Poeta Silvino Pirauá

                              

Por: João Vicente Machado

No vídeo que divulguei no sitio, (site) no sábado, dia 21/11/2020, me referi ao poeta Silvino Pirauá de Lima, poeta, cordelista, cantador, violeiro, glosador, poeta popular repentista, introdutor da sextilha no cordel e mais, o criador do martelo agalopado, que à época era uma novidade que revolucionou a cantoria de viola.

Silvino é paraibano da cidade de Patos, nascido no século XIX (1848-1913), discípulo de Romano de Teixeira e de Ignácio da Catingueira  e  em que pese a sua grandeza poética é muito pouco reconhecido.

A introdução do martelo agalopado na cantoria por si só, já era suficiente para defini-lo. Afinal de contas é no verso em dez que todos os motes são glosados. A sextilha aborda temas: a seca, o inverno, a vaquejada, a natureza etc.

Para glosar os motes ou temas  que são propostos,  sempre em dois versos, são necessários mais oito  versos para o sucesso da glosa. Vejamos um exemplo bem didático:

“Vaqueiro é pra pegar touro,

 Amansar bezerro e vaca,

 Cortar  páu fazer estaca

 E consertar bebedouro.

 Fazer queijo beber soro

 Curtir couro e rapar sola,

 Fazer freio e rabichola

 Tanger cabra e capar bode,

 Quem é vaqueiro não pode,

 Ser cantador de viola.


                                                                Pinto do Monteiro.

O tema é extenso e eu selecionei seis versos de Silvino Pirauá que são suficientes para mostrar a grandeza desse  grande talento, num reconhecimento póstumo de 107 anos. 

José Mota Victor, colega engenheiro da CAGEPA, escritor, dramaturgo, membro do Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba, um admirador da cultura popular, sempre tem referido ao poeta Silvino Pirauá e eu sugeriria a ele, como conterrâneo que é, organizar uma homenagem a esse grande vulto da cultura popular, cujos pilares deu suporte a esse que é o tema mais atraente da cantoria de viola. 

E TUDO VEM A SER NADA


Tanta riqueza inserida

Por tanta gente orgulhosa,

Se julgando poderosa

No curto espaço da vida;

Oh! que ideia perdida.

Oh! que mente tão errada,

Dessa gente que enlevada

Nessa fingida grandeza

Junta montões de riqueza,

E tudo vem a ser nada.

 

Vemos um rico pomposo

Afetando gravidade,

Ali só reina bondade,

Nesse mortal orgulhoso,

Quer se fazer caprichoso,

Vive até de venta inchada,

Sua cara empantufada,

Só apresenta denodos

Tem esses inchaços todos

E tudo vem a ser nada.

 

Trabalha o homem, peleja.

Mesmo a ponto de morrer,

É somente para ter,

Que ele tanto moureja,

Às vezes chove e troveja

E ele nessa enredada

À lama, ao sol, ao chuveiro,

Ajuntam tanto dinheiro,

E tudo vem a ser nada.

 

Temos palácios pomposos

Dos grandes imperadores,

Ministros e senadores,

E mais vultos majestosos;

Temos papas virtuosos

De uma vida regrada,

Temos também a espada

De soberbos generais,

Comandantes, Marechais,

E tudo vem a ser nada.

 

 

Mas, quanto está enganado.

Nesta ilusória pousada

Cá nesta breve morada.

Não vemos nada imortal

Temos um ponto final;

E tudo vem a ser nada.

Tudo quanto se divisa

Neste cruento torrão,

As árvores, a criação,

 

Tudo em fim se finaliza,

Até mesmo a própria brisa,   

Soprando a terra escarpada,

Com força descompassada

Se transformando em tufão,

Deita pau rola no chão,

E tudo vem a ser nada.

 

Infindo só temos Deus,

Senhor de toda a grandeza,

Dos céus e da natureza,

De todos os mundos seus.

Do Brasil, dos Europeus,

Da terra toda englobada

Até mesmo da manada

Que vemos no arrebol:

Nuvem, lua, estrela e sol,

Tudo mais vem a ser nada.

Consulta:  memórias da poesia popular;

                         recanto das letras

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