Cooptação Ideológica

  Por: João Vicente Machado

  A disputa da hegemonia de classe é uma constante no estado capitalista e é fruto das contradições irreconciliáveis entre o mundo do capital e o mundo do trabalho. 

   O mundo do capital, muito mais  organizado e estruturado do que o mundo do trabalho, apesar de ser amplamente minoritário, tem a seu favor a estrutura do estado burguês, com a separação tripartite dos poderes idealizada por Montesquieu, que a rigor, em que pese pressupor poderes independentes e autônomos, integra a superestrutura do estado capitalista moderno, um bloco monolítico que dá suporte à dominação.

   Portanto, por conceito e oficio, a burguesia exerce o poder político, através de uma combinação entre as três instâncias de poder, com  a participação de adeptos da classe explorada,  que são atraídos por: convencimento, cooptação ou coerção.

  Nunca foi fácil formar quadros orgânicos comprometidos com a classe oprimida sem que esses quadros não fossem tentados e/ou submetidos ao trinômio: convencimento, cooptação ou coerção, seduzindo muitas lideranças que  capitulam  sem nenhum escrúpulo ou  pudor, transformando-se em instrumentos da burguesia,  com a miragem enganosa de ascensão de classe.

   Essa prática não tem nada de novo e foi muito usada pelo império romano, para neutralizar lideranças e afastar ameaças à dominação do domínio imperial, através de personagens atraídos do seio da plebe, cooptados e posteriormente infiltrados entre os seus. 

  Quando surgia do meio do povo uma liderança emergente, quer fosse um campesino ou gladiador, logo era assediado e dependendo da firmeza das convicções que esboçasse, passava pelo trinômio já citado: convencimento em primeiro lugar, cooptação em segundo lugar e como complemento ao convencimento e por fim a coerção repressiva.

   Na fase do convencimento retiravam-nos das galés, da agricultura ou das arenas de gladiadores, levavam-nos aos palácios onde os esperava roupas limpas, mesa farta, vinhos finos e belas acompanhantes, numa convivência de meses, monitorando  a capacidade de resistência através sabatinas amistosas intercaladas.

  Uns demoravam mais, outros menos, mas a grande maioria se quedava e, tomada pelo complexo de Estocolmo voltavam às origens convertidos  em opressores, até que se depararam com Spartacus.

                          Spartacus

  Nos tempos atuais, o processo modernizou-se e pela natural mudança  da escala de valores, podem ter mudado as moscas, mas o pirão continua exatamente o mesmo. 

  Após o fim do escravismo a história  atravessou mil anos do feudalismo, já transcorrem mais de trezentos anos de mercantilismo/capitalismo  exibindo evidentes sinais de falência, mas a prática é mais ou menos a mesma. 

  A cooptação pode até ter sido modernizada, camuflada, maquiada, mas é permanentemente  usada como uma prática perniciosa, alterando o caráter de lideranças transformadas em laranjas da classe dominante.

  Nos dias atuais, os  partidos políticos ditos de esquerda, abrigam no seu interior, lideranças  contaminadas por essa prática perniciosa, que fazem do arrivismo  um objetivo e do carreirismo uma prática, totalmente dissociadas da sua classe e envolvidas em conluios e conchavos  com o que há de mais atrasado na política, fortalecendo o processo de exploração. Para preservar as benesses pensam em tudo, menos no compromisso de classe que deveriam ter.

 Esperamos enquanto povo, que nessas eleições essa prática perniciosa não se repita, sob pena do julgamento severo da história que, com certeza não os absolverá.


Fotografias :poltrona nerd;

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