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Sensibilidade, Escrita da Alma

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Por: Cristina Couto
As sociedades vivem em muitas épocas e deixam como herança para o futuro sinais através de escritos, retratos, objetos que acabam por decifrar os sentimentos que um dia moveram a vida dessas gerações fomentando valores e  virtudes e condenando vícios e pecados. Para compreender o passado se faz necessário pesquisar e analisar a história cultural da qual pertencemos, pois carregamos velhos hábitos e manias tão impregnados que nem mesmo percebemos, criamos mundos paralelos cheios de representações, de símbolos, signos e sinais colocados no lugar da realidade.

A sensibilidade como aventura da individualidade é capaz de captar as razões e os sentimentos que dão qualidade a realidade e a expressão das emoções que o ser humano foi capaz de dispensar a si próprio e ao mundo em cada momento da história. São esses sentimentos que acabaram se tornando um grande desafio na abordagem e mensuração para corrente historiográfica que trabalham com as representações dos homens através do tempo.

As sensibilidades expressam o conhecimento do mundo e vai além do conhecimento cientifico; tais sensações não brotam do racional e nem das construções mentais. A sensibilidade aparece no espaço anterior a reflexão, é o que brota do corpo,  uma reação, uma resposta a realidade.  É a sensibilidade que e se traduz em reações quase imediatas quando os sentimentos são afetados por fenômenos físicos ou psíquicos uma vez em contato com a realidade.

As sensibilidades são também manifestações do pensamento e do espirito, depois que a relação originaria é organizada, interpretada e traduzida, e depois transformadas em sentimentos e afetos. Seria uma segunda fase, ou seja, uma junção das experiências e das lembranças.

A relação do homem com a realidade é uma herança clássica definida por vários filósofos através dos tempos e dos espaços por eles vividos. Na Roma antiga, Lucrécio e Epicuro diziam ser a realidade apreendida pelos sentidos, na Grécia, Aristóteles e Platão diziam ser pela mente inaugurando a filosofia ocidental. E foi entre o materialismo de uns, a espiritualidade de outros que o mundo foi clareando, abrindo leques de hipóteses e possibilidades transmitidas pela capacidade humana de transpor, existir e criar imagens e conceitos sobre o mundo.

O corpo conhece através da sensação e a alma através dos sentimentos transformados pelas sensações. Sentir é conhecer, os olhos veem coisas visíveis, a inteligência forma conceitos. A alma vê com as sensações, os sentidos, ela sente e ver por meio do corpo que é também uma forma de conhecer.

O ser humano é ambíguo, a animalidade produz passividade, insensibilidade, enquanto o espirito inova, a subjetividade é o resultado dessa inovação.

Utilizando a teoria peirceana, a Semiótica Aplicada que lida com os conceitos, as ideias estudando os mecanismos de significação que se processam natural e  culturalmente e se manifestam nas pessoas em três etapas: primeiridade, segundidade e treceiridade, alicerces de sua teoria, levando em conta tudo que se oferece ao nosso conhecimento, exigindo de nós a constatação de sua existência, e tentando distinguir o pensamento do ato de pensar racional, ele diz  que toda experiência é percebida pela consciência nas etapas em questão: qualidade, relação (primeiridade); posteriormente substituída por Reação e representação (segundidade); trocada depois por Mediação (terceiridade), reproduzindo a experiência do vivido e a reconfiguração do sentimento.

Embora o passado encerre suas experiências de maneira singular de representação e percepção do mundo, os registros que ficam permitem ir além da escrita, das letras é só saber ler e interpretar, nas entrelinhas, nas lacunas, no silêncio, pois o vazio daquele papel se escondem segredos e histórias de um tempo que se escoou.

Quando li “Sensibilidades na história: memórias, singulares e identidades sociais”, organizado por Sandra Jatahy Pesavento e Frédérique Langue, automaticamente fui remetida a uma análise que fiz de duas canções de Chico Buarque para o meu próximo livro que nem sei se será mesmo próximo. Pronto está, mas está no prelo sem previsão de sair.

As canções em questão são: Todo Sentimento e Futuros Amantes que dei o nome de Todo Sentimento de uma estranha civilização ao capítulo a qual pertencia. As duas canções falam de tempo, uma no presente de forma urgente e a outra no futuro de forma paciente. O tempo nos dois casos vem definir o espaço e limitar a durabilidade do sentimento. Ele é responsável pela transformação desse sentimento e na fusão dos dois elementos (tempo e amor) há uma integração, depois, se entregam e com o tempo se desintegram.

O compositor nos fala de uma transformação, uma espécie de metamorfose do sentimento, um tempo sábio que refaz o que desfez. Dos sentimentos que depois de materializados nos espaços construídos, fala do real e do não real, do sabido e do desconhecido, das intuições, das invenções e da interpretação.  Depois tudo é remetido ao mundo do imaginário, do conjunto de significações construídas pelo mundo, é a realidade do sentimento, do vivido. Onde até os sonhos são realidades do sentimento. É a união do corpo e da alma. É a experiência sensível de outro tempo pelos rastros que deixou.

Na segunda canção o tempo em Futuros Amantes é o que sugere o próprio título (futuros), é para depois, sem pressa e sem expectativas. Ele fala da existência de cartas com eco de antigas palavras, de fotografias, poemas, mentiras e roupas que serão descobertas por pesquisadores e através do material saberá a quem e a qual civilização pertenceu, quais os costumes, o modo de vida, comportamento social, a escrita, a paisagem, modo de vestir e toda a cultura daquela estranha civilização.

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2 COMENTÁRIOS

  1. A sensibilidade e capacidade de elaborar é uma tônica nos escritos de Cristina Couto que para nosso orgulho se somo conosco nesse blog.
    A. Mim o orgulho é maior por ver na escritora aquela menina nascida no sítio volta lá na nossa Lavras da Mangabeira.
    Tenho certeza que ainda produziremos juntos muito mais informações para a nossa gente.

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