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Kid Morengueira, o Rei do Gatilho

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Por: Flavio Ramalho de Brito


Intercalar frases ou pequenas histórias no meio de peças musicais era um recurso utilizado desde tempos remotos. No final do século 19, era comum a inserção de partes discursivas nas cançonetas que eram apresentadas nos teatros da Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro. 

Nos últimos anos da década de 1920, essa interposição de palavras em intervalos da melodia começou a aparecer no samba. O pesquisador Ary Vasconcelos dá como exemplo dessa prática o samba “Cansei”, de 1929, de Sinhô. Mas, até então, essa intercalação discursiva seguia a linha melódica da música, como se fosse seu prolongamento, ou, como se fizesse parte do arranjo da canção, e acontecia, quase sempre, no final da sua segunda parte, como um retorno para o início.

A partir dos anos 1930, essa introdução de frases no curso da melodia ganhou um nome: breque. Para o sempre rigoroso historiador da música popular José Ramos Tinhorão, “a expressão breque propriamente dita, entretanto, só ia aparecer – e por sinal com a grafia inglesa break – em 1933”. Foi assim que essa intercalação de palavras nas músicas  começou a surgir em partituras e nas revistas que publicavam letras de músicas.

Mas, o breque mudou de forma quando, em 1936, o sambista Moreira da Silva começou a utilizar o recurso de maneira totalmente distinta daquela que vinha sendo adotada pelos cantores da época. Ao interpretar em um espetáculo o samba “Jogo Proibido”, de Tancredo Silva que, segundo Moreira da Silva tinha vários espaços entre os versos, o cantor aproveitou esses intervalos para introduzir frases sem qualquer vinculação com a melodia. A apresentação de Moreira obteve grande sucesso e “Jogo Proibido” é considerado o primeiro samba de breque da música brasileira.

Embora Moreira da Silva tenha começado a cantar o “Jogo Proibido” em 1936 ele só veio a gravar a música em 1953, quando o samba de breque já estava definitivamente ligado ao seu nome. A primeira gravação de um samba de breque foi feita em 1940, quando Moreira da Silva gravou “Acertei no Milhar”, que embora registrado como a parceria de dois grandes sambistas, Wilson Baptista e Geraldo Pereira, foi, efetivamente, composto apenas por Wilson Baptista. Essa era uma situação que ocorria muito frequentemente nas confusas parcerias musicais daqueles tempos.

Acertei no Milhar

https://youtu.be/3RFU0-bjNO4

“Etelvina (o que é, Morengueira?)

Acertei no milhar!

Ganhei quinhentos contos, não vou mais trabalhar

você dê toda roupa velha aos pobres

e a mobília podemos quebrar

(breque)

Isso é pra já, vamos quebrar. Pam, pam, bum, etc…  […]

Mas de repente, de repenguente

Etelvina me chamou

Está na hora do batente

Mas de repente Etelvina me chamou

Disse: acorda Vargolino

Mete os peitos pelos fundos

Que na frente tem gente

Foi um sonho, minha gente!”

A partir da gravação de “Acertei no Milhar” Moreira da Silva se firmou como uma das figuras mais importantes da nossa música popular, interpretando sambas antológicos, aos quais dava a sua marca inconfundível, como “O Rei do Gatilho”, “Na Subida do Morro”, “O Último dos Moicanos”, “Pistom de Gafieira”, “Amigo Urso”, “A Dama do Cemitério”, “Faustina” e tantos outros. O gênero samba de breque é, com justíssima razão, sempre ligado ao nome de Moreira da Silva, seu insuperável intérprete.

                               


                       

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3 COMENTÁRIOS

  1. Aqui em Lavras da Mangabeira, na década de 1970, toda a mocidade (estou me incluindo) se reunia no banco da calçada de Sr. Fiel numa verdeira festa de conversas, piadas e ao som do cavaquinho do nosso amigo Ednardo que com muita habilidade musicava toda a rua. O repertório era o mais variado e os cantores também. Eu arrisva cantar Gal Costa, Betânia, Caetano Veloso e Elba Ramalho, dentre nós, Pita Souza e Vicente Severino puxavam samba de breque, Pita sabia e cantava todos de Moreira da Silva e Vicente não só cantava como batia numa caixa de fósforos, acompanhando o cavaquinho e o violão as célebres e imortais canções de Jackson do Pandeiro com direito a toda a performace que a música exigia. Foram anos de muita alegria que só a juventude pode proporcionar.
    "Velhos tempos belos dias."

  2. Excelente texto sobre Moreira da Silva, o criador do samba-de-breque.
    Talvez ele seja o precursor do “RAP”, pois com aquela “paradinha” no meio da música, reforçava a mensagem musical, falando algo. Quase sempre uma exaltação a malandragem carioca.
    Sua importância na MPB foi de tal monta que Moreira da Silva participou do histórico disco de Chico Buarque de Holanda "Ópera do Malandro" nos idos de 1979, fazendo dueto com o próprio Chico Buarque.

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