Por: João Vicente Machado
O semiárido nordestino é uma das regiões brasileiras de menor índice pluviométrico em função da irregularidade das chuvas, passando a impressão para quem não conhece, de que é uma região incapaz de regenerar-se e por isso inviável.
Nordestino do semiárido por nascimento, portanto um catingueiro convicto, me obriguei a estudar um pouco a fisiografia e a climatologia da região, que ocupa uma área de 969.563,3 Km2 e se estende desde a região central da Bahia até o sudeste do Piaui.
“O clima Tropical Semiárido caracteriza-se pela escassez e pela irregularidade das chuvas. O índice de chuvas é inferior a 800mm/ano, (média) as temperaturas médias em torno de 27°C e a amplitude térmica por volta de 5°C. É controlado por massas de ar equatoriais e tropicais.”
A figura ao lado mostra um mapa representativo da extensão da área ocupada pelo semiárido e as diversas ações de convivência com a seca.
Dom Helder Câmara escreveu um livro que tinha por título O Deserto é Fértil, “onde ele revela a utopia de um mundo mais justo e solidário” cujo enfoque é social, espiritual e religioso, todavia revela uma verdade que poucos conhecem e por isso consideram “o Nordeste, ruim seco e ingrato” cantado no poema de Bráulio Tavares, ao invés de compreender que esse grande polígono é a região semiárida mais habitada do mundo, concentrando 22 milhões de habitantes.
Ao contrário do que imaginam, o nordeste é viável sim e, para produzir racionalmente e de forma sustentável só é necessário que os governantes implementem políticas públicas de convivência com a seca ao invés de brigar com ela, como se alguém pudesse brigar e vencer a natureza.
Em recente viagem para Fortaleza, capital do Ceará, aproveitei para observar ao longo do percurso, o clima, o solo, a hidrografia, a vegetação, o relevo, enfim o que me fosse possível.
Atravessei o Litoral Norte da Paraíba, o Rio Grande do Norte de Leste a Oeste e o Nordeste do Ceará, pontuando alguns detalhes que muitas vezes nos passam despercebidos.
O Litoral Norte da Paraíba e o Leste do Rio Grande do Norte, compõe a antiga zona da mata, hoje zona da cana de açúcar e tem um solo arenoso de baixa fertilidade, exaurido pela monocultura da cana de açúcar, em que pese o uso do vinhoto das usinas usado como irrigação fertilizada.
No trecho entre Natal e a cidade de Riachuelo, vai acontecendo a transição entre a zona da mata e o agreste, com passagem por tabuleiros litorâneos onde prevalece a pecuária e em decorrência, uma forte bacia leiteira, numa extensão de 90Km. Nessa faixa há uma grande aparência com a vegetação do baixo Paraíba na região do Cajá, onde prevalece xerófitas como o juazeiro.
No trecho de aproximadamente 40Km entre Riachuelo e as proximidades de Lajes, é visível a semelhança com a faixa mais seca do agreste paraibano, onde há uma forte incidência da cactácea de nome facheiro, de hastes de menor diâmetro do que o mandacaru e de porte mais alto do que o xique xique.
A semelhança entre as cactáceas me faz crer que o exemplar mexicano tem uma maior reserva de água e para mim esse é o maior testemunho da diferença entre O semiárido e o deserto, onde a reserva da água deve ser bem maior.
A partir de então a vegetação artificial de cajueiros e mangueiras além de espécies rasteiras das estepes litorâneas, manchas de cana de açúcar que dominam o cenário até Fortaleza, hoje dividido com os aerogeradores eólicos.
Isso, isso tudo é semiárido!
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