Por: Cristina Couto
O que aconteceu contigo, minha pequena cidade, postada às margens do Salgado? Porque tanta tristeza? O que fizeram a ti, ó princesa formosa, mulher banhada com as águas desse Rio que não apenas rega as tuas terras como lava a alma dos teus filhos.
Antes tu eras alegre, formosa e viçosa, com teus casarões antigos, tuas casas que, por mais simples que fossem, tinham no alto das janelas a marca registrada dos seus moradores. Agora resta pouco do teu passado glorioso Não sei com que propósito querem apagar tua história registrada nas paredes, no chão e na paisagem urbana; e teus primeiros sinais de vida.
Lembro saudosa das tuas calçadas lotadas de cadeiras na boca da noite, esperando a chega do vento do Aracati; lembro-me das tuas ruas cheias de crianças a correr e a gritar ao vento como se tu fosses surda; lembro-me dos banhos matinais na barragem e dos piqueniques aos domingos no Boqueirão, na Volta e no Gueguéu.
Onde foram parar as tuas lendas e as tradições seculares? Nada disso acontece mais, e não te reconheço. O que aconteceu a nossa cidade que vivia em eterno movimento? Porque se entristeceu a Velha Princesa do Salgado?
E porque ninguém faz nada para te tirar dessa agonia, dessa angústia e dessa melancolia que te invade. Cadê tuas crianças nas ruas? E os velhos e divertidos circos que outrora alegravam tuas noites? As quermesses e leilões de São Vicente Ferrer realizados pelo nosso saudoso Padre Alzir?
Pobre de ti, torrão querido, que não resistisses ao tempo, ao furor dos teus destruidores, às camadas negras de asfalto com que tentam silenciar a tua liberdade. Agora que te cobriram de luto para mostrar a indiferença que nutriam por ti, sei que estás sufocada tentando existir.
E tu que ficaste conhecida como Princesa do Salgado, és hoje, a Cidade Morta de todas as paixões, de todos os fervores, e de todos os sentimentos dos teus filhos que se fizeram poetas para hoje chorar a tua passível destruição.