Por: Flavio Ramalho de Brito
O nome de Vinícius de Moraes é sempre lembrado pela sua obra poética formal e como um dos mais importantes letristas do cancioneiro popular do Brasil, na condição de parceiro, em canções imortais, de Antonio Carlos Jobim, Baden Powell, Edu Lobo, Carlos Lyra, Chico Buarque, Francis Hime, Toquinho, Ary Barroso, Pixinguinha, Adoniram Barbosa e até de Johann Sebastian Bach.
Para o poeta Carlos Drummond de Andrade, Vinícius era “poeta em livro, música e poeta na vida […] foi aquele que conseguiu chegar mais perto do povo, a canção que toca todo mundo, seja classe média ou povão”.
A relação de Vinícius de Moraes com a música começou muito cedo, como ele próprio contava:
“sou fundamentalmente um poeta e músico desde pequeno […] esse negócio de se dizer que qualquer poeta pode fazer letra de música não é verdade. O Bandeira fez, mas para músicas de caráter camerístico, de Villa-Lobos e do Ovalle. O único samba que ele fez, com o Ary Barroso, não é bom […] não sei se poetas como o Drummond e o João Cabral poderiam fazer […] E não é o meu caso, eu sou um poeta músico, a música para mim é uma necessidade tão grande quanto a poesia e isto desde menino se revelou. Eu fiz as minhas primeiras canções com os irmãos Tapajós, aos 15 anos de idade. Depois, eu dei uma esnobada na música, por problema de idade, por falta de experiência, porque eu achava que o chamado poeta de livro não podia se baixar até a canção”
Vinícius de Moraes foi criado em um ambiente em que havia música. Nos saraus que eram realizados na sua casa, sua mãe executava músicas no piano e o seu pai e um tio tocavam violão, e, em decorrência disso, Vinícius aprendeu a tocar corretamente o violão. Embora não fosse um virtuose no instrumento o poeta tinha os fundamentos suficientes para se aventurar na composição, ao ponto de fazer músicas no violão “com escalas complicadas”, como disse Toquinho, o seu último parceiro.
A faceta de Vinícius de Moraes como compositor é pouco conhecida, ofuscada pelo magistral construtor de palavras para melodias feitas por outros compositores. Mas, Vinícius compunha, também, sozinho, fazendo letra e a melodia das canções, e, em alguns casos, fazendo a música para um parceiro colocar a letra.
A produção musical de Vinícius de Moraes como compositor, sem parceiros, tem, pelo menos, cerca de dez músicas que estão entre as melhores canções da música popular brasileira, entre as quais a seresta “Serenata do Adeus”, a rebuscada “Valsa de Eurídice”, “Pela Luz dos Olhos Teus”, “Ai Quem me Dera”, “Tomara” e “Medo de Amar”, que se tornaram clássicos do nosso cancioneiro.
Outra grande música composta individualmente por Vinícius de Moraes foi o samba-canção “Quando Tu Passas Por Mim”, embora tenha saído com a parceria de Antonio Maria. E foi o próprio Vinícius quem explicou o ocorrido:
“Foi um trato como se fazia muito na época, lucrativo para mim, porque o Maria era um letrista conhecido, e eu não”
Vinícius de Moraes também fez música para um parceiro colocar a letra, como foi o caso de “Valsinha”, que ele compôs com Chico Buarque.
Em 2003, Miúcha gravou, para a gravadora Biscoito Fino, o disco “Miúcha canta Vinícius & Vinícius”, com 14 músicas compostas por Vinícius de Moraes, sem parceiros.
Serenata do Adeus – Maria Bethânia
Medo de Amar – Chico Buarque
Pela Luz dos Olhos Teus – Tom Jobim, Miúcha e Vinícius de Moraes
Valsa de Eurídice – Baden Powell
Tomara – Vinícius, Marília Medalha e Toquinho
Ai Quem me Dera – Amelinha
Quando tu passas por mim – Zé Renato e Wagner Tiso
Valsinha – Toquinho
Vínícius viveu intensamente, amou perdidamente e encontou apaixonadamente. Só quem viveu essa época sabe da importância de Vinícius em nossas vidas. Depois da sua partida andamos pelas noites vazias e sem suas canções na boemia. Acho que também não existe mais boemia.
A boêmia era algo indescritível e fez parte, pelo menos de uma fase de vida de quase todos nós. Cada um com a sua dosagem viveu a boêmia. No entanto Vinicius de Morais foi o parafina da boêmia intensa e permanente com todos os seus predicados.