Eu nunca falei a toa
Sou um cabôco rocêro,
Que sempre das coisa boa
Eu tive um certo tempero.
Não falo mal de ninguém,
Mas vejo que o mundo tem,
Gente que não sabe amá,
Não sabe fazê carinho,
Não qué bem a passarinho,
Não gosta dos animá.
Já eu sou bem deferente,
A coisa mió que eu acho
É num dia muito quente
Eu ia me sentá debaixo
De um copado juazêro,
prá escutá prazentêro
Os passarinho cantá,
Pois aquela poesia
Tem até a melodia
Dos anjo celestiá.
Não há frauta nem piston
Das banda ricas e granfina
Prá ser sonoroso e bom
Como o galo de campina,
Quando começa a cantá
Com sua voz naturá,
Onde a inocença se encerra,
Cantando na mesma hora
Que aparece a linda orora
Bejando o rosto da terra.
O sofreu e a patativa
Com o canaro e o campina
Tem canto que me cativa,
Tem musga que me domina,
E inda mais o sabiá,
Que tem premêro lugá.
É o chefe dos serestêro,
Passo nenhum lhe condena,
Ele é dos musgo da pena
O maió do mundo intêro.
Eu escuto aquilo tudo,
Com grande amô, com carinho,
Ma, as vez, fico sisudo,
Pruquê cronta os passarinho
Tem o gavião maldito,
Que, além de munto esquisito,
Como igual eu nunca vi,
Esse monstro miserave
É o assassino das ave
Que canta prá gente uvì.
Muntas vez, jogando o bote,
Mais pió do que a serpente,
leva dos ninho os fiote
Tão lindo e tão inocente.
Eu comparo o gavião
Com esses farso cristão,
Do instinto crué e feio,
Que sem liga gente pobre
Qué fazê papé de nobre
Chupando o suó alêio.
(…)
Quando eu era pequenino,
Saí um dia a vagá
Pelos mato sem destino,
Cheio de vida a iscutá
A mais subrime beleza
Das musga da natureza
E bem no pé d um serrote
Achei num pé de juá
Um ninho de sabiá
Com dois mimoso fiote.
(…)
Eu mesmo não sei dizê
O quanto eu tava contente
Não me cansava de vê
Aqueles dois inocente.
Quanto mais dia passava,
Mais bonito eles ficava,
Mais maió e mais sabido,
Pos não tava mais pelado,
Os seus corpinho rosado
Já tava tudo vestido.
Mais tudo na vida passa,
Amanheceu certo dia
O mundo todo sem graça,
Sem graça e sem poesia.
(…)
Na copa dos arvoredo,
Passarinho não cantava
Naquele dia bem cedo,
Somente a coâ mandava
Sua cantiga medonha.
A manhã tava tristonha
como casa de viúva,
Sem prazê, sem alegria
E de quando em vez caia
um sereninho de chuva.
(…)
Mas porém, eu satisfeito,
Sem com nada me importá,
Saí correndo aos pinote,
E fui repará os fiote
No ninho do sabiá.
(…)
Quage que eu dava um desmaio,
Naquele pé de juá
E lá da ponta da de um gaio,
Os dois véio sabiá
Mostrava no triste canto
Uma mistura de pranto,
Num tom penoso e funéro,
Parecendo mãe e pai,
Na hora que o fio vai,
Se interrá no cimitéro.
Assistindo aquela cena,
Eu juro pelo Evangéio
Como solucei com pena
Dos dois passarinho véio
E ajudando aquelas ave,
Nesse ato desagradave,
Chorei fora do comum;
Tão grande desgosto tive,
Que o meu coração sensive
Omentou seus baticum.
E eu com o maió respeito
E com a suspiração perra,
As mão posta sobre o peito
E os dois juêio na terra,
Com uma dó que consome,
Pedi logo em santo nome
Do nosso Deus Verdadeiro,
Que tudo ajuda e castiga:
Espingarda te preciga,
Gavião arruacêro!
(..)
Daquele dia azalado,
Quando eu sai animado
E andei bem meia légua
Prá beijá meus passarinho
E incrontei vazio o ninho!
Gavião fi duma égua!
Por: João Vicente Machado
Neste dia 05/06/2020 acontece a celebração do Dia Mundial do Meio Ambiente e eu, tendo exercido o meu oficio à frente do órgão estadual de meio ambiente do estado à frente da SUDEMA, não poderia deixar de saudar a todos os trabalhadores em meio ambiente da Paraíba e do Brasil.
A função dos que militam nesse segmento é uma das mais nobres que possamos imaginar e paradoxalmente uma das mais incompreendidas.
Ultimamente o meio ambiente tem assistido pasmo, a negação da sua importância e o desprestigio acintoso que lhe vem sendo dispensado pelo governo federal. O Brasil como signatário de tratados internacionais e detentor de uma riqueza ambiental incalculável, vem transgredindo a legislação para atender a interesses econômicos de empresários ávidos por lucro fácil.
Muitos imaginam que os trabalhadores em meio ambiente são entraves e inimigos do progresso e não percebem que são eles, de fato, os guardiões do futuro das próximas gerações.
O tema meio ambiente é de uma amplitude tal que não pode ser enquadrado num simples texto que o espaço impõe sucinto e nesse sentido tive de me conter e entregar a saudação à verve de Patativa do Assaré.
Já proferi várias palestras sobre o tema e participei de debates diversos, mas a minha intenção hoje é saudar a mãe natureza e seus dedicados zeladores que militam no dia a dia, me valendo do talento e a arte do mestre Patativa, que descreve uma orquestra natural.
Tenhamos paciência na certeza que nada é eterno e tudo isso vai passar como dizia o romancista José de Alencar:
“ Tudo passa sobre a terra!”