fbpx
32.1 C
João Pessoa

Nossos cães

- PUBLICIDADE -

- Publicidade -

Neste período macabro no qual estamos vivendo, onde perdemos a cada dia entes queridos, parece que não existe nenhuma outra dor a ser aceita que não seja aquela de perder vidas humanas.

Nestes últimos dias, no meio do turbilhão de tantos acontecimentos pessoais e profissionais que eu tenho passado, uma das minhas cadelas veio a óbito. Talvez quem me lê neste momento, ache que lamentar a perda de um animal, possa ser minimamente descabido, haja vista a situação que passa a  nossa própria espécie.

Talvez estejas correto, mas a perda de um cão é algo mais que apenas o fim de uma vida animal. E quero deixar claro que não sou daqueles que os consideram “humanos de quatro patas”. Pelo contrário, sempre alertei para os riscos da antropormofização dos nossos animais de estimação, um mal maior para eles do que para nós. Talvez minha visão ecocêntrica me faça sentir que a vida, seja ela de qualquer organismo, precisa ter algum tipo de manifesto em respeito a ela.

Diferença de visões de mundo. Egocêntrico, o homem se percebe como acima de todas as criaturas. Já na visão ecocêntrica, o homem se encontra no mesmo patamar dos outros seres vivos. Fonte: CEEP Sustentável.

Os cães estão conosco desde o paleolítico, numa relação tão profunda construída entre estes dois mamíferos, que não sabemos quem é mais dependente de quem. Os cães foram nossa visão noturna e olfato apurado, nos defendendo de predadores enquanto estávamos abrigados em cavernas. 

No neolítico, houve uma reinvenção das nossas interações com eles. Ao nos tornarmos gregários, agricultores e artesãos, os cães foram responsáveis por guardar e manejar os rebanhos, auxiliar nas caçadas, interagir com nossas crianças, entre outras funções as quais eram delegadas.

No Neolítico a relação a relação entre ser humano e cães já era extremamente
especializada. Fonte: Internet

Até nos momentos que se pareceu existir um abalo nesta relação, foi possível traçar novos caminhos. Quando a sociedade se modernizou, muitas raças perderam sua aptidão de trabalho. Mas ao invés de se extinguirem, elas se adaptaram aos novos tempos. Um exemplo interessante são os cães sabujos(beagle, foxhound, bloodhounds, etc.). Em um passado utilizado especificamente para caça de animais, hoje em dia são utilizados para farejar entorpecentes, procurar pessoas desaparecidas. Neste exato momento que escrevo, está sendo treinado aqui em nosso país, um rastreador brasileiro para identificar pessoas contaminadas com Covid-19. Sim, isso é possível, dado a capacidade deles em diferenciar as partículas de odores que exalamos em condições anormais de saúde.

Rastreador brasileiro, raça nacional usada para
detectar pacientes e Covid 19.Fonte: Canil da Serra
da Canastra.
Outro interessante momento da história recente foi a mudança habitacional que passamos com o surgimento dos edifícios residenciais. Uma das primeiras regras impostas foi a proibição de cães nos apartamentos – por sinal, tantas vezes retratados em seriados e filmes infantis. Hoje em dia, talvez seja mais fácil contar os apartamentos que não possua um pet do que aqueles providos deles.

Ter a companhia de um cão em sua vida é uma experiência maravilhosa. A sua presença já nos enche de alegria, pois seu comportamento de viver em matilha e para ela, faz com que esteja sempre disposto a cooperar, seja auxiliando na lida do campo, na ação policial, na brincadeira das crianças no quintal, ou mesmo para estar ao nosso lado em momentos difíceis.

E voltando a falar da minha falecida cadela. Sua morte foi dada por complicações pós-parto. Estou criando seus 04 filhotes órfãos. A cada duas horas, paro tudo que estou fazendo – inclusive nosso texto – para ofertar uma mamadeirinha de leite de cabra para cada um deles. Mesmo com tantas atribulações, essa experiência tem reafirmado para mim a beleza da vida que se renova, e me passa a certeza que homens e cães ainda continuarão a trilhar essa coevolução por muitas e muitas gerações.
Corroborando a ideia da coevolução  que descrevemos acima, trazemos um testemunho vivo dessa coexistência, materializado no depoimento do conceituado  jornalista Wellington Farias, que nos traz uma rápida narrativa da convivência com a cadela Lôla que foi incorporada ao convívio familiar e hoje está tão integrada ao meio, que faz parte do grupo familiar. 
A  narrativa  do modus vivendis  de  Lôla  de autoria do próprio Wellington  Farias revela toda essa exemplar convivência que torna a vida mais amena.
Além do exemplo já registrado, apresentamos um vídeo a seguir com 2 casos de eco convivência  , um deles acontecido aqui na Paraíba mais precisamente na cidade de Cajazeiras.

Há cinco anos Lôla integrou-se totalmente à nossa família.  Cadelinha negra vira-lata (temos predileção por essa “raça”), ela foi achada por um amigo, em situação de abandono, no campus I da UFPB. Como ele morava em apartamento,  preferiu nos doar. 

Logo depois que ela chegou para compor nossa família, num dia do meu aniversário, a  minha mulher, Eloise, me fez uma concessão: permitiu que Lôla subisse à nossa cama. Pois bem, nunca mais ela desceu para dormir ou descansar em outro lugar, para minha felicidade.  Dorme entre eu e Eloise. Às vezes, pela madrugada, vai para uma cama de cachorro que ela tem debaixo da cama da irmã humana, Vanine, fica um pouco mas volta para seu lugar,  que a nossa cama, onde ela tem cobertor confortável e travesseiro. 

Este mês,  ganhamos a primeira netinha, Helena. Outra grande felicidade para nós. E vivíamos a perguntar se, na prática,  nossa relação com Lôla iria mudar. De jeito nenhum. Nosso amor por ela é incondicional, não mudou absolutamente nada. 

Há dois anos,  contraí um câncer na bexiga, que foi extirpado e estou em fase final de tratamento. Como Lôla tem sido fundamental neste processo. Ela é extremamente solidária.  Nas semanas que antecedia as cirurgias,  ela percebia que eu estava triste e tenso. Pois bem, ela ficava notoriamente pra baixo e não largava de mim. Não bastava ficar perto, sobretudo para dormir: ela colava seu corpo ao meu, como para dizer que podia contar com ela. E incrível,  mas é a pura verdade.




Relacionados

1 COMENTÁRIO

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Ajude o site João Vicente Machado

spot_img

Últimas

Almas divididas

123 semanas

Precisamos de um amigo

Mais Lidas

Precisamos de um amigo

123 semanas

Uma dádiva chamada vida

Contemplação

error: Conteúdo Protegido!