Desde a colonização até os nossos dias o Nordeste brasileiro sempre rodou o carrossel do destino, e sem pedir licença a ninguém resistiu e reagiu bravamente aos desmandos dos governos que abusam e exploram o povo em obediência a uma “elite” que mamando nas tetas da nação gozam de privilégios e nunca abrindo mão de nada, sempre deixando a conta para o povo pagar.
Assim como a terra na sua maioria seca, árida e calcinada o nosso povo aprendeu a ser forte e resistente como o solo que pisa. A nossa cultura sempre foi, e, continua sendo a nossa mais poderosa arma. A brincadeira, a religiosidade, a dança e a música andam de mãos dadas como forma de luta e resistência em tempos obscuros. As manifestações culturais reagem e protagonizam de forma criativa, inteligente e avassaladora em defesa do que já foi construído até aqui para reverter aquilo que estão tentando destruir.
Chegando devagarinho com a sua ginga mansa, vestido de gibão de couro e chapéu de palha, Antônio Nóbrega deu as mãos e fez a ciranda girar, mergulhando numa onda que vai e noutra que vem, a grande roda cultural arrastou artistas e republicanos para a reconstrução das forças populares e o fortalecimento da democracia proposta pela sua sedutora e animada ciranda. Nela ele reuniu todos contra o ódio e a tirania, porque de mãos dadas a corrente não se parte e ninguém solta à mão de ninguém.
Dizendo tudo que pensa e cantando porque sabe, sua voz não silencia porque poeta não cala. Sua poesia é arma e munição, é antídoto nesse tempo difícil de escuridão e de opressão, sua poesia é clarão de alvorada que abre o peito e não cala, na sonoridade da rima vai embolando e rimando na bola da embolada, a sua voz não silencia, porque poeta não cala.
Foi tangendo devagar a boiada das ideias passando e resistindo tudo o que o coração sente, combatendo este mundo daqui selva com lei de cassino, renasceu outra vez menino para fazer versos pequeninos e que mereceram ficar. E pedindo licença rodou o carrossel do destino.
Em comemoração ao Centenário do Frevo, Antônio Nóbrega abaixou a guarda e ergueu a batuta regeu e ocupou com maestria os palcos do Brasil e as ruas de Olinda, mostrando que a vida é boa e sem pressa botou fogo no salão, montou no galo da madrugada e saiu com mais de cem e para não sair do compasso os foliões caíram no passo e arrastaram multidões.
Depois que os mares dividiram os continentes se pôde ver terras diferentes e um novo mundo surgiu. Antônio Nóbrega falou de Pernambuco para o mundo, fez do seu cantar o seu tesouro e com seu gogó de ouro fez toda gente vibrar. A Festa da Padroeira, as cantigas de roda, foi despedida do seu mundo de menino que como cocada fina apurou seu linguajar.
Fez da poesia sua arma, do canto sua espada e da rima uma toada para quem sabe acompanhar. E lá vem ele brincando com a rima, é pernambucano, é brasileiro, é nordestino é faca de bainha para todo mal arrancar. No palco pula, dança e faz modinha arruma uma ciranda rapidinha para o povo se alegrar.
O hino de guerra de Antônio Nóbrega é Pataxó, é Xavante, é Cariri, é indígena brasileiro dessa terra Brasil. É da senzala, dos terreiros e da floresta, é do sertão e da serra é o grito nacional. Vem minha gente vem dançar nesta ciranda, vem balançar na rede, vem cantar essa embolada e a sua voz não silencia, porque poeta não cala.
“E se aqui estamos é pra dizer bem alto que a injustiça dói. Nós somos madeira de lei que cupim não rói.”
A CULTURA É NOSSA ARMA
Texto brilhante e empolgante, vai nos envolvendo pouco a pouco nos deixando ebriagados com a verdade escrita e a beleza das canções.
Parabens Cristina Couto.
Parabens João Machado
Parabens Cristina Couto.
Parabens Joao Machado
Excelente texto ! Parabéns !
Cristina Couto nos traz o polivalente Antônio Nóbrega e embarcamos todos no carrocel do destino num espetáculo lúdico e muito envolvente desse nordestino autêntico, um brincaste sonoro da melhor recomendação. Parabéns!
Parabéns Cristina por nos mostrar Antonio Nobrega revelando com maestria a alma nordestina
Estou enebriada com tamanha emoção. Tive o prazer de conhecer Antonio Nóbrega, na década de 90, em Belo Horizonte, no programa "Arrumação", de Saulo Laranjeira. Desde então acompanho sua trajetória. Ele é único em sua versatilidade e genialidade poética "versativa". Um deleite em dias de pandemia. É um espetáculo, que retrata um Nordeste vivido e revisitado pelo poeta, que nos emociona, embala e apresenta a verdade do nordestino. Parabéns Cristina pelo texto e gratidão por nos apresentar esta "lindura". 👏🏿👏🏿