Por: João Vicente Machado
A revista Carta Capital, edição de 09 de setembro de 2020, traz uma matéria de Victor Caucagno que tem como manchete: Pires na Mão, com a subscrição: “As Universidades Privadas pedem socorro para evitar uma crise sem precedentes.”
Queixando-se dos efeitos da pandemia do covid19, que Bolsonaro e sua corte tratam com desdém, o articulista cita o caso de um estudante pobre, aluno do curso de Publicidade e Propaganda da Uni Carioca instituição privada do Rio de Janeiro, que foi obrigado a trancar matricula por incapacidade de pagamento. Referindo-se à conjuntura, o diretor executivo da instituição lamenta: “Como grande parte vive em famílias com renda per capita de até um salário mínimo, é possível que vá cuidar dos problemas financeiros mais imediatos e dificilmente volte à academia”.
Universidade Unicarioca
Há poucos dias tínhamos passado em revista os números da LOA previstos para 2021, e hoje nos deparamos com a informação do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, anunciando um corte de 18,2% para as Universidades Federais, Institutos Federais e o Colégio Pedro II no Rio de Janeiro que desde o império é federal.
Enxergamos uma profunda contradição nas ações do Governo Federal, no tocante às suas obrigações como responsável pela formulação da política pública de educação de um modo geral e em particular com o ensino superior, formador de quadros para o estudo e a pesquisa técnico-científica, além de fomentar o desenvolvimento científico do país como um todo.
Não é de agora que a nossa educação foi transformada em mercadoria. Esse projeto vem de longe e foi sendo implantado lenta e gradualmente a partir do ensino fundamental. Quando do golpe militar de 1964, a educação pública passou a ser objeto de monitoramento e de patrulhamento ideológico, com a instituição da censura pedagógica
Essa prática garroteou financeiramente a educação, a partir do ensino fundamental, provocando o achatamento dos salários dos professores, a desqualificação profissional, o sucateamento das escolas, e a precarização dos meios didáticos, aviltando a profissão de educador e tornando-a não atrativa.
Aí entra em cena o setor privado, com o surgimento das escolinhas particulares de abnegados educadores, onde o estado passou a comprar vagas para suprir a carência crescente do serviço público. À medida que foram se tornando atrativas, ° englobou o 2° grau e foi seduzindo o capital, até o surgimento do empresariado escolar representado por marcas famosas como: ESUDA, CPUC, 2001, CA etc. que iam se tornando famosos, na medida em que as escolas menores iam sucumbindo pela inadimplência.
Jeannie é um Gênio!
Agora , quando a crise se descortina, o “eficiente” capital privado abre o berreiro chamando e clamando pelo estado.
“Na quinta feira 27, o ministro da educação Milton Ribeiro, afirmou que o MEC vai disponibilizar 140 mil vagas remanescentes do Prouni e do Fies não preenchidas durante os processos seletivos dos programas que oferecem bolsas e financiamento ao ensino superior”
Perceberam, eles querem dinheiro vivo, enquanto os reitores das Universidades Federais estão com a sacola na mão para fechar as contas.
Em algumas ocasiões o estado é tudo quanto não presta: pesado, ineficiente, burocrático, incompetente e tudo mais. Lembra a Gení do Zepellin (ouça aqui)
Porém quando vacas são magras ai a situação se inverte e correm como uma criança, berrando à procura do velho estado, como acontece agora.
Fonte: Revista Carta Capital edição 09/09/2020