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Por: João Vicente Machado
As fotografias que ilustram o texto com certeza falarão muito mais alto do que a minha palavra escrita. No entanto, para uma melhor compreensão, é preciso contextualizar os fatos.
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Quando ouvimos falar de Campos de concentração, nos vem logo à mente: Auschwitz, Sachsenhausen, Treblinka etc, que eram Campos de concentração e extermínio usados pela Alemanha na II Guerra Mundial.
Todavia, não se assustem, mas o estado do Ceará teve seus campos de concentração em decorrência das secas, fato que a história oficial escamoteia. Como o extermínio pela fome era imperceptível e lento, passaram de certa forma desapercebidos para a maioria.
Os jornais O Povo e Diário do Nordeste trataram do assunto de forma jornalística e consequentemente superficial. Raquel de Queiroz, em sua obra prima O Quinze, revelou em maior profundidade o cenário da seca, com personagens e tudo, e denunciou um tema do qual o establishment sempre fugiu.
Falar de seca a um citadino “mestiço neurastênico do litoral“ que nunca a viu de perto, que nunca sentiu na pele, que não conhece “A sede, a poeira e o sol que desaba” é um exercício de paciência. Mas todo matuto como eu, que agora está lendo “essas mal traçadas linhas” sabe do que eu estou falando: sede, fome, miséria falta de políticas públicas e abandono.
Agora imagine um morador da “Fortaleza bela” como eles a chamam, hoje devidamente aldeotizado, burguês, “praticante e juramentado”, assistir o desembarque diário na estação do Otávio Bonfim de centenas de flagelados andrajosos, famintos, cujo raciocínio único era através do estômago vazio! Ele via uma ameaça terrível ao seu (deles) rico dinheirinho!
O instinto de classe os empurrou a todos para as portas do Palácio da Redenção, onde foram exigir providências do governo contra aquela ameaça. O governante de plantão, usando uma ”sabedoria salomônica”, criou os chamados Currais da Seca nas imediações da estação, sendo o mais famoso deles o do Alagadiço, hoje com nome de São Gerardo.
Ali lhes era ministrada uma ração de sobrevivência, casada com uma proibição terminante de entrar na cidade e enfeia-la com seus andrajos e maus odores.
Me faz lembrar uma música do cantor cearense Falcão, e que faz paródia com classe social que oprimia, e ainda oprime:
“ A burguesia fede, mas tem dinheiro pra comprar perfume”.