Um presidente genocida?

Por: João Vicente Machado
    Confesso que tenho me esforçado para me abster de Bolsonaro, mas Bolsonaro não me tem permitido ignorá-lo, por mais que eu tente. 

    Todos os dias surgem uma ou mais tropelias que o reduzem ao histrião de uma ópera buffa e essa frequência vai relativizando os seus atos, até torná-los irrelevantes aos olhares dos seus discípulos fundamentalistas.

   Se assim me comporto com relação à Bolsonaro, não posso me comportar da mesma forma quando se trata do Presidente da República do meu país que coincidente e infelizmente é Bolsonaro! 

Sou um aficionado do rádio serviço como meio de comunicação ágil e é por preservar esse hábito que me acompanha  desde a infância, que  sempre tenho um aparelho de rádio  por perto me trazendo notícias,  raras  vezes agradáveis.

Ouvi na CBN e depois li na Folha de São Paulo, edição do dia 07/05/2020, a noticia de um corso teatral montado por Bolsonaro, o Presidente, que desfilou a pé pela praça dos três poderes, acompanhado de um séquito de empresários e do Ministro da Economia, o ecunomista Paulo Guedes que me parece fazer tempo que não lê para se atualizar.

   A caravana pedestre teve como propósito pressionar o Supremo Tribunal Federal-STF, pela reabertura da economia, indo na contramão do que diz a ciência nacional com o aval da OMS.  

O ato teatral foi considerado pelos integrantes daquela corte de justiça, como uma interferência indevida do palácio do planalto no poder judiciário, apesar de não ter recebido uma manifestação oficial de repúdio por parte daquela corte, à qual se atribui o papel de guardiã da constituição da república federativa do Brasil.


    Na minha avaliação o Presidente da República ultrapassou todos os limites da racionalidade em mais uma atitude inominada que assume o caráter da irresponsabilidade. 
    
    Causou-me espécie o fato de nem um ministro ou assessor ter argumentado ao Presidente que aquela ação era inconveniente e representaria  a interferência de um poder dito independente em outro. Não fizeram sequer a tentativa de tentar demovê-lo de tamanha imprudência. De duas uma: ou o seguem como cegos apegados aos cargos,  ou estão querendo fritá-lo.

    Mas as sandices não pararam por aí e foram além. Não satisfeito, correu para a galera e anunciou a realização de um churrasco que ofereceria neste sábado dia 09/05/2020 a um grupo de aficionados, na residência oficial que ocupa temporariamente. 

    O número de convivas que seria inicialmente de 30 pessoas, segundo informações  posteriores já estaria estimado em 1500. Aí, em mais uma lambança das tantas que tem aprontado, declarou que o que ele houvera afirmado antes era mentira. Sim, se era Fake News era mentira e seu uso tem sido uma prática constante nas ações do Presidente, desde a campanha eleitoral de cujo palanque ele ainda não desceu.

    Com relação à “visita” ao Supremo, a atitude do governo revela a intenção nítida de preservar a economia, em detrimento da vida da grande massa da população, cujo perfil econômico e social é mostrado esquematicamente nas pirâmides abaixo:


    Nas cores expressas na pirâmide acima, as cores marrom, vermelho e amarelo somadas, representam 82% da população. Desse extrato, 66% das famílias ganham até R$ 2.034,00, aí incluídos os desempregados e subempregados.

    A faixa verde claro e verde escuro somadas representam 13% da população e abrigam os intelectuais orgânicos do sistema, que pela meritocracia gerem os instrumentos de poder e os meios de produção.  Por fim, no topo da pirâmide, onde esta 1% da população poderemos localizar o endereço do séquito de empresários que acompanharam o corso da praça dos três  poderes para pressionar o STF. 

    São mais ou menos e apenas dois milhões de habitantes, o que corresponde às populações de Salvador e Aracajú somadas. Essa minoria esmagadora que não trabalha, impõe a duzentos  milhões de pessoas as suas regras e as suas vontades.

  A segunda pirâmide é reveladora da distribuição da riqueza nacional e a figura seguinte, com duas pirâmides justapostas e invertidas, mostra o contraste social cruel e revela  que 18,6% da elite,  concentra  63,9%  da  riqueza nacional enquanto 81,4%  detém  apenas 36,2% da mesma  riqueza. 


     Essa lógica perversa é sempre escondida e escamoteada dos explorados e alguns deles até se prestam como gendarme dos exploradores.

  Aí esta o motivo porque grupos econômicos e financeiros apoiam esse governo e impõem a vista grossa dos demais poderes, que têm se mantido alheio ou cúmplice dessa iniquidade.
     

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