Desci um dia ao tenebroso abismo,
Onde a dúvida ergueu altar profano;
Cansado de lutar no mundo insano,
Fraco que sou, volvi ao ceticismo.
Da Igreja – a Grande Mãe – o exorcismo
Terrível me feriu, e então sereno,
De joelhos aos pés do Nazareno
Baixo rezei, em fundo misticismo:
– Oh! Deus, eu creio em ti, mas me perdoa!
Se esta dúvida cruel qual me magoa
Me torna ínfimo, desgraçado réu.
Ah, entre o medo que o meu Ser aterra,
Não sei se viva pra morrer na terra,
Não sei se morra pra viver no Céu!
Por: João Vicente Machado
O ceticismo, incredulidade, desconfiança, descrença ou o que o valha, muitas vezes se apossa de nós e provoca um desalento contra o qual precisamos reunir forças para lutar.
Primeiramente deveremos compreender que nada, nada é eterno e, até a nossa vida terrena não é. Tudo tem princípio, meio e fim é isso por si só é reconfortante e alentador.
Estamos vivendo na atualidade, tempos que nos parecem muito sombrios e na verdade o são.
Contudo eu tenho sempre em mente a resposta sertaneja a algumas perguntas que por lá se faziam na minha infância: “Até onde o boi entra na mata?” a resposta era diversa como : “até onde lhe der vontade” e outras mais. Vem a resposta final e sábia: “ o boi entra na mata até a metade, porque daí em diante ele vai saindo!”
Ilustro esse pensamento com um soneto saído da genialidade de Augusto dos Anjos, onde ele fala do ceticismo religioso, e a “angústia de quem vive”, como diria Vinicius de Morais se referindo à morte.