Ode à poesia popular






Por: João Vicente Machado

    O Espaço da Cultura
    O texto de hoje faz referência ao mundo da viola, que é uma das manifestações culturais das mais antigas, foi republicado em homenagem a amiga e companheira Nézia Gomes que foi exonerada da direção do Espaço Cultural, que ela tão bem dirigiu por mais de cinco anos.

    Aquela casa de cultura anteriormente dirigida por Márcia Lucena e sequencialmente por Nézia Gomes, passou por uma recuperação de todos os seus espaços que estavam muito avariados e ato continuo escancarou as  suas portas para os agentes de cultura da região numa programação de fôlego que contemplava  todas as manifestações culturais. 
    A viola que pelo meu conhecimento não tinha vez dentro do espaço, entrou, se estabeleceu e semanalmente se apresentava através de violeiros diversos com mediação de um apologista e expert que me parece era Iponax Vilanova.

    Nézia manteve esse ritmo durante toda sua gestão e agora sai, mas sai consagrada pelos diversos movimentos culturais com o dever plenamente cumprido. 

Ode à Cultura Popular
    Embora a cantoria de viola tenha tido origem em Portugal, foi no nordeste do  Brasil que ela se desenvolveu, ganhou notoriedade e hoje é ouvida e apreciada  nos ambientes acadêmicos.

    Teixeira na Paraíba foi o seu segundo berço e num dos topos da serra da Borborema, um divisor de águas entre a Paraíba e Pernambuco, renasceu e foi embalada no colo duplamente materno de Teixeira na Paraíba e  e São José do Egito, no Pajeú das Flores, Pernambuco.

    Para não cometer injustiça não citarei todos os vates da região e escolho uma trindade de irmãos, os irmãos Batista para representar a todos os grandes violeiros da região, do Nordeste e do Brasil, com a licença de Pinto do Monteiro, a cascavel do repente, que os nominou e definiu muito bem:

  “Classificar os Batistas ?

   Eu posso perfeitamente
   Dimas é só mansidão,
   O seu verso é coerente,
   Otacílio é a toada e,
   Lourival é o repente.”
   “Louro,mais velho dos três,
   Poeta    e    naturalista,
   Na arte de repentista,
   Ninguém faz o que ele fez.
   Rimava com rapidez,
   Sem nunca perder o trilho,
   Sempre deu o maior brilho
   Para o verso improvisado,
   Por isso é considerado
   Como o rei do trocadilho.”

    Quando parou de cantar e fixou-se em São José o Egito, Lourival Batista, o Louro do Pajeú,  passou a ser um observador do cotidiano.

    Certa vez e num dia de feira, estava numa bodega de ponta de rua quando chega um jipe Toyota, daqueles compridos e adaptados naquela região, trazendo feirantes.  Entre os passageiros desembarcam um casal de cegos de nome Diogo e Chiquinha que foram implorar a clemência pública na cidade.

    O jipe teve um problema mecânico que foram consertar e Louro, que já fora em casa almoçar estava de volta, observa duas cenas: o jipe ainda no prego e os ceguinhos muito alegres com o efeito de uns aperitivos  que beberam. Louro não se conteve e disparou:


  “Meu Deus que sorte mesquinha
   Desse cego e dessa cega,
   Chegará aqui na bodega,
   Se meteram na branquinha.
   Diogo puxa Chiquinha,
   Chiquinha puxa Diogo,
   Fica assim naquele jogo,
   E o carro inda tá no prego,
   A cega puxando o cego e
   O Cego puxando fogo.

   Flagrantes do cotidiano regado ela versos só no nordeste tem!

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