A amiga e conterrânea Cristina Almeida Couto tem dito que o sul do Ceará e o oeste da Paraíba se confundem em termos de relações, sejam elas comerciais, educacionais, sociais, econômicas, políticas e até mesmo afetivas.
Homens e mulheres do sul do Ceará, que escreveram a história da região, tiveram passagem pela Paraíba e vice versa. O exemplo maior foi o do Padre Cícero Romão Batista e do Coronel Gustavo Augusto Lima de Lavras da Mangabeira, que estudaram no famoso colégio do Padre Inácio Rolim, aquele apóstolo de Cajazeiras que ensinou a Paraíba a ler.
A família Almeida, à qual Cristina Couto pertence, é um exemplo prático do que afirmamos. Tem raízes em Portugal e após uma breve passagem por Pernambuco se estabeleceu na cidade de Sousa na Paraíba. Lá muitos deles nasceram, migrando posteriormente para o Ceará, mais precisamente para as nossas Lavras da Mangabeira,(sic) onde se realizaram e fizeram fortuna à época.
Luiz Dantas Quezado, paraibano da cidade de São João do Rio do Peixe na Paraíba, onde nasceu em 1850, viveu toda sua vida nos cariris novos, região do extremo sul do Ceará e, notabilizado como poeta consagrado terminou virando referência no livro Cantadores, de autoria de um cearense de nome Leonardo Mota, codinome Leota. Nascido em Pedra Branca no sertão central do estado em 1850 e falecido em Fortaleza em 1948.
Era multidisciplinar e foi: escritor, professor, advogado, promotor de justiça, secretário de estado, tabelião, jornalista, historiador e ainda arranjava horas vagas para a boemia, da qual era um amante. Admirador da verve poética de Luiz Dantas Quezado, um autodidata, o acolheu e ajudou em algumas publicações de sua autoria.
Quezado era conterrâneo de outro sanjoanense famoso de nome Joaquim Leandro Maciel, Francisco de Assis Brasil ou Joaquim Catanã, nomes que usava por vez e por conveniência.
Pela multiplicidade de nomes dá para perceber que Catanã escrevia com outro tipo de caneta, daquelas que cuspe fogo.
Era um temido pistoleiro que agia nos estados da Paraíba do Rio Grande do Norte e do Ceará, sendo incurso até numa tentativa de assassinato fracassada, da maior liderança política da região dos Inhamuns, Armando Arraes Feitosa, o manga rosa no dizer de Candido Lavor de Jucás, que era seu amigo, como também o era meu Irmão Machadinho, à época morador na cidade.
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Arquivo: Heitor Feitosa Macêdo |
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Catanã |
Luiz Dantas Quezado, inspirou outro Dantas, o Dr Zé Dantas, médico pernambucano nascido em Carnaíba no vale do pajeú, na gravação de Luiz Gonzaga de título Siri Jogando Bola.
Hoje nós trouxemos quatro estrofes de outro poema seu, glosando um mote recebido de um popular, que dá título ao texto de hoje:
“nem todo pau dá esteio”.
A interpretação do poema é de cada um de vocês e eu encerro afirmando que essa saga é longa e tem mais poesia e mais sangue do que se pensa, mas é tema para outro texto futuro. Quem sabe?
João Vicente
Nem todo pássaro voa,
Nem todo inseto é besouro,
Nem todo judeu é mouro,
Nem todo pau dá canoa;
Nem toda notícia é boa,
Nem tudo que eu vejo eu creio
Nem todos zelam o alheio,
Nem toda medida é reta,
Nem todo homem é poeta
Nem todo pau dá esteio.
Nem toda água é corrente,
Nem todo adoçado é mel,
Nem tudo que amarga é fel,
Nem todo dia é sol quente;
Nem todo cabra é valente,
Nem toda roda tem veio,
Nem todo matuto é feio,
Nem todo mato é floresta,
Nem todo bonito presta,
Nem todo pau dá esteio.
Nem todo pau dá resina,
Nem toda quentura é fogo,
Nem todo brinquedo é jogo,
Nem toda vaca é leiteira;
Nem toda moça é faceira,
Nem todo golpe é em cheio,
Nem todo livro eu leio,
Nem todo trilho é estrada
Nem toda gente me agrada,
Nem todo pau dá esteio.
(.,,)Nem todo lente é sabido,
Nem tudo que é branco é leite,
Nem todo óleo é azeite,
Nem todo rogo é ouvido;
Nem todo pleito é vencido,
Nem todos vão ao sorteio,
Nem todo sítio é recreio,
Nem toda massa é de trigo
Nem todo amigo é amigo
Nem todo pau dá esteio.
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Luiz Dantas Quezado e Leonardo Mota |
Referências:Almeida Aragão e Afins, Cristina Couto;
Cantadores, Leonardo Mota;Estorias &Histórias, Heitor Feitosa Macedo;
Fotografias:Grande parte da narrativa foi confidenciada a Heitor Feitosa pelo irmão mais velho de Chaga Valadão, José Francisco Valadão em entrevista cedida no ano de 2010.
Disponível em://www.meionorte.com/joséFortes/as -façanhas-do-pistoleirocatana-67956.html