David Nasser |
Por: Flavio Ramalho de Brito
David Nasser foi, durante pelo menos duas décadas, o jornalista mais conhecido do país. Figura polêmica e de comportamento discutível, Nasser nem sempre usava a sua pena para defender causas nobres e justas e não obedecia a um princípio básico do jornalismo, a verdade factual dos acontecimentos.
Com grande talento para escrever, mas sem muito escrúpulo ou rigor no que escrevia , Nasser era, no entanto, um notável letrista da nossa música popular.
Iniciando-se na música popular praticamente ao mesmo tempo do seu ingresso no jornalismo, David Nasser colocou palavras em cerca de 300 canções, com vários parceiros: Benedito Lacerda, Francisco Alves, Alcyr Pires Vermelho, Haroldo Lobo, Ary Barroso, Custódio Mesquita e, o principal deles, Herivelto Martins.
David Nasser é o letrista de clássicos do cancioneiro popular do Brasil, como “Normalista”, parceria com o flautista Benedito Lacerda, aqui interpretada pelo cantor Nelson Gonçalves.
Moraes Moreira e Geraldo Azevedo – Canta Brasil – David Nasser com Alcyr Pires Vermelho
Caetano Veloso – Pensando em ti – David Nasser com Herivelto Martins
Maria Bethânia – Camisola do dia – David Nasser com Herivelto Martins
David Nasser é o letrista da canção “Fim de Ano”, parceria com o cantor e compositor Francisco Alves, que é bastante tocada nas festas de final de ano. “Fim de Ano” tem versos muito pertinentes ao final deste ano em que uma desgraçada pandemia se alastrou por todo o mundo.
“Adeus, ano velho!
Feliz ano novo!
Que tudo se realize
No ano que vai nascer!
Muito dinheiro no bolso,
Saúde pra dar e render!
Para os solteiros, sorte no amor
Nenhuma esperança perdida
Para os casados, nenhuma briga
Paz e sossego na vida”
João Dias – Fim de Ano – David Nasser com Francisco Alves
A MBP é um celeiro de grandes compositores e intérpretes que embalaram nossos sonhos e encheram nossos corações de alegria e de amor. Pena que a liquidez da pós-modernidade e a invasão da cultura de massa tenham levado nossos jovens para o outros caminhos, ficando os nossos letristas cada vez mais pobres e mais banal. Feliz Ano Novo!!!!
Ótimo artigo. Ouvi todas estas canções na minha infância e continuo gostando delas, mas não sabia que essas letras eram de David Nasser, nome que a minha memória só lembrava como jornalista.
A cada artigo Flávio Brigo sempre surpreende com o seu garimpo sociocultural . Hoje ele nos traz “ O Turco” como o denominava o paraibano de Umbuzeiro, introdutor da televisão no Brasil e fundador de um império jornalístico que Assis Chateaubriand Bandeira de Melo.
Chateaubriand fundou a revista O Cruzeiro, ribalta literária do Turco, figura polêmica que esteve presente como protagonista em todas as escaramuças golpistas no país, desde o suicidio de Getúlio Vargas em 1954 até o golpe militar de 1964, aprofundado em 1968.
David Nascer seria o Macunaíma da história do jornalismo do período citado. Parabéns a Flávio Brito pela riqueza de narrativa.