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Você sabe quem é Genival Cassiano?

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Por: Flávio Ramalho de Brito

    Nunca ouvi falar. Invariavelmente, se terá essa resposta.

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    Genival Cassiano dos Santos, atualmente com 76 anos, é um paraibano nascido em Campina Grande, único sobrevivente dos 19 filhos que teve D. Maria, sua mãe. Os outros, segundo ele, “morreram aos três meses de desidratação ou epidemia”. Embora algumas notas biográficas indiquem que Genival Cassiano tenha deixado Campina Grande aos seis anos de idade, declarações dadas à imprensa pelo próprio Cassiano informam que ele deixou a cidade na segunda metade dos anos 1950.

    Pela matéria publicada na Revista do Rádio, Cassiano havia integrado os quadros do Flamengo, tradicional time de futebol amador do Bairro de José Pinheiro. Seu pai era músico e passou para ele os rudimentos de violão, bandolim e percussão. Sobre Jackson do Pandeiro, quando morava em Campina Grande, afirma que “era amigo da nossa família e trabalhava para o meu pai, que fazia reformas. Me pegou muito no colo, dizem que uma vez eu dei uma urinada nele”.

    No Rio de Janeiro, trabalhou como ajudante de pedreiro, pintor de paredes e funcionário público, mas sempre pensando em viver de música. Teve a ideia de formar um trio vocal com um amigo e um meio irmão, que chamaram Bossa Trio. De apresentações em festinhas de bairro, passaram a cantar e tocar na noite, acrescentaram o baiano Hyldon, e mudaram o nome para Os Diagonais.

   Participavam de shows em boates, a exemplo de um com Zé Keti, e se apresentaram com Agostinho dos Santos no Festival Internacional da Canção, tudo sem grande sucesso. Um primeiro álbum lançado pelos Diagonais, com duas composições de Cassiano e uma seleção de músicas com apelo popular, não teve nenhum destaque. Cassiano tinha as suas primeiras músicas gravadas também por outros cantores, como Wilson Simonal, mas ainda sem acertar a mão.

    Pelo final dos anos 60, começava a se estender a influência da gravadora norte-americana Motown, que reunia um conjunto de artistas, quase exclusivamente negros, que revolucionou a música pop daqueles anos: Stevie Wonder, Marvin Gaye, Smokey Robinson, Otis Redding, Jackie Wilson, Mary Wells, os grupos Four Tops, Commodores, Temptations, Miracles, Jackson 5, e os “Girls Groups”, Supremes, Vandellas e Marvelettes. O som da Motown, que alcançou os primeiros discos dos Beatles, também chegou ao Brasil.

    Por essa época, Cassiano já impregnado da música soul e da black music norte-americanas encontrou um carioca da Tijuca que chegara dos Estados Unidos, onde passara cinco anos de estripulias tentando, sem sucesso, uma carreira musical como cantor. Gravaram, no final de 1969, um disco compacto. Nas palavras de Cassiano, “o disco ficou engavetado. Quem o descobriu, um compacto simples, foi o Nelson Mota. Ouviu em 69 e disse: nossa, é muito bom”. Lançado em 1970, uma das duas músicas do disco invadiu todas as rádios do país. Do vozeirão do cantor, “com os Diagonais arrepiando nos vocais como os Four Tops”, como disse Nelson Mota, saía: “Quando o inverno chegar, eu quero estar junto a ti […] É Primavera […]”. A canção Primavera, o compositor Cassiano e o intérprete Tim Maia entravam para a história da música brasileira.

    Naquele mesmo ano, Tim Maia gravava seu primeiro álbum. Cassiano participava do disco como guitarrista e vocais, e com três composições suas. Com o sucesso do disco, em entrevista dada ao Pasquim perguntado “Quem é o Cassiano?” Tim Maia respondeu: “O Cassiano pra mim, é um dos melhores compositores que existem no Brasil […] cantava num conjunto chamado Os Diagonais. Ele saiu desse conjunto e hoje em dia está em São Paulo, na Casa de Deus, uma casa que nós temos lá”. O entrevistador perguntou, o que é a Casa de Deus? Ao que Tim respondeu: “é uma casa que se chama assim porque lá não falta nada, sempre tem tudo – as coisas, as moças, as bebidas e todo resto”. As afinidades entre Tim e Cassiano, como se vê, não se limitavam somente ao aspecto musical. Outras “coisas” também entravam.

    A partir daí, Cassiano foi entronizado como o pai e figura mais importante da música soul brasileira e, para o crítico musical Tárik de Sousa, “entre os adeptos do soul Brasil o nome do paraibano (de Campina Grande) Genival Cassiano provoca frisson semelhante ao de João Gilberto para os adoradores da bossa nova”. De gênio assemelhado ao do seu amigo Tim Maia, os dois faziam o estilo “doidão”, o que fez com que a sua carreira fosse irregular, passando vários anos sem gravar discos. Apesar disso, Cassiano é um dos artistas mais cultuados no meio musical do Brasil, mas desconhecido do grande público, mesmo com continuadas gravações das suas músicas mais conhecidas, como Primavera, A Lua e Eu, Eu amo você e Coleção. A vitalidade da música de Cassiano é traduzida pela presença de seus discos, e até dos Diagonais, em plataformas streaming, como o Spotify.

    A Paraíba e, principalmente, a sua cidade natal, sempre o ignoraram.

  



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