No mês de junho, o clima muda para nós nordestinos, o São João se aproxima, ao lado de Santo Antônio e São Pedro, a festa aqui tem um sabor especial: o milho, a canjica e a pamonha tornam-se iguarias disputadas e a expectativa desse grande evento é uma tradição que toma conta de cada um de nós.
As cidades, notadamente, os interiores ganham cores, músicas e costumes, e aqui na Paraíba, as atenções se voltam para a cidade de Campina Grande, celeiro dos grandes eventos no mês junino.
Não posso deixar de recordar, como bom filho de sertanejo, a lembrança dos meus avôs paternos, Pedro Lins e Ilza Holanda, no dia 23 de Junho eu saia cedo para comprar mãos de milho na feira livre do Bairro dos Estados, e ali, começa os preparativos para as comidas típicas, o milho sendo ralado manualmente, a arumpemba servindo para coar o sumo do milho, a canjica sendo mexida com a colher do pau, as bandeirolas sendo colada no barbante. Cada um tinha uma função, a dos netos era ralar o milho, naquele instante começa a grande festa.
Aos poucos iam chegando os amigos mais próximos do meu avô, os filhos, fazendo uma fogueira e ouvindo forró, ao som de Luiz Gonzaga e da nossa conterrânea e parente a rainha Elba Ramalho.
Minha mãe pintava a gente de matuto, recortava as chitas e pregava nas nossas calcas jeans, as mulheres com os vestidos xadrez, até a chegada da hora da quadrilha, o ponto mais alto da festa, ao som do anarriê e alavantu.
São João Campina Grande |
Esse ano foi diferente, mas seguindo as tradições meus pais reuniram-se os filhos, netos e agregados, e ao lado da minha avó materna, Alaide Lopes, com 92 anos de idade, assistimos ao show das paraibanas Elba Ramalho e Juliette, a melancolia tomou conta de mim naquele instante, todos com máscaras, álcool em gel do lado, sem fogueira e a televisão transformou-se em palco, mais uma vez, as atenções voltaram-se para Campina Grande.
Elba Ramalho nasceu para ser estrela, o seu brilhantismo, energia e voz nos deixaram com os olhos fincados na frente da TV, os sofás foram arrastados e a gente com a cerveja na mão agradecia por estarmos com saúde a celebrar o natal dos nordestinos.
Viva São João!
A pandemia nos afastou de tudo e de todos e atingiu de cheio os nossos costumes, o tradiocional São João de outrora já estava bem distantes e este ano ficou na saudade. É preciso se reinventar. Viva São João.
Eitaaa que emocionou! Momento de nostalgia e gratidão que apesar de não poder usufruir o verdadeiro São João, estamos vivos e com saúde. Festejar e viver!
Verdade Flora. Estamos com saúde e viva a vida
Que beleza de descrição de uma familia reunida organizando uma bela festa de Sao João traduzindo o sentimento de cada um de nós que carrega no coração a lembrança e a saudade dessa bela tradição