Por: João Vicente Machado
Mao Tsé Tung quando se referia aos adversários da China revolucionária que decidira não mais subordinar o país aos ditames do capitalismo selvagem, tratava-os ironicamente mitos de pés de barro. Era uma pecha intencionalmente depreciativa que virou um clichê.
O Brasil teve grandes mitos tais como: Cesar Lattes, Celso Furtado, Miguel Arraes, Ariano Suassuna, Leonel Brizola, Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro, Oscar Niemayer e João Mangabeira, entre outros brasileiros ilustres e mitológicos que já se encantaram. Tem também a capacidade de produzir mitos de pés de barro e os produziu em certa abundância.
Passando em revista as noticias da semana, destaquei uma delas que circulou no correio brasiliense edição de 18/07/2020, sobre Newton Ishii, um nissei mais conhecido como a figura mitológica do “Japonês da Federal”, condenado por facilitação de contrabando na fronteira do Brasil com o Paraguai.
O “Japonês” ficou famoso pelas constantes aparições espetaculosas do Ministério Publico do Paraná que em conjunto com a Policia Federal, eram promovidas em nome da moralidade, tendo a justificativa simpática de combate a corrupção, um desejo colimado de todos.
Na busca de notoriedade posavam ao lado de presos notáveis a exemplo de Lula, que precisava ser inviabilizado eleitoralmente a qualquer custo. Ostensivamente paramentados com coletes à prova de bala, algemas pendentes na cintura, olhar penetrante e expressão facial rígida, conduziam os suspeitos com um ar triunfal de paladinos da moral.
Contra os acusados nenhuma citação, nenhum inquérito concluso ou quaisquer prova documental que os incriminassem, mas mesmo assim eram algemados indiferentemente ao grau de periculosidade de cada um, sendo conduzidos na companhia de um cortejo da imprensa oficial previamente avisada e das milícias virtuais que estranhamente sempre estavam presentes.
Diz ainda a matéria que o ”Japonês” perdeu o cargo, não se sabe se por demissão ou exoneração e além disso foi condenado a pagar multa de duzentos mil reais pelos ilícitos praticados, apurados e julgados no rito que não foi concedido às suas vítimas
Toda essa trupe da moralidade consagrou mitos, conjuntamente com o processo de mitificação de Sérgio Moro, Deltan Dalagnoll e o “Japonês”, idolatria que agora é jogada na vala comum da amoralidade.
Voltemos agora à questão dos mitos de pés de barro, tema central do nosso texto de hoje.
No Brasil de hoje basta o sujeito ganhar duas ou três provas de fórmula um para ouvirmos a histeria verbal de Galvão Bueno bradar: É fulano de tal do Braaaziiiiil! Pronto, estamos diante de um mito!
Se um jogador de futebol mediano fizer duas ou três partidas em que se destaque por firulas inúteis e a marcação de alguns gols, ouviremos a voz do narrador esportivo, usando o flamenguismo majoritário, se esganar: é craque! é craque! é craque! goooooolll de cicraaaaano! Pronto! surge mais um mito no futebol rivalizando com Zico, Maradona, Neymar, Cristiano Ronaldo ou Messi.
Se uma ou mais vedetes da bunda grande ensaiar dois ou três rebolados sensuais, é noticia em tudo que é imprensa e estamos diante de uma musa, de uma diva, de um mito!
Se o sujeito após sua expulsão do Exército se refugia na Câmara Federal, passa trinta anos como deputado, mal sabendo assinar o nome, sem nunca apresentar um projeto de lei consistente e útil, candidata-se a Presidente da Republica, simula uma facada para não dar entrevistas e não comparecer a nenhum debate, se elege Presidente da República. Pronto, estamos diante do maior mito de pés de barro de todos, o mito mor.
Aqui na Paraíba o exemplo dessa cúpula de mitos pegou e gerou mitinhos e possíveis candidatos a tanto que usam do mesmo expediente, da mesma estratégia e da mesma metodologia: prisões espetaculosas sem citação, imputação de culpabilidade sem provas documentais, cerceamento do direito ao contraditório, impossibilidade de vistas ao libelo acusatório, delações premiadas extraídas a fórceps de presos fragilizados emocionalmente, tudo isso combinado com a imprensa oficial que faz a cobertura do espetáculo ao vivo, além da milícia digital, composta por quatro ases e um coringa, que faz a sustentação diária da pantomima.
A descoberta do procedimento de Moro, Dalagnnoll, do “Japonês” e das milícias palacianas, revela a verdadeira face dos mitões, mitos e mitinhos de Brasília e das filiais espalhadas Brasil afora.
Ninguém defende impunidade e todos os crimes apurados devem ser levados a julgamento, doa a quem doer e os culpados devem ser levados às barras dos tribunais para julgamento e se culpados, punidos.
O que nos causa indignação é ver a prestação de justiça ser feita por mãos sujas como essas.
Referências: correio brasiliense; g1.com. br; UOL noticias.
Fotografias: esquerda marxista