Ataque ao Projeto Tamar

Por: João Vicente Machado
    A garantia da sustentabilidade tem sido uma preocupação mundial e o Brasil como signatário de diversos tratados internacionais, tem por obrigação proteger a vida animal e vegetal, e a transgressão a essa regra sujeita o país a sanções legais diversas. 

     Os estudos científicos mostraram que o futuro das gerações de seres vivos, tanto do reino animal como do reino vegetal, depende das ações preservacionistas adotadas no presente, que assegure a necessária sustentabilidade futura.

     Ações deletérias que venham impactar a água, o ar, o mar e a terra, passaram a merecer a atenção de todo mundo científico, com monitoramento permanente e mais do que isso, subordinando as ações aos tratados mundiais, às legislações nacional e estadual, cada vez mais atualizadas e a cada ano mais aprimoradas.

  A avidez desenfreada pela acumulação de capital e a obsessão por acúmulo de riqueza material a qualquer custo, mesmo sabendo que essa insensatez impactará o meio ambiente de forma irreversível, é no mínimo uma prática suicida.

O Brasil, além de ter a guarda da maior floresta equatorial do planeta, onde acumula a maior parte da maior reserva de água doce do mundo, possui um litoral com extensão de 7.367 km, que acrescido das reentrâncias e saliências litorâneas, poderá chegar aos 9.200 km.

Esse tesouro natural, bordado com uma franja de mata atlântica em mais da metade de toda sua extensão, tem sido também devastado e maltratado continuamente e é outro bioma a merecer todo nosso  cuidado.

O cancioneiro popular, referindo-se ao Brasil, o definiu como “um país abençoado por Deus e bonito por natureza”. Esse é um privilégio que nos foi legado pela mãe natureza, que nos confere posição de destaque, além de  enorme responsabilidade perante os nossos compatriotas, às gerações futuras e as demais nações do planeta terra.  Portanto temos a obrigação de assegurar a sua guarda e fazer cumprir uma apropriação racional dos seus recursos naturais, de forma muito responsável.

  Tomamos conhecimento de uma decisão inesperada do Ministro do Meio Ambiente do Governo Bolsonaro, Ricardo Salles, que anunciou a extinção de três bases costeiras do Projeto TAMAR administradas pelo instituto Chico Mendes, responsável entre outras coisas, pela preservação e conservação de Tartarugas Marinhas.

Camaçari na Bahia, Parnamirim no Rio Grande do Norte e Pirambu em Sergipe, são as bases citadas como extintas.
    O que se espera é que essa decisão unilateral, tomada à revelia dos especialistas, seja revista para que nenhum boi seja mais lançado às piranhas. Elas,  como seres vivos que são  e que fazem parte de uma cadeia alimentar, também terão a sobrevivência da espécie comprometida. 

    As bases retrocitadas fazem parte de um projeto conservacionista modelar do Brasil, que revolucionou o modo de luta pela preservação de espécies em extinção, com ótimos e animadores resultados, cuja origem remonta ao ano de 1980. 

    No começo foi restrito ao Atol das Rocas, mas hoje dispõe de 24 bases espalhadas ao longo da costa, sendo dezoito delas com funcionamento permanente e as seis restantes apenas no período da desova das tartarugas que  ocorre sempre no mesmo local,  numa prática que é transmitida instintivamente à posteridade da espécie.

    Além de tartarugas marinhas as referidas bases protegem tubarões e outras espécies ameaçadas, e desenvolvem um intensivo programa de educação ambiental, que em 35 anos de trabalho conseguiu devolver ao mar,  com segurança, mais de 2,5 milhões de filhotes de tartarugas.

    O ministro Ricardo Sales, segundo a imprensa, declarou textualmente:  “Precisa ter o esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de covid e ir passando a boiada, ir mudando todo regramento e simplificando normas, de IPHAN, de Ministério da Agricultura, Ministério do Meio Ambiente, ministério disso, ministério daquilo.”

    Ato contínuo à reunião veio a fatídica noticia que se espera não seja o primeiro dos bois de piranhas que ele ameaça lançar ao rio. 

    Desde que assumiu o Ministério esse cidadão tem demonstrado uma voracidade devastadora e uma identidade muito forte com: mineradoras relapsas, madeireiras, agropecuaristas e extrativistas de modo geral.

     Por outro lado tem tido uma imensa  má vontade que raia o preconceito, contra: o MST e a sua agricultura familiar, pequenos produtores, reservas indígenas, agrupamento quilombolas e todas as minorias da cadeia econômica. 

    O que finalmente esse governo tem contra a sustentabilidade? Será que não têm descendentes? Será que não entende que a vida no futuro depende de nós? Será que não sabe que a natureza não perdoa?  Será que não enxergou ainda que a vingança da natureza é impessoal implacável e inclemente? 

    O que será que eles têm contra a Amazônia, reserva abundante de água, para devastá-la impiedosamente?; O que terão contra a Mata Atlântica, exposta à sanha da especulação imobiliária?; O que terão contra a Caatinga que, desprestigiada assiste o esvaziamento do Instituto Nacional do semiárido, o INSA?; O que terão contra o Cerrado, a cada ano transformado em soja ou carvão para combustão da siderurgia?; O que terão contra o Pampa e o Pantanal; enfim, o que terão contra os diversos Biomas preciosos do Brasil? 

    A parte sensata da população  espera, o mundo espera e todos nós esperamos que esse processo de destruição contínuo em todos os nossos biomas seja estancado e os responsáveis julgados pela justiça, pelo povo e pela história.


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