“Não basta ter FÉ, é preciso ter AÇÃO”

 

As lendas e mitos judaicos de além-mar assinalam a presença de judeus Sefarditas Ocidentais na América do Sul, oriundos da Espanha e de Portugal,  de onde foram expulsos nos séculos XV, XVI e XVII.  São historietas bem-humoradas que valorizam a fé, a ação e a conduta prática do fazer acontecer. 

A lenda abaixo faz parte do avivamento do folclorismo e do sionismo cultural – principal força por trás da criação do Estado de Israel.

Conta a lenda que em um lugarejo às margens do rio Nilo, morava um homem devoto e generoso que buscava viver em harmonia com a vontade de D-us. Certo dia, ocorreu uma tromba d’água – chuva muito forte, restrita aquela região.

A chuva parecia que nunca mais iria terminar, e todo o lugarejo, aos poucos, foi sendo inundado. Logo que as águas começaram a subir desenfreadamente, o homem buscou refúgio no telhado de sua casa, mas aquela chuva continuou constante e intensa, e logo ele se viu obrigado a subir no telhado da casa vizinha, bem mais alto que a sua casa. Então, apareceu um pequeno barco de salvamento para levá-lo a um lugar mais seguro. O devoto e resignado homem, porém, mandou o barqueiro ir embora, dizendo:

– Amigo, eu tenho muita fé em D-us. Oro nas horas grandes e tenho plena confiança que Ele cuidará de mim.

Contrariado com a resignação daquele piedoso homem, o barqueiro partiu em busca de outros salvamentos. 

A chuva torrencial, entretanto, continuou e, logo, as águas chegaram ao nível do seu pescoço. Apareceu também um pequeno bote de salvamento, mas o piedoso homem agradeceu ao resgate proposto, dispensando-o da mesma maneira: – Eu tenho muita fé em D-us. Oro nas horas grandes e tenho plena confiança que Ele cuidará de mim.

A chuva copiosa, quase diluviana, não dava sinais de tréguas.  As águas haviam subido a tal ponto que o piedoso homem mal podia respirar pela boca e nariz, quando apareceu um helicóptero da Defesa Civil sobrevoando aquele telhado. Lançaram uma escada de cordas para que ele subisse.

– Suba meu amigo, a chuva vai continuar, segundo a meteorologia – disseram os homens do helicóptero. – Fique tranquilo, nós o levaremos a um lugar seguro.

– NÃO! – gritou o piedoso homem, repetindo as mesmas palavras de antes. Logo, mandou o helicóptero ir embora.

No entanto, a tempestade não parou. As águas continuaram subindo e, por fim, o homem acabou morrendo afogado.

Por ser uma pessoa devota e generosa, seu espírito foi levado ao paraíso celestial. Passados alguns dias, lhe foi concederam uma audiência com D-us.

Ao ser introduzido à presença do Eterno e Todo-Poderoso, o homem falou de seu inconformismo em ter morrido afogado.

– Senhor D-us, eu sempre depositei tanta fé em Vós. Eu acreditei em Vós de todo o meu coração e todo meu entendimento. Orei sem cessar, procurei seguir vossos mandamentos e cumprir a Vossa vontade. Simplesmente não entendo o porquê disso ter acontecido comigo.

D-us então coçou a cabeça e disse:

– Pois é, meu dileto filho. Eu também não entendo. Eu lhe enviei dois botes de salvamento e um helicóptero, e você a todos rejeitou. Não basta ter fé, é preciso ter ação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A fé é como uma vacina contra o desânimo e a proliferação do pessimismo. Apoiados na fé, construímos uma vida com resiliência – um mundo interior capaz de suportar grandes adversidades.

A fé é o combustível da vida. A forma de mantê-la viva é não se desencorajar diante das “tempestades” que as intercorrências da vida nos apresentam, pois, a cada “tormenta”, se não possuirmos uma boa autoestima e a confiança em um Ser Superior – o D-us do nosso coração e da nossa compreensão, corremos o risco de perder de forma irrecuperável esse combustível.

A fé é o mais frágil dos sentimentos, porém, uma virtude parceira do amor e da esperança. A perda da nossa fé endurece nossos sentimentos, enfraquece nossos relacionamentos e deixa a nossa vida monótona, incolor, insípida e inodora. Uma vida com essas características é uma vida sem perspectivas. Quem cansou de lutar, tentar e desistiu de tudo, experimenta uma vida que apenas espera o seu fim, por pensar que nada mais pode mudar o rumo dos acontecimentos. Quando se perde a capacidade de sonhar, a busca da felicidade confunde-se com a própria utopia.

Infelizmente, por carência ou esvaziamento da fé, em várias ocasiões somos atingidos por situações que podem nos levar ao desespero.

Quem tem uma fé inabalável, tem uma grande força interior capaz de gerar, sobre si, uma aura de proteção, uma couraça energética inquebrantável contra o desânimo, a desesperança e a prostração. Ter fé é ter a certeza de que aquilo que desejamos será conseguido. A fé nasce, cresce e estará sempre em segurança em um coração contrito e resiliente. Lembre-se, o amor é um ato de fé, quem tem pouca fé, terá, também, pouco amor.

A fé independe de crença ou religiosidade, simplesmente existe no coração do ser humano como um alento de vida, reminiscências do sopro do Criador. (Bereshit/Genesis – 2:7).

A fé também nos ensina que somos imagem e semelhança do próprio Criador. (Bereshit/Genesis – 1:26)

Na prática, o ser humano não consegue viver sem fé, pois, ser ateu ou ser agnóstico é também uma decisão de fé nesses postulados, e não uma conclusão do conhecimento científico.

                                                                                                                          Revisão de Texto: Nilma Lima




Mais Lidas

Arquivo