Muito se tem ouvido falar da sisudez de seu Lunga da cidade do Juazeiro do Norte no Ceará, mas poucos sabem que ele não foi pioneiro na impaciência com perguntas tolas que ensejam respostas evidentes. Consciente ou não, ele teve um forte paradigma que lhe antecedeu em muitos anos atrás eque fez história cantada em verso e prosa, em toda cidade, no estado e na região.
Pela precariedade dos meios de comunicação, com certeza não teve o destaque dispensado a seu Lunga de quem foi paradigma, mas nem por isso deixou de ser famoso.
Existiu sim e viveu em Patos, cidade do sertão da Paraíba, nos dois primeiros terços do século XX, uma figura popular tão ou mais impaciente do que seu Lunga e chamava-se seu Mandurí. Bruto e grosso igualmente a papel de enrolar pregos e não deixava jamais uma pergunta redundante sem uma pronta resposta.
Não encontrando registro escrito sobre essa figura folclórica da qual ouvia falar, me vali do depoimento do meu amigo de saudosa memória e ex-vereador da cidade de Campina Grande, Luiz Marinho da Silva, que era alem de tudo colega da Cagepa, na cidade de Patos, onde conheceu Mandurí.
Atestou com convicção a sua existência, e contou-me alguns episódios sobre seu humor, dos quais trago um para os leitores neste texto.
Segundo o que ele me informou, Manduri existiu sim e negociava em um ponto comercial no velho mercado público daquela cidade sertaneja, de frente para a mercearia de Inácio do Leão que ficava num ponto externo do mercado.
Na parede da casa de comércio de Inácio, foi pintado com muito zelo um belo leão adulto, cuja figura tinha similaridade com o nome do dono da mercearia e foi obra de Zezinho Pintor, o homem das estórias fantásticas, não muito afeito à verdade.
Seu Manduri que negociava com tudo que uma bodega do interior pode e deve ter, recebeu à época, das linhas corrente laranja de fabricação de uma multinacional inglesa, uma bela placa em neon com uma arte envolvendo tanto um novelo de linha como um carretel.
Um belo dia de sol daqueles da capital das espinharas, chega um freguês, hoje chamado modernamente de cliente e pede a seu Mandurí dois novelos de linha corrente, ao que ele respondeu pronta e educadamente que não tinha.
O freguês não se fez de rogado e provavelmente para “estimular” Mandurí insistiu umas duas vezes dizendo finalmente: “ mas a sua placa não tem o “retrato” de um carretel e um novelo de linha”?
Seu Mandurí irritado aponta para o Leão na Parede de Inácio e dispara: “tais vendo aquele leão? Pois vá perguntar a Inácio se ele vende leão!”
O freguês saiu sorrindo e nada mais perguntou. E precisava?
João Vicente