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O boi do bagaço pelas moendas do passado

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Depois de a cana passar pelas moendas e deixar o caldo que escorre para o paiol, dela resta o bagaço, que desliza numa rampa ao couro que espera logo abaixo, a ser arrastado pelo bagaceiro por meio de um animal manso, o boi do bagaço, indo para ser espalhada ao sol da bagaceira do engenho. Nos dias posteriores, numa sequência cronológica, esse mesmo bagaço, já seco e revirado ao calor sertanejo, levado, dessa vez, à boca da fornalha, onde o metedor de fogo alimenta os tachos de garapa no caldeamento, ao ponto de engrossar e virar mel, que, após indicação do Mestre da Fornalha, bem mexido nas gamelas, açucara e vira rapadura nas formas de madeira a isso destinadas. Esta a linha de produção de um engenho de rapadura no Sertão nordestino. Desde o corte vêm os feixes de cana que lotam o salão do engenho; sendo socados nas moendas, viram garapa, que, cozida em vários tachos quadrados de zinco, chega ao tacho principal, feito de cobre, até chegar ao ponto de gamela, qual dissemos.

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Do tempo de criança, lembro haver acompanhado as moagens, verdadeiras festas de trabalho, rapadura quente e alfenim, a que percorríamos, nos diversos setores do beneficiamento da cana, qual das mais alegres diversões de menino. Dentre as peraltices, acompanhava o boi do bagaço que descarregava o couro e retornava sem carga. Subíamos no transporte do bagaço e vínhamos num passeio divertido, porém que, nisso, tínhamos de fugir das vistas de meu avô, meu pai ou Tio Jorge, pois reclamavam que estragava o couro sendo arrastado no terreno pedregoso com os meninos em cima. Mesmo com essa restrição, dávamos nosso jeito, fazendo amizade com o bagaceiro e driblando a guarda.

Bons tempos da infância no Sítio Tatu, em Lavras da Mangabeira, cheio de lembranças bem guardadas daquelas atividades, época de inocência e paz.

 

Ao final das tardes, no tendal, eram batidas as caixas de rapadura, ainda mornas, donde os trabalhadores colecionavam as cargas e traziam ao quarto de depósito, do outro lado da estrada entre o engenho e a casa grande, no Beco, agora restando daquilo tudo só fragmentos de memórias.

Fonte; fotografias: Seminário Cariri Cangaço
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3 COMENTÁRIOS

  1. Émerson Monteiro é um grande amigo,excelente parceiro, além de confrade. Um êxímio contador de História que através de sua memória vendo preenchedo as lucunas da historiografia lavrense. Descendente da família Augusto, herdou a caneta para escrever os tempos do bacamarte. Parabéns João Vicente por mais um colaborador de peso.

  2. O texto me traz à lembrança as moagens com a bagaceira nos meus tempos de menina com mais um detalhe:sendo mais velha tenho a doce recordação dos engenhos "puxado" por duas juntas de boi, na madrugada se ouvia a voz forte do do tangedor tocando os bois chamando pelos nomes: "bonito", " bem-feito", "malhado".

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