Por: João Vicente Machado
O processo eleitoral dos Estados Unidos tem características próprias que não nos compete discutir nesse espaço, por ser assunto da economia interna daquele país. Pelo modelo eleitoral deles, a eleição para Presidente da Republica é indireta e cada estado tem legislação própria, ou seja, o processo não é centralizado como o nosso.
Os estados elegem no decorrer de todo ano os delegados representantes ao colégio eleitoral, em numero proporcional à população de cada unidade federativa e no dia 04 de novembro acontece uma eleição homologatória em que o resultado não define o pleito, que é decidido pelos convencionais. Isso pode parecer contraditório, mas pela legislação eleitoral do país é normal.
Donald Trump x Hillary Clinton |
Na própria campanha em que concorreram Hillary Clinton e Donald Trump, por ocasião da eleição homologatória embora Hillary Clinton
Steve Bannon |
tenha obtido maior numero de votos, acabou perdendo a eleição pelos votos do colégio eleitoral que elegeu Donald Trump. O pleito deu muito que falar, por conta do uso pioneiro da mídia digital que, lançava os chamados fake news usando robôs, num processo considerado fraudulento, orientado por Steve Bannon e depois receitado pelo mágico Olavo de Carvalho e os filhos de Jair Bolsonaro, um azarão como Trump, que se elegeu com a mesma prática fraudulenta.
Outro detalhe é que, com a eleição concluída, o resultado é confirmado e em seguida é obrigatoriamente enviado ao senado para homologação. Somente após todo esse rito é que o presidente eleito é empossado.
Joe Biden e Kamala Harris |
Na eleição de novembro passado, Donald Trump enfrentou Joe Biden, vice-presidente de Barack Obama,que a principio não era ameaça.
Todavia, as fragilidades administrativas de Trump, a arrogância desmedida, a fanfarronice, as bravatas, a ruptura com aliados e a provocação aos adversários causaram uma erosão eleitoral incontida, interna e externamente.
O uso ostensivo dos robôs havia sido desmascarado e a fanfarronice e bravatas eleitorais foram aumentando, à medida que a eleição se aproximava, ocasião em que Trump, paladino da moral e dos bons costumes foi mostrando as armas e atravessou todo processo eleitoral nesse diapasão agressivo.
Minoritário em colégios eleitorais onde surfava tranquilo, terminou perdendo o favoritismo no Texas e na Flórida, os dois maiores do pais e, no dia 04 de novembro de 2020, perdeu nas duas pontas: tanto a maioria na eleição homologatória quanto no colégio eleitoral, foi no dizer popular, barba e cabelo.
Mesmo derrotado duplamente, passou a desclassificar o processo eleitoral, a denunciar fraudes, a tentar aliciamentos e até hoje não reconhece a derrota, talvez agarrado na última esperança que, segundo o dito popular é a última que morre.
O mundo assistiu na semana passada, uma cena deplorável, passada nos Estados Unidos, um pais acostumado a invadir outros países em nome da democracia e do humanismo, pregando razões humanitárias.
A invasão da sede do senado estadunidense, não por um inimigo externo mas por milícias internas e grupos organizados, estimulados pelo próprio presidente da república daquele país, mostraram cenas brutais, não nas ruas que contornam o capitólio, mas dentro do próprio prédio do senado onde houve até morte.
Ainda ontem a presidente da câmara baixa, Nancy Pelose, recomendou ao chefe do estado maior das forças armadas que não obedeça a Trump se ele ordenar um ataque nuclear. É uma medida de cautela e ela deve ter percebido que Donald Trump está se comportando como um macaco em loja de louças.
É verdade que o senado providenciou a evacuação e retomou a sessão homologatória e o processo, pelo menos na esfera da justiça foi encerrado deixando uma enorme lição para o mundo e para o Brasil.
Hoje, Bolsonaro abriu os olhos na hibernação política em que vive, ou sobrevive, com uma frase ameaçadora que não tem nada de hilário. Diz ele: “As eleições dos Estados Unidos foram fraudadas.” E completa: “Se o Brasil tiver voto eletrônico em 2022, vai ser a mesma coisa.”
Sabemos que qualquer eleição tem vulnerabilidades, inclusive o voto com cédulas defendido por alguns que precisa ser muito bem fiscalizado. Malgrado, os mais entrados na idade como eu, já viram muitas modalidades de fraude e elas vêm desde o voto a bico de pena. Não podemos, mais uma vez à guisa de corrupção, matar a vaca para acabar o carrapato.
Trump x Bolsonaro |
Aqui no Brasil, Jair Bolsonaro que se arvora de ser o sósia de Trump e de olho nas eleições de 2022, nas quais é candidatíssimo, já começa a arrotar ameaças e é isso que nos preocupa. A preocupação aumenta quando nós constatamos a inércia e a indiferença de parte da população que o apoia incondicionalmente como dogma de fé, como que acometida da Síndrome de Estocolmo, nos trazendo à mente a letra de uma música de Zé Geraldo de título: Milho aos Pombos, onde num trecho ele diz:
“…Entra ano, sai ano, cada vez fica mais difícil.
O pão, o arroz, o feijão, o aluguel.
Uma nova corrida do ouro.
O homem cobrando da sociedade o seu papel.
Quanto mais alto o cargo maior o rombo
Isso tudo acontecendo e eu aqui na praça.
Dando milho aos pombos.
Zé Geraldo
Fontes:
Consultas: Valor Econômico
Fotografias:ZERO HORA
Parabéns João Vicente por seu artigo sobre a invasão do CAPITÓLIO – uma síntese bem fidedigna dos acontecimentos.
Se fosse uma invasão ao prédio do antigo (cine) Capitólio de Campina Grande, a notícia não teria igual glamour.
Na verdade, as imagens que chocaram o mundo, quando manifestantes-apoiadores do atual presidente Donald Trump, invadiram e promoveram um quebra-quebra no Capitólio, sede do Legislativo federal dos EUA, serviu para expor as mazelas e fragilidades internas do governo, da política e da própria sociedade norte-americana.
Existe um provérbio espanhol que diz “quando você vir as barbas de seu vizinho pegar fogo, ponha as suas de molho”.
> Olho vivo nas eleições presidenciais brasileiras e trâmites sucessórios em 2022.