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Divina Comédia Humana onde nada é eterno

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                                                     Minha Pátria é a língua portuguesa (Fernando Pessoa ).

Utilizando os recursos da Língua Portuguesa, o cearense Belchior, recitou, cantou e escreveu em letras grandes pelos muros do país protestos contra os abusos e os desmandos do regime autoritário e repressor, no qual, o Brasil foi submetido por longos 20 anos. O Regime Militar enterrou o sonho de liberdade de toda uma geração.  Inquieto, largou a Medicina botou o pé na estrada e preferiu andar sozinho, decidiu sua vida e foi em busca do sol, lá onde bate seu  coração. Fez da felicidade sua arma quente, porque, o tempo mexeu com seu sonho e seu modo de viver.

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Sentou a beira do caminho pra pedir carona e falou a mulher companheira de tudo que lhe aconteceu e viveu, pois, viver é melhor que sonhar. Deixou a profundidade de lado e colou na pele dela noite e dia vivendo a paixão e morando na filosofia. E foi filosofando que ouviu as estrelas da Via-Láctea de Castro Alves dentro do seu coração selvagem e com pressa de viver, de viver um amor frágil como um beijo de novela. Novidade nos primeiros anos de 1970 onde o tempo estava em plena liquidez.

Belchior não estava interessado em nada que viesse de fora; ele não queria saber de nenhuma teoria, nem nas coisas do oriente, nem de romances astrais, a sua alucinação era suportar o dia a dia vendo a internacionalização da cultura tomando conta do país e da juventude ao som do blue e do rock and roll, vestidos de jeans, comendo hot dog, as garotas eram chamadas de girls e a namoradinha baby. As telas de cinema exibiam o clássico hollywoodiano, Laranja Mecânica, filme com cenas e imagens violentas e perturbadoras para comentar a psiquiatria e a delinquência juvenil num tom profético de terror para aquele começo de década. Para ele, o melhor seria amar e mudar as coisas lhe interessava mais.

Guiado pela obra de Caetano Veloso em cada esquina que passava nada era divino, nada era maravilhoso, nada era secreto e nem misterioso, e o sol não era tão bonito para quem veio do Norte e acabou morando na rua. As noites frias ensinou o cearense a amar mais o seu dia e na dor ele descobriu o poder da alegria, e apesar das dificuldades e do sofrimento teve a certeza que ainda tinha coisas novas pra dizer. Sua história era comum, igual à de outros jovens da  sua época que veio do norte viver uma aventura e no sul acabou vivendo na rua; ficou desnorteado, ficou desapontado coisa comum no seu tempo ficar apaixonado e violento como todos naquele momento de dificuldade, repressão e censura.

Chegou o tempo negro e a força fez com Belchior o mal que a força sempre faz, não sentiu felicidade, mas não ficou mudo e desesperadamente gritou em Português: tenho vinte e cinco anos de sonho e de sangue e por viver na América do Sul preferiu um tango argentino em vez de um blue, valorizando a cultura do nosso continente.  Descobriu que seu canto torto era faca de corte para cortar e entranhar na carne daqueles que viviam alienados com suas feridas vivas, feridas do coração, impregnadas nas paredes da memória num quadro doloroso e lamentoso de aparências que não consegue enganar ninguém.

Sua trajetória de luta pela conscientização da cultura, da política e das artes acabou revelando o lado inseguro e obscuro do artista. Estava mais angustiado que um goleiro na hora do gol, porque, chegou a hora de entrar no avião, e nele descobriu os muitos medos que habitavam o sertão da sua solidão, e ao adentrar apertou o botão e descobriu a cidade morta indicada pela placa torta da contramão da vida, e nos desvãos escuros da sua mente deparou-se com os fantasmas escondidos no porão do seu inconsciente. Medo…medo….isso não é segredo….

A juventude de Belchior passou tão rapidamente que ele mesmo nem percebeu, até parece que foi ontem, viveu um grande conflito de geração (eles venceram e o sinal está fechado pra nós que somos jovens), período de opressão e luta pela liberdade (para abraçar seu irmão e beijar sua menina na rua), tentando compreender os conceitos vigentes e enfrentando preconceitos coisas que ele nunca entendeu bem, quando a mulher que amava não pode lhe seguir, porque, esse negócio de família e de dinheiro eu nunca entendi bem.

Apegado ao passado que não volta mais (nossos ídolos são os mesmos), embora entendendo que no presente a mente, o corpo é diferente, e o passado é uma roupa que não nos serve mais, sofre e se conscientiza que apesar de termos feito tudo, tudo que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais. 

 

 

                                A LÍNGUA PORTUGUESA É NOSSA ARMA.

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