![]() |
John Kenneth Galbraith |
Por: João Vicente Machado
John Kenneth Galbraith foi coautor, além de atuar como narrador de um seriado de televisão levado ao ar nas décadas de 1970/80. Vale a pena tanto assistir alguns capítulos do seriado disponível no Youtube, quanto ler o livro por quantos se interessem pela economia, que é a polia que move a história.
Economista, filósofo, diplomata, político, professor universitário, escritor e consultor, que fala da economia de forma simples inteligível e bem humorada, ao contrário do economês pernóstico dos Chicagos Boys como Paulo Guedes.
Nascido no Canadá em 1908 e falecido em Cambridge em 2006, sofreu forte influência de John Maynard Keynes e em menor intensidade de Karl Marx.
O seu denso currículo dispensa a necessidade de apresentações que venham justificar a possível ligação de Galbraith ao comunismo internacional.
![]() |
Jonh K. Galbraith |
Logo no inicio do seu famoso livro, o autor nos chama à atenção para a seguinte assertiva: “seria melhor não fecharmos os nossos olhos demais diante da ideia de interesses escusos. As pessoas têm uma tendência pertinaz de proteger seus bens, de justificar o que desejam possuir. E por isso sua tendência é de ver como certas as ideias que servem a esse propósito. As ideias podem ser superiores aos interesses escusos. Mas com muita frequência podem também ser produto de interesses escusos”.
O estado capitalista, da forma como é estruturado, tem abrigado sob seu teto e proteção, os mecanismos da exploração de classes onde interesses escusos fazem parte da prática econômica e a concentração de bens precisa de estímulos e proteção, em beneficio de uma classe dominante, amplamente minoritária e sem nenhum escrúpulo ou cerimônia na consecução dos seus objetivos, nada republicanos.
Quando Montesquieu propôs a separação dos poderes em executivo, legislativo e judiciário, o fez para retirar de uma mão única, toda força de mando que era a prática absolutista do século XVII e que ocorreu na França, Espanha e Portugal, apenas para citar os mais importantes.
Nessa época o andar de baixo começou a perceber com mais clareza a exploração e a não suportar mais o excesso de peso do andar de cima, ameaçando derrubar violentamente a torre da exploração que a esmagava. Foi providencial e mais fácil, ceder parte dos anéis para preservar os dedos, numa estratégia que seria incorporada à pratica capitalista dai por diante e usada repetitivamente pela burguesia a cada crise cíclica que eclodiria.
Esse era o cenário da Europa medieval que vem se modernizando, se camuflando e com nova maquiagem vem sendo usada até os dias atuais, onde os poderes tripartites idealizados por Montesquieu, exibem fraturas expostas e contradições irreconciliáveis escondidas pelo manto das instituições ditas democráticas.
Aqui no Brasil parece que tudo ocorre de forma apartada do contexto histórico. O escravismo, modelo econômico que vigoraria como hegemônico até o século V d.c foi reentronizado pela coroa portuguesa para turbinar a economia agrária reinante no Brasil colônia, de forma preconceituosa e cruel contra a raça negra que foi arrancada do continente africano, acompanhada de um preconceito racial torpe ainda hoje reinante.
A proposta de Montesquieu, juntamente com o iluminista Jean Jacques Rousseau, era um governo “único” composto por três poderes do “estado moderno,” organizado de forma tripartite e definidos como poderes independentes, a saber: Executivo, Legislativo e Judiciário, representados na ilustração da figura seguinte:
![]() |
Proposta de Montesquieu |
A rigor, essa divisão tripartite acomoda interesses conflitantes até o ponto em que eles sejam conciliáveis. Acomodam e harmonizam a superestrutura do estado capitalista, abrigando e apaziguando as suas contradições internas e administrando, a exploração à classe explorada, usando o convencimento através do aparelho ideológico ou em última instância a força, pelo poder coercitivo garantindo assim o domínio de classe.
No Brasil de hoje nós assistimos os conflitos internos entre os três poderes, onde o Executivo fustiga acintosamente o Legislativo e o Judiciário à procura de mais espaço. Todavia a conveniência de manutenção de um projeto devastador os obriga a se tolerarem como inimigos cordiais, esboçando reações anêmicas para inglês ver.
O desastrado governo Bolsonaro, a depender da decisão do establishment e da apatia e inércia popular, vai ser levado na maca, até o último dia do seu governo, enquanto o poder dominante “passa a boiada” que promove o desmonte final do estado, com a cumplicidade da pior composição parlamentar da historia da república, com o prejuízo propositado de um ou dois bois de piranhas!
Referências: A era da incerteza, John Kenett Graubrait.