nunca! ”? É a você que esse artigo pretende ajudar. Quem pode dizer que coração não já tenha sido magoado nessa vida? É muito difícil admitirmos que guardamos mágoas, mas na verdade as temos, ainda que muitas estejam tão bem guardadas, que não contemos com elas. A mágoa é como uma plantinha que vai sendo cultivada com o tempo, e que tem suas raízes em lugares profundos e desconhecidos, mas que com o tempo, nos traz “frutos” amargos, e que muitas vezes não sabemos a origem de tamanho azedume.
Já parou para pensar por que no momento em que Pedro, o apostolo mais idoso, mais experiente e que recebeu mais atenção de Jesus, pergunta: “Senhor, até quantas vezes poderá pecar o meu irmão contra mim, para que lhe perdoe? Será até sete vezes? E Jesus responde: não te digo que até sete vezes, Pedro, mas setenta e sete vezes. (Mateus 18:21). Outra oportunidade que Jesus teve de demonstrar a necessidade do perdão, e, se analisarmos profundamente, sentiremos que foi em um dos maiores momentos de seu sofrimento em plena agonia física, Ele na maior demonstração do significado de perdoar, foi em suas últimas palavras: “Pai, perdoa-lhes. Não sabem o que fazem” (Lucas 23:24).
Crescemos ouvindo e lendo nos textos sagrados as orientações de que devemos perdoar. Nos pareceu sempre que esta necessidade tinha um propósito de tornar-nos melhores tendo em visa a vida após morte, ou como algumas religiões pregam, para termos acesso ao “paraíso”. Mais uma vez, foi a partir do aprendizado de que esse sentimento também pode nos trazer consequências diretas em nosso adoecimento, que resolvi buscar um pouco mais de conhecimento sobre ele. Foi em um dos primeiros contatos que tive com a terapêutica espírita que descobri as primeiras consequências de não perdoar. Os sentimentos têm a capacidade de nos ligar a outras pessoas, sejam essas ligações feitas de bons ou maus sentimentos. No caso do perdão isto não muda, contudo, por compreendermos que a vida se estende para além da existência do corpo físico, ao longo de nossas encarnações carregamos sentimentos que permanecem nos ligando a outros. Entretanto, nem todos as ligações que construímos através dos sentimentos são ligações salutares, muitas vezes, por falta do perdão, nós permanecemos ligados a cobradores através de ciclos e mais ciclos de existência terrena, e essas ligações podem se dar por dívidas que contraímos também por falta de perdão, nosso ou de nossos semelhantes.
Essa cobrança não cessa com a morte do corpo. Assim, o perdão é um dos sentimentos que faz parte da terapêutica espírita, principalmente no caso das relações de obsessão. Não nos aprofundaremos a respeito das obsessões nesse artigo, mas a título de primeira explicação, dá-se o nome de obsessão a ligações em que uma pessoa, esteja ela encarnada ou não, se liga a outra pelo pensamento e pelo sentimento com o sentido de cobrar-lhe algo que creia lhe seja devido. Na maioria das vezes, essa ligação se dá pelo sentimento de ódio ou pela fala de perdão mútuo entre uma ou várias pessoas e quando não tratada adequadamente, o indivíduo pode ser induzido à situações extremas, tendo como ápice o suicídio. Esta é uma das enfermidades em que nenhum medicamento consegue ser utilizado com eficácia. Assim como Jesus tratou as possessões, precisam ser tratados as obsessões. Trataremos posteriormente desse grande mal que envolve a humanidade, em outro artigo.
Foi só à partir dos tratamentos espirituais que o sentimento de perdão me fez rever um pouco mais sobre as citações de Jesus na Bíblia. Quando em um Congresso da Associação Médica Espirita do Brasil realizado em Goiânia -Go, o Médico Dr. Décio Iandoli Junior, fez um relato de uma paciente que veio ao seu consultório, apresentando, além de outras queixas, pequenas deformações ósseas em seus dedos das mãos. Segundo o relato do Médico, ele costuma tratar do tema espiritualidade com seus pacientes, e com esta paciente teve algum cuidado maior ao tratar do tema, pois a paciente era esposa de um antigo colega de classe. Ele a fez refletir sobre alguns comportamentos dela na vida cotidiana, a levando a refletir se a mesma não tinha alguma desavença em família ou com alguém. No momento, a paciente negou, o Médico deu continuidade aos procedimentos de praxe, lhe passando a medicação para as queixas que a trouxe ao consultório e não voltou sequer para o retorno. No relato de Dr. Décio, ele fala que imaginou que a paciente o tinha detestado, e esqueceu o referido atendimento. Após aproximadamente nove meses depois, a mesma senhora reaparece no consultório, o que lhe causou surpresa, ao olhar para a paciente e ver que suas mãos não apresentavam mais nenhuma anomalia, entre a surpresa da volta e a cura aparente de suas mãos, o médico não se conteve de curiosidade e perguntou se ela tinha procurado outro colega e que medicação havia tomado. A paciente relatou que depois da consulta, diante das indagações do médico, ela fez uma retrospectiva de sua vida e lembrou do sentimento de ódio que nutria pela mãe. Relata ainda que tomou a iniciativa de procurar a mãe, e de discutirem o problema que a levou ao sentimento que guardava já a algum tempo. Relatou da dificuldade da conversa, houve muito choro e ambas ao final da conversa, haviam se abraçado e se perdoado mutuamente. Daquele dia em diante, a paciente relata que, aos poucos, suas mãos voltaram ao normal e ela mesma atribuiu a enfermidade ao ódio que tinha pela mãe. Assim, sessada a causa, sessado o efeito.
Perdoar ou não perdoar, não significa absorver e condenar. Nas mais expressivas lições de Jesus, não existem propriamente, as condenações implícitas ao sofrimento eterno como quiseram os inventores de um inferno mitológico. Da mesma forma que ocorre ao mal pagador, não havendo solução para as dívidas que se multiplicam, esse homem é obrigado a pagar, e na Justiça divina as almas humanas têm seus débitos resgatados nas encarnações, de cujo ciclo vicioso poderão afastar-se, cedo ou tarde, pelo esforço no trabalho e boa vontade no pagamento. Entretanto, Jesus não proíbe opor-se dignamente aos ataques injustos, não nos impõe aceitar as injustiças sem reação. Todavia, se faz necessário que nunca nos coloquemos no lugar do Juiz dos que nos causam mágoas ou prejuízos. A Lei de reencarnação, também nos ensina que, em alguma existência, já fomos também causadores de prejuízos a outrem. Assim, muitas vezes quando pedimos justiças por algum ato a nós praticados, esse ato, é exatamente a Lei do Retorno que Deus, como generosamente bom e justo, nos oferece a oportunidade do pagamento. Perdoemos sempre, mesmo quando achamos que estamos sendo injustiçados. Quanto maior a dificuldade de se perdoar, maior a necessidade e a urgência que este, seja dado.
Do mesmo modo que a Psicologia é uma ciência relativamente nova, o interesse pelo estudo e pesquisas envolvendo o perdão também são recentes. É somente a partir de 1980 que surge um interesse mais intensivo e metodologicamente estruturado voltado para o estudo do perdão. No Brasil, apenas no ano 2000 iremos encontrar referências a respeito do tema. Docentes da Universidade de São Carlos –SP apresentam o perdão como uma habilidade social importante para o estabelecimento de relações sociais saudáveis.
Em 2016, foi apresentada uma pesquisa no 40º Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, feita pela psicanalista Suzana Avezun, que estudou 130 pessoas entre dezembro de 2016 e dezembro de 2018, avaliando o “relacionamento entre o perdão e o coração. O Estudo aponta que o grupo que sofreu Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) apresentou maior tendência a não perdoar as mágoas sofridas durante a vida. O trabalho também avaliou a espiritualidade religiosidade dos participantes: “na pesquisa, o grupo com IAM tem maior religiosidade organizacional e menor espiritualidade. “Talvez, nesse caso, uma religiosidade mais rígida traga maior dificuldade e menor disposição para conceder o perdão. A espiritualidade, por sua vez, aparece associada à maior disposição para perdoar”, conta Suzana Avezum. A psicanalista lembra que quando pode trabalhar a mágoa e, consequentemente, a pessoa pode perdoar, o sentimento de alívio é sensivelmente observado. Conclui, dizendo que quando se perdoa vários sintomas são resolvidos. A hipótese é que as pessoas utilizam frases como “dói no coração” e o inconsciente vai tratar de forma literal essa descrição.
Do ponto de vista Espiritual, o Centro de Força cardíaco ligado ao coração, milenarmente conhecido como o “órgão do amor”, é um dos mais importantes para a vida espiritual superior. Rege o sentimento e o sentido dinâmico que faz com que o ser humano se envolva em tudo que realiza: Entusiasmo, vida afetiva, auto amor, sentido de belo, sensibilidade ante a vida. Mas é importante salientarmos que se nosso coração estiver envolvido com energias de ódio ou mágoa, os bloqueios energéticos se tornam trombos que além de bloquearem as das emoções nos causam doenças que podem nos tirar a vida física. Nos lembra ainda, Emmanuel, que “o perdão sincero é filho do amor, e como tal, não exige reconhecimento de qualquer natureza”.