A vida corrida de um advogado começa de manhã cedo. Porque tem audiência, tem prazo, tem trânsito. Acordamos, tomamos um banho e um café preto, colocamos sapatos que apertam, gravatas que apertam, ternos que apertam, mesmo morando em um país de clima tropical, saímos parecendo um pinguim para a defesa intransigente dos nossos clientes. Alguns pegam o carro, que de uns poucos é Mercedes e de muitos outros é Palio, Celta e Corsa. Outros tantos pegam metrô, ônibus e trem, fora aqueles que utilizam seu carro no trajeto para os fóruns e ganham um dinheirinho extra fazendo uber. E assim começa o dia.
O dia esse que começa com a cabeça cheia com clientes ligando, cobrando agilidade nos processos, e nesse corre-corre a gente tenta se acostumar. O whatsaapp também não para: e aí doutor alguma novidade?. Reunião com cliente. A internet não funciona, o PJE (peticionamento eletrônico) cai. Preparar defesas e recursos e temos a impressão que no final do dia vamos perder o prazo. Ver se aquele pagamento atrasado caiu. Ou se o juiz despachou, espeça-se Alvará.
Não posso deixar de mencionar os vários clientes insanos na nossa vida glamourosa. Que gritam, que se revoltam com o judiciário, que desabafam e as vezes se tornam amigos, sem falar nos que ligam no domingo na hora do fantástico, que nos acusam de não estar dando atenção ao caso dele, mesmo que estejamos acompanhando o andamento com toda diligência que se faz necessário.
Sem falar dos cliente que simplesmente não nos paga. E não são poucos. E que esses honorários que a gente deixa de receber não servem para comprar bolsas caras ou ternos italianos. Servem para pagar aluguel, para pagar o estagiário, para comprar os livros que embasam nossas teses. E mesmo quando os clientes pagam, nem sempre o orçamento fecha.
E nesse dia a dia a gente estuda, faz pós on line. Atualiza-se pelas novas leis que vão surgindo, em detrimento daquelas de quando a gente se formou. Lê artigos sobre o que mudou no Código de Processo. E tem aqueles que querem fazer mestrado. Os que não vão, quase sempre é por falta de grana. Porque com a falta de tempo e com a falta de saúde a gente já aprendeu a lidar, sem contar que a nossa crise de ansiedade que não para.
E o engraçado é que para a maioria das pessoas, todas as profissões podem ser bem remuneradas, a exemplo do engenheiro e do médico. Mas o advogado não. Se o advogado ganha bem, todo mundo já acha que é porque se aproveita dos clientes, faz esquema. Não pode ser por talento, nem dom, nem estudo, nem dedicação.
A desonestidade existe e existirá em todas as profissões. Assim como médico desonesto, engenheiro desonesto, jogador de futebol desonesto. Mas digo com a maior tranquilidade: esses caras são exceção, não regra.
Trabalhar pouco e ser advogado são expressões que nunca andam juntas, pois sempre tem algo para ser feito.
Sou advogado. Tenho orgulho da minha profissão, nesse interregno já exerci alguns cargos públicos que muito contribuiu para minha formação profissional e humana. Somos essencial a justiça, assim como preconiza o art. 133 da CF , a lei só estabelece prazo peremptório para uma das partes, a dos advogados, para o juiz e o Ministério Publico os prazos são flexíveis. Somos aqueles que busca a justiça na sua inercia, fazendo florescer o mundo menos desigual, finalizo com a Frase de Rui Barbosa:
“Justiça tardia nada mais é do que injustiça institucionalizada”.