Bebida do Brasileiro

 

    Por: João Vicente Machado

Quase todo País do mundo tem  uma  bebida alcoólica  característica que leva em conta o maior ou menor rigor do clima e termina virando uma  marca registrada. As bebidas, sejam elas destiladas ou fermentadas, atendem a paladares diversos e de certa forma têm no clima a definição da preferência popular.

Alguns dos países do hemisfério norte onde há uma variação climática de temperado a frio, têm no Whisky a sua marca registrada e em que pese ser  uma bebida mundial, tem por  berço    a    Escócia, estendendo-se para os  demais países do Reino Unido: Inglaterra, Irlanda do Norte e País de Gales. 

Como os maiores produtores de Whisky  do mundo, eles  dispõem de  mais de cem destilarias espalhadas pelo  território e a bebida é presença obrigatória na pauta das suas exportações, inclusive para o Brasil e outros países espalhados pelo planeta, também apreciadores da bebida.

Os Estados Unidos, pela identidade de origem com o Reino Unido do qual foi colônia, produz Whiskies de boa qualidade nas destilarias de Whiskies dos arredores de Louisville no estado do Kentucky.

Quem não se lembra da cena dos cowboys escorados no balcão dos saloon do velho oeste, pedindo alto e bom som: Whisky?  Ah, meus tempos de adolescente, onde o faroeste era o filme de preferência!

      A Cerveja e a Alemanha se confundem em identidade e até os imigrantes que se espalharam pelo resto do mundo, cultuam o paladar fino das boas cervejas e chopp alemães.  

Blumenau, uma bela cidade brasileira do estado de Santa Catarina, com uma presença marcante de imigrantes alemães, realiza anualmente uma grande festa dedicada à cerveja e chope, que já se incorporou ao calendário turístico do estado, a famosa e concorrida oktoberfest!

       A França virou a Meca dos vinhos finos e mais caros do mundo tendo influenciado vários países que lhe seguiram os passos,
tais como: Portugal, Espanha e Chile, o maior produtor do mundo, além da Argentina, África do Sul e até o Brasil que também já produz bons vinhos.

A Vodka, um destilado a partir do arroz, é a bebida nacional da Rússia, que também é fabricada e consumida na Polônia, Ucrânia, Bulgária e Eslováquia.  

    A Tequila produzida pela fermentação do olho de agave é uma marca registrada do México, mas é também consumida nos Estados Unidos, Canadá, Lituânia, Grécia e até no Brasil.

O Rum, um primo irmão da cachaça, é uma bebida de qualidade e tem berço em Cuba, mas espalhou-se pela América Central onde quase todos os países o fabricam, exportam e consomem.                                            

Para não falar das preferências dos países orientais, me volto para o leitor e pergunto: E o nosso Brasil? Qual a bebida nacional brasileira?”

Sem dúvida nenhuma, Sua Majestade a Cachaça! “

O preconceito contra a cachaça em épocas passadas era real e o termo cachaceiro, além de preconceituoso era depreciativo. Na minha terra natal a saudosa e inesquecível Lavras da Mangabeira, os bebedores públicos de cachaça geralmente pertenciam a um extrato social considerado inferior. 

Não é que a chamada elite da cidade não bebesse cachaça! Bebia sim, mas de forma furtiva e cunhou até uma chancela camuflada: “vamos matar o bicho!” 

Meu saudoso pai tinha uma mercearia onde vendia entre outras coisas a cachaça e onde eu, apesar de ainda criança, presenciei muitas figuras públicas da cidade, amigos dele, “matando o bicho” no balcão da bodega e cuspindo no pé do balcão.

Naquela época a cachaça tinha de ser escondida para não macular a reputação dos consumidores de elite em obediência ao preconceito, a sua fabricação muito discreta, era feita de forma acanhada para não reduzir socialmente o dono da fabriqueta.

A cachaça chegava pronta para o consumo, acompanhada das garrafas e dos rótulos, e vinha da fábrica em Acarape, nas imediações de Fortaleza, em barris de madeira que eram transportados pelo trem da RVC. O engarrafamento e a rotulagem eram de responsabilidade do distribuidor que era meu pai. A sua marca era Madeira de Lei e o fabricante era José Costa.

O declínio do engenho de rapadura foi a metamorfose que a cachaça precisava para ganhar espaço e tal qual a borboleta que um dia foi lagarta,  emergiu dos alambiques, se afirmou e ganhou  status como bebida e  como diriam os locutores esportivos,  “adentrou” de forma ainda acanhada nos salões da chamada elite, para a partir daí   se consolidar como bebida nordestina de musculatura.

Chegamos enfim à nossa bebida nacional, e à região nordestina, produtora por excelência. 

Por amor telúrico e por rigorosa questão de justiça, vamos discorrer sobre o estado que produz, na nossa modesta opinião, a melhor cachaça branca de alambique do Brasil que é a nossa Paraíba.

O Planalto da Borborema que começa na Bahia e se estende até o estado do Rio Grande do Norte, inclui uma faixa da Paraíba, de Sul a Norte, formando a mesorregião do agreste paraibano, que tem nomes locais consagrados como: Cariri, que é o Agreste Meridional e Setentrional chamado de Curimataú, separados pela rodovia governador Antônio Mariz, a BR 230.

Existe no seu interior, microrregiões com relevo e clima diferenciado e é numa dessas microrregiões da chapada  que vamos encontrar o Brejo Paraibano onde se localiza a  centenária cidade  de Areia.

Areia e as demais cidades do brejo paraibano, teve nas suas origens a vocação agropastoril com a economia  arrimada também na produção de café, no plantio do agave, na produção de bananas e no fabrico de rapadura através dos engenhos que existiam em grande número, tanto em Areia como nas cidades circunvizinhas.

O café foi afetado por uma das pragas do cafeeiro de origem misteriosa, e não conseguiu se afirmar economicamente. O mesmo aconteceu ao agave que sofreu o impacto da fibra sintética da indústria petroquímica, apesar ainda ter potencial. 

O engenho de rapadura, com baixa tecnologia e alto custo de produção, além de um ciclo longo de colheita, foi se tornando inviável gradualmente, a ponto de sobreviverem pouquíssimos  deles em atividade.

É na crise que somos obrigados a nos reinventar, ocasião em que a nossa criatividade se aguça e somos capazes de realizar o inimaginável, Areia redescobriu as potencialidades da cana de açúcar, reinventou-a e deu inicio de forma incipiente à produção de cachaça, de forma totalmente amadora e artesanal.

A baixa produção em maior escala era absorvida pelos fabricantes industriais de aguardente de cana e as vendas de menor porte eram repassadas depois de muito convencimento, aos pequenos comerciantes das mercearias e vendidas esporadicamente aos apreciadores de cachaça, que iam à procura no  próprio engenho.

Pouco a pouco o interesse pela cachaça foi aumentando e os produtores artesanais começaram a se  capacitar através cursos que os habilitava  a qualificar o seu produto, ingressando a duras penas no mercado, vencendo por pura insistência a incredulidade dos varejistas com relação à qualidade e aceitação do produto.

Hoje em dia temos fabricantes organizados, com produção mecanizada que primam pela qualidade, o que nos autoriza a afirmar que a Paraíba produz a melhor cachaça branca de alambique do Brasil, atendendo o mercado interno e até exportando mais de 35 marcas de cachaça para outros estados.

Em breve o nosso site vai estar lançando mais um canal com o leitor e vai se chamar Assuntando com João Vicente, e entre os entrevistados vamos bater um papo sobre cachaça de alambique com a presença de Maria Julia Baracho , que juntamente com o esposo Antônio Augusto Baracho,  são os  idealizadores e donos  do Engenho e cachaçaria Triunfo. 

                     Maria Julia Baracho e Antônio Augusto Baracho

 

REFERÊNCIAS: http://cbnjoaopessoa.com.br/ 

AssociaçãoParaibana de Engenhos de Cachaça de Alambique –ASPECA;

         Maria Julia Baracho por ocasião da visita ao engenho e cachaçaria Triunfo.   

FOTO: https://www.canva.com/

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