Por: João Vicente Machado
À medida que o final de semana se aproxima cresce a sensação de inquietude que vai se apossando das pessoas em função da imprevisibilidade de ações do governo Jair Bolsonaro, onde ninguém se entende.
A gravidade do momento exige respostas que o Estado no mais amplo sentido da palavra precisa dar e que não tem acontecido, principalmente o Estado nacional.
Estamos vivendo um momento difícil, talvez o mais difícil da nossa história, quer no aspecto sanitário, quer no aspecto político, quer no aspecto econômico. Para enfrentá-la é necessário um planejamento sério, com ações governamentais planejadas e muita capacidade de gestão.
No que concerne ao aspecto sanitário estamos no olho do furacão de uma pandemia, com números alarmantes de contaminados e mortos. Esses números nos coloca numa indesejável liderança de infectação mundial, sem unicidade de ações concretas e coordenadas entre as instâncias de governo que não se integram e sem um horizonte que nos permita enxergar a luz de saída do túnel em que fomos encerrados.
O governo federal, a quem compete a formulação e o estímulo de políticas públicas de saúde, além de não planejá-las e colocar em prática, tem contribuído para desagregar a unidade necessária alem de desclassificar e atrapalhar o esforço dos estados e municípios, que visam estancar o contágio e a propagação da covid19 no mais breve espaço de tempo para normalizar as atividades econômicas.
Em meio a tudo isso o pais assistiu a troca de dois ministros da saúde, num espaço de três meses, um deles com menos de um mês no cargo e a nomeação de um militar com competência questionável pra gerir um setor nevrálgico e preocupação de qualquer governante que tenha compromisso com a saúde do povo, que é o ministério da saúde.
Resultado: os hospitais estão à beira colapso por falta de leitos, as filas se multiplicam nos corredores, o número de leitos é insuficiente, faltam máscaras, respiradores, pessoal habilitado, etc.
Esse cenário torna público o sucateamento a que o SUS foi submetido e que vinha acontecendo com o fito de sufocá-lo e extingui-lo.
No campo político assistimos o agravamento nas relações com os demais poderes da república com o tensionamento provocado pela afronta e desrespeito à tripartição dos poderes propostas por Montesquieu a partir do século XVIII, como uma forma de por fim ao absolutismo reinante e materializar a democracia proposta pelos gregos, harmonizando a democracia e evitando conflitos.
O que temos assistido no governo Bolsonaro são provocações e ameaças intimidatórias às instituições em todas as esferas e até aquelas dentro do próprio governo. As pressões exercidas no trabalho da Polícia Federal sugerindo investigações seletivas de desafetos, o aparelhamento da Procuradoria Geral da República em beneficio às ações do poder executivo, os conflitos com o STF, com o STJ, com a Câmara Federal e o Senado da república, repetindo Luiz XIV na França que dizia: “ L´ état c` est moi”, ou seja, “o estado sou eu”.
Assistimos pela TV a fúria de Bolsonaro contra o Supremo, vociferando em tom ameaçador: “… a violação do direito à livre expressão não deve ser aceita passivamente, basta…” referindo-se a fragilidade de comportamento de aliados seus, numa ameaça velada à iniciativa do ministro Celso Mello.
Quanto à crise econômica, ela não surgiu agora é remanescente ao Covid19 sendo apenas agravada pela pandemia, podendo ser creditada à política econômica neoliberal ortodoxa aplicada por Paulo Guedes, um Chicago Boy banqueiro, que o estabilishment impôs como ministro da economia e que tem exercido o papel de guardião da integridade econômica dos reais donos do poder que são os banqueiros e os donos dos meios de produção.
Bolsonaro é assim, sempre foi assim, e verbalizou para quem tinha ouvidos para ouvir, mesmo sem falar, mesmo sem ir a debates, o que pretendia fazer, ou melhor, não fazer. Ele não enganou a ninguém, os que votaram nele é que se enganaram.
Estamos assistindo e acolhendo o retorno cabisbaixo de grande parte daqueles que hoje batem em retirada das fileiras bolsonarianas e se dizem arrependidos. Em alguns casos acreditamos até que a falta de informação os tenha levado a tanto.
A Hastag que vem sendo repetida de que somos 70% sugere a construção de uma frente ampla, suprapartidária para resistir a essa tempestade.
Ontem vimos uma matéria com o mega empresário Jorge Paulo Lemann, em que ele se mostra perplexo com os rumos da normalidade democrática do país e com os ataques às demais instâncias de poder e propõe exatamente isso, uma frente de resistência.
Outro a se pronunciar foi o ex Governador de São Paulo e apoiador da aventura Bolsonariana, Geraldo Alckmin. Ele se diz surpreso com o curso dos fatos políticos e alega não ter conhecimento do comportamento de Bolsonaro, insinuando ter sido enganado por ele.
Ora, Alckmin! Você foi deputado federal por várias legislaturas, conviveu com a fragilidade intelectual de Bolsonaro, observou seus rompantes e suas bravatas e agora alega que não o conhecia? Poupe-nos! Uma vez tucano sempre tucano!
Aguardemos!